Em momento de alta nos custos, decorrente dos aumentos dos impostos que entraram em vigor no ano passado, produtores de cachaça procuram alternativas para valorizar suas bebidas.
“O mercado reconhece e pede o selo”, afirma o presidente da Associação dos Produtores Artesanais da Cachaça de Salinas, Aldeir Xavier de Oliveira. Para ele, o reconhecimento e o aumento na procura são até maiores do que a alta do preço do produto certificado. “Aqui, temos até gente de outros países querendo a cachaça de Salinas”, afirma. No entanto, ele, que produz as marcas Sabiá e Flor de Salinas, lembra que não dá para só obter os certificados e deixar de lado a qualidade: “A cachaça tem de ser da boa mesmo”.
Fernando de Castro Furtado, que produz as cachaças Taruana e Kayana no distrito de Taruaçu em São João Nepomuceno, na Zona da Mata mineira, obteve a certificação do IMA há cerca de seis anos para a primeira marca. “Foi muito importante para conquistar fama e atestar a qualidade”, garante. Atualmente, sua produção média é de 30 mil litros anuais. E ele atesta que vende tudo, apesar de não estar na região de Salinas. “Agora, com a alta dos impostos, ficou mais difícil, porque tivemos que repassar o aumento. Ainda assim, não falta cliente”, afirma.
Leandro Dias, organizador do 1º Congresso Nacional da Cachaça (Concachaça) e um dos fundadores da Confraria Paulista da Cachaça, garante que a certificação é “extremamente importante”. Ele também produz a Middas, com flocos de ouro 23 quilates importado da Alemanha, em Dracena (SP), e acredita que os prêmios sejam outra forma de valorização. “Acabamos de conquistar a medalha de destilado do ano na China”, conta. Para ele, só o selo ou a indicação geográfica não são a prova da melhor qualidade. “Obter a certificação é algo básico, que dá a segurança para o consumidor e combate a informalidade. Mas é preciso mais.” O responsável pelo alambique sempre tem que ter o ambiente limpo, boas práticas, cana de qualidade, enfim, estar de olho em todo o processo.
EFICIÊNCIA O diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), Carlos Lima, observa que a certificação possibilita também a melhoria de gestão. E uma produção mais eficiente reflete diretamente na redução dos custos.
Segundo o superintendente de Interlocução e Agroindústria da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Milton Flávio Nunes, a busca pela certificação é uma iniciativa voluntária do empresário. E acaba que, em sua opinião, também representa uma segurança tanto para o dono do alambique quanto para seus clientes, principalmente dentro de um cenário em que a clandestinidade ainda é muito forte. Em Minas, há cerca de 800 alambiques legalizados.
Nunes lembra que os grandes provadores de bebidas buscam, acima de tudo, qualidade. E a exigência está mais refinada a cada dia. Para ele, os certificados já garantem uma chance de uma boa classificação para a cachaça. “E o cliente também paga mais. Há uma valorização e um caminho aberto para um público mais restrito”, diz. Apesar de sua observação, ele lembra que só o certificado não é suficiente para garantir que a cachaça tenha mais qualidade.
O número de ilegais em Minas pode ultrapassar os 20 mil, de acordo com especulações dos próprios empresários do setor. Xavier diz que os tributos já representam bem mais de 50% do valor da cachaça. Carlos Lima, do Ibrac, diz que podem passar de 80% do preço da garrafa. A alta só do Imposto sobre Produção Industrial (IPI) no ano passado foi de 160%. “E o efeito é em cascata”, observa. Por isso, pode alavancar o mercado informal. “Foi um convite à informalidade”, pondera Xavier. Apesar disso, Milton Nunes aposta ser possível inverter essa curva. “Temos a meta de legalizar o máximo de alambiques em Minas. Vamos visitar cerca de 300, em três anos, fazer auditorias que levam à notificação e termo de ajustamento de conduta (TAC)”, afirma. “O importante é a conscientização de que a legalização e a certificação são boas para o negócio”, reforça.
POTENCIAL O gerente de Certificação do IMA, Rogério Fernandes, conta que o sistema mineiro já conta com 66 alambiques e 136 marcas certificadas. O montante ainda é muito pequeno para um processo que teve início em 2008, mas tem grande potencial de crescimento. Ele diz que no país há 3.403 marcas de cachaça registradas, segundo o Mapa. Em Minas, as marcas somam 1.620.
“Para a certificação, só trabalhamos com os produtores registrados”, diz Fernandes. Ele explica que o processo é simples. Basta entrar no site do IMA (www.ima.mg.gov.br/certificacao/cachaca). Nele, há um check list de tudo que precisa ser feito para marcar a auditoria e obter a certificação. A taxa única de registro é de R$ 500 e mais R$ 300 das auditorias anuais. O selo, depois da aprovação de todo o processo, sai pelo custo de R$ 0,21 por garrafa. “É interessante, porque qualquer certificação privada sai por mais de R$ 5 mil”, observa Fernandes. E, segundo seus cálculos, é possível agregar, pelo menos, 20% no valor da bebida apenas com a obtenção do selo. “Isso sem contar com a melhoria do mercado e com a maior aceitação da marca.”
No site do IMA, também tem a relação com as marcas e alambiques certificados. “Qualquer um pode consultar, o que minimiza o risco de fraudes”, reforça Fernandes. Em sua opinião, o selo é sinônimo de confiança.
Pura e brasileira
Os governos do Brasil e do México concluíram em 22 de fevereiro o processo de negociação do Acordo para o Reconhecimento Mútuo da Cachaça e da Tequila como Indicações Geográficas e Produtos Distintivos do Brasil e do México. Enquanto a Tequila é protegida em mais de 46 países, incluindo a União Europeia, a cachaça está protegida em apenas dois (Estados Unidos e Colômbia). Com o reconhecimento, o México é o terceiro país a confirmar a bebida como um destilado exclusivo do Brasil.
Enquanto isso...
...etanol é mais uma opção
Milton Nunes, da Seapa, conta que o estado está desenvolvendo um programa de produção de etanol e cachaça. Isso para estimular a fabricação do álcool de cana-de-açúcar a partir dos subprodutos do alambique. A cabeça e a calda, que devem ser desprezadas, podem ser utilizadas no feitio do etanol. “Dessa forma, ganha o meio ambiente, que não recebe estes resíduos, e o consumidor, que também deixa de correr o risco de ter estes subprodutos de qualidade ruim misturados na cachaça boa”, explica. Segundo Nunes, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado (Emater-MG), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) são parceiros no desenvolvimento do programa. “O trabalho busca a forma legal para permitir o consumo do etanol artesanal”, conta o superintendente da Seapa.
.