Do fruto verde do café, então base da economia do município, partiu a inspiração para o nome Ouro Verde de Minas, no Vale do Mucuri, a 505 quilômetros da capital mineira. Com a decadência da cafeicultura, outro “ouro verde” tem garantido a renda de produtores rurais e se expandido pela região.
A pimenta-do-reino, que também dá frutos esverdeados em cachos, avança pelas propriedades da cidade e se apresenta como lucrativa fonte de renda. Em menos de dois anos de cultivo, 15 produtores entraram para o ramo e plantaram 30 mil mudas na localidade.
A alta lucratividade da pimenta-do-reino atraiu a atenção dos produtores rurais do município, que sofreu com a queda na produção do café e, mais recentemente, com o declínio da pecuária de corte e leiteira, causado pela crise hídrica dos últimos três anos. De 2014 para o ano passado, a valorização da especiaria ultrapassou os 100%. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), em 2014, o produto estava sendo comercializado a R$ 12, enquanto no ano seguinte o preço chegou a R$ 28.
Foi no Espírito Santo, estado vizinho a Minas e bem próximo do Vale do Mucuri, que o produtor rural Maelson Pereira Borges, de 27 anos, o precursor do plantio, teve a ideia de introduzir a cultura da pimenta-do-reino em Ouro Verde de Minas. Maelson estava trabalhando na colheita do café em uma fazenda capixaba, quando conheceu o cultivo da especiaria. “A pimenta pode ser plantada num pequeno espaço de terra e rende uma produção boa. O clima do Espírito Santo é o mesmo daqui”, reforça o produtor.
O investimento inicial de R$ 1 mil foi pago em mão-de-obra a fazendeiros em troca de madeiras nobres usadas para dar sustentação à planta, que é trepadeira. Como um pé de pimenta vive de 15 a 20 anos, as madeiras precisam ser de qualidade. Ele começou com um pimental de 350 mudas, plantadas em 2014. No ano seguinte, a produção já foi de 300 quilos, vendidos a R$ 28 no Espírito Santo.
“Este ano, vou colher o dobro”, afirma o produtor. No Sítio Silvestre, com a força de trabalho dele e do pai, Maelson já conseguiu garantir da pimenta a renda de um salário-mínimo por mês, num cultivo que não necessita de tanto manejo. O agricultor pretende expandir a produção para 1,2 mil pés.
A iniciativa de Maelson despertou o interesse de outros produtores do município e, de acordo com o técnico da Emater-MG em Ouro Verde de Minas, Ricali Abreu, já são pelo menos 15 os agricultores que começaram a plantar a especiaria. Por enquanto, houve colheita apenas na propriedade de Maelson, mas o técnico afirma que não faltará mercado para a produção do município. “A pimenta-do-reino é usada como tempero, como defensivo agrícola, xampu, cosmético, anticorrosivo, inseticida”, enumera. China e Estados Unidos se apresentam como mercados promissores para a exportação.
Segundo o técnico, a produção de um pé de pimenta-do-reino no primeiro ano é de um quilo. No segundo ano, a quantidade dobra. O pico é alcançado a partir do quarto ano, quando a planta chega a produzir cinco quilos. “Pimenta gosta de calor e sombra”, explica Ricali, que presta assessoria a produtores da região.
FEBRE O cultivo da pimenta-do-reino acabou incentivando produtores a investir em outras culturas. Maelson, por exemplo, aproveitou para plantar, além das hortaliças, maracujá e mandioca. O produtor rural Cícero Eller, de 46, foi mais longe e associou o cultivo da pimenta-do-reino com o de melancia. “Tudo que usa na melancia, usa na pimenta. A irrigação e os mesmos aditivos”, afirma Cícero, que começou com as duas culturas há quatro meses.
Embora ainda não tenha colhido, o que deve ocorrer nos próximos quatro meses, Cícero conta com a maior plantação de pimenta-do-reino do município. Em sua propriedade, ele tem 7 mil mudas do tempero e 12 mil covas de melancia. “A pimenta-do-reino virou uma febre aqui, porque é mais rentável e produz o ano inteiro. Muita gente que mexia com gado está querendo plantar pimenta”, afirma.
Antes no café e na pecuária leiteira, Cícero conseguiu mudar de ramo com a ajuda do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Ele pretende recuperar o investimento de R$ 200 mil em um ano. O produtor rural já pensa longe e conta que há intenção de formar uma cooperativa para fazer o beneficiamento da pimenta-do-reino no próprio município.
A intenção é agregar valor ao produto conseguindo preços ainda melhores e que justificam o apelido “ouro verde”. Para se ter uma ideia, na banca Central das Pimentas, no Mercado Central de Belo Horizonte, um quilo de pimenta-do-reino preta é vendida a R$ 80 o quilo. A pimenta-do-reino branca alcança os R$ 150, o quilo. “Compro o quilo da preta a R$ 42 e da branca a R$ 78. Subiu muito o preço de um ano para o outro”, conta o gerente da banca, Flávio Bessa, que vende cerca de 200 quilos de pimenta-do-reino preta por mês.
ESPECIARIA VALIOSA Originária da Índia, a pimenta-do-reino faz parte do rol de especiarias cobiçadas. Nos séculos XV e XVI, expedições marítimas europeias iam buscar a iguaria, também conhecida como pimenta-da-Índia na Ásia. Há registros que a pimenta-do-reino chegou a ser usada como moeda em Roma.
Apenas em 1933 o cultivo da planta trepadeira passou a ser feito no Brasil. As mudas chegaram com imigrantes europeus com destino ao Pará. A partir da década de 1950, houve grande incremento da cultura no país, expandindo-se principalmente para a Bahia e o Espírito Santo. Muito conhecida como tempero, a pimenta-do-reino (foto) é empregada também nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos
e na área de defensivos agrícolas, entre outros usos.