Conhecida em Minas Gerais pelo doce tradicional produzido em tacho de cobre, a goiaba conquista espaços no mercado brasileiro de frutas processadas e nas exportações, mostrando que o seu sabor vai muito além da goiabada caseira. Em 12 anos, a produção da fruta no estado cresceu mais de 200%, ao subir de 4,9 mil toneladas em 2002 para 14,9 mil toneladas em 2014, gerando negócios de cerca de R$ 30 milhões por ano, segundo dados apurados pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa). Além do consumo in natura, destino da safra que começa agora, a iguaria atrai a atenção em diversas apresentações, da sobremesa ao lanche e à refeição, que vão desde biscoitos, passando por sucos até um exótico ketchup.
No mercado de sucos, a goiaba tem ganhado espaço ainda maior. É o que vem comprovando a marca Tial. Segundo o diretor de Operações da empresa, Rafael Araújo, até 2009, a marca processava a fruta para fazer o suco. Como o consumo tem crescido, a empresa decidiu comprar a polpa da fruta. “Isso também evita o transporte dela até a fábrica, pois selecionamos fornecedores que ficam próximos de onde o suco é fabricado”, conta Araújo. Até 2010, a bebida de goiaba era a quarta mais vendida, com participação de 9% no total de produtos comercializados pela empresa.
No Brasil, aiguaria é destinada aos mercados de Minas, Espírito Santo, interior e Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A companhia exporta para a Guiana Francesa, Estados Unidos e Japão.
“O suco de goiaba não é pesado. É uma bebida que refresca, por isso faz sucesso”, conclui. Confirmam o bom desempenho da fruta as vendas da rede de alimentação Néctar da Serra, de Belo Horizonte. A fruta disputa a preferência da clientela entre aproximadamente 100 tipos de bebidas, de limonadas até opções com frutos exóticos.
“O principal pedido com a goiaba é o que leva morango e laranja. Todo mundo adora”, comenta a coordenadora da loja instalado no Bairro Mangabeiras, na Zona Sul de BH, Rosana Oliveira. A fruta, que é comprada no entreposto da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) em Contagem, na Grande BH, segundo ela, não pode faltar no cardápio e envolve variações em sucos com leite e iogurte.
Na onda de grandes restaurantes, a goiaba está sendo servidapara acompanhar salgados. No Rio de Janeiro, por exemplo, a T.T Burguer criou o ketchup de goiaba para hambúrgueres. Hoje, 245ml do molho agridoce custam R$ 16 no local. A fruta foi acolhida, também, pela chamada culinária goumert em outros locais do país. Basta navegar na internet para encontrar a receita.
CUSTO ALTO NO CAMPO A estatística disponível até 2014, de acordo com a Seapa, indica 2013 como ápice da produção e colheita em Minas, quando foram registradas 17,7 mil toneladas da fruta. O Brasil colheu 349 mil toneladas na mesma época. Por causa da estiagem de 2014, a safra ficou prejudicada, porém, a expectativa é de que, no último ano, tenha havido retomada da produção.
O produtor Antônio Lopes Rodrigues já sentiu essa mudança. “Neste momento de plena safra, é ruim para nós, porque o preço cai uma vez que a oferta é demais”, diz. Há 10 anos no ramo, ele prefere atuar nos negócios depois de junho. Fora da safra, sete quilos de goiaba, produzida durante todo o ano, são vendidos a R$ 30.
Com uma área de 10 hectares, Rodrigues diz que, para a produção de goiabas, como qualquer fruta, é preciso saber lidar com o improviso. “No ano passado, de maio a janeiro não ganhamos dinheiro pelo excesso do fruto no mercado. Depois, por causa da falta de chuva”, conta. Nos bons momentos, ele chega a produzir 1,5 mil caixas de goiaba por dia. “O problema desse tipo de produção é o custo, que é alto para o preparo da terra e também embalagem. Quando estamos nessa época de safra, em que o preço da fruta cai, as despesas não diminuem.
Em 2015, foram ofertadas no Ceasa 1.091 toneladas da fruta no período de 1º de janeiro a 20 de março. Neste ano, no mesmo período, a oferta somou 1.155 toneladas. “É uma notícia boa para o consumidor, porque está indo na contramão do comportamento das outras frutas. Com uma oferta maior, o preço médio da fruta caiu de R$ 3,45 para R$ 3,03 em um ano, ou seja, uma queda de 12%”, diz. Ricardo lembra que o período de abril a junho é o de melhor colheita.
Força na lavoura
Os frutos da goiabeira são bagas com tamanho, forma e coloração de polpa variável. Eles têm um dos mais altos teores de vitamina C (ácido ascórbico), sendo superados apenas pelos da acerola. Nas mudas provenientes de sementes, a frutificação começa no segundo ou terceiro ano depois do plantio. Já nas mudas obtidas por propagação vegetativa (estaquia ou enxertia), a floração se inicia com sete ou oito meses de idade. Em geral, a primeira florada deve ser eliminada, pois não tem valor comercial, o que favorece a formação da copa e reduz o desgaste de plantas muito jovens.
Minas tem potencial para aumentar oferta
“A produção em Minas e no Brasil está crescendo. Para se ter uma ideia, vendemos em nossos sete pontos de venda espalhados no Brasil 150 mil quilos da fruta a cada três dias e por mês são 500 mil”, revela. A empresa atende tanto no atacado quanto no varejo. “A nossa empresa está há 30 anos no mercado e, agora, temos mais concorrentes. Mas é um mercado com muito a explorar”, comenta.
EXPORTAÇÂO Minas ocupa o quinto lugar na produção brasileira. Em primeiro está São Paulo, com 133,6 mil toneladas produzidas só em 2014. Entre os principais municípios produtores em Minas destacam-se Visconde do Rio Branco e Paula Cândido, na Zona da Mata; Jaíba, no Norte de Minas; Dom Bosco, no Noroeste de Minas; e Alfredo Vasconcelos, na Região Central. Ainda em 2014, Minas exportou 1,3 tonelada de goiaba para a Guiné Equatorial – principal importador da fruta mineira. A receita da exportação foi de US$ 3,5 mil. Os embarques do Brasil somaram 170 toneladas no período destinadas a 12 países, entre eles França, Espanha e Reino Unido..