Bocaiuva – “Abelha fazendo mel... Vale o tempo que não voou”. A citação é da música “Amor de Índio”, imortalizada pelos mineiros Beto Guedes e Ronaldo Bastos, do Clube da Esquina. E vale mesmo. No Norte de Minas a apicultura eleva a renda de pequenos produtores no Norte de Minas, onde virou uma alternativa para a convivência com a seca, pois a produção é alcançada no período da estiagem. Mas as abelhas não dão lucros somente com a produção de mel e geram renda também quando estão voando. Numa ação inovadora no estado, os apicultores da região alugam as colmeias para produtores, que recorrem às abelhas para a polinização das lavouras e para aumentar a produtividade em plantações de abóbora, melancia e outras culturas.
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Banana-prata produzida no Norte de Minas é líder de vendas no mercado de frutasAgricultores investem na fruticultura para escapar da criseFrutas e cana-de-açúcar adoçam lucros de pequenos agricultores mineirosNo ano passado, junto com outro apicultor, Divânio alugou 30 colmeias para Samuel.
Samuel disse que conheceu o método da polinização com o uso das colmeias junto a produtores da Bahia. “Sem a presença das abelhas, as plantas não têm uma polinização adequada. Recorremos a instalação das colmeias para dar suporte à polinização. Com isso, conseguimos uma produtividade muito maior”, afirma o agricultor, salientando que colheu 40 toneladas por hectare no cultivo de melancia e 20 toneladas por hectare no plantio de abóbora. Ele ressalta que o uso dos enxames para acelerar a produtividade nas lavouras deve ser feito com cuidado. “É recomendável que as colmeias fiquem afastadas em torno de 30 metros a 50 metros dos plantios, em áreas com pouca movimentação de máquinas e de pessoas para se evitar riscos de ataques pelas abelhas”, afirma.
O agricultor Divânio Alencar Santos que tem cerca de 130 colmeias, disse que tem uma produção de tres toneladas por ano.
Ele divide o tempo entre o trabalho em um hotel de Bocaiuva e os afazeres no sítio da família, a 14 quilômetros da área urbana do município. “Mas, se tiver que optar, ficarei somente com a apicultura, que é uma coisa promissora”, diz Divânio. O pensamento é o mesmo de outros muitos agricultores da região.
Renda doce “Podemos dizer que a produção de mel, hoje, é a melhor alternativa de renda para os pequenos produtores do Norte de Minas”, afirma Luciano Fernandes, presidente da Cooperativa dos Apicultores de Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemap). A entidade reúne 167 apicultores associados em 18 municípios, que, juntos, deverão produzir 250 toneladas de mel neste ano, com a meta de alcançar 500 toneladas em 2017. “Mas, acreditamos que a produção de toda região – considerando os produtores não filiados à cooperativa – chega a 800 toneladas por ano”, assegura Fernandes.
Ele ressalta que a apicultura tem grande importância para os agricultores norte-mineiros pelo fato de a maior produção das abelhas ocorrer entre maio e setembro, no pico da seca.
Lucro com preservação
Uma das espécies do cerrado que favorecem a criação de abelhas no Norte do estado é a aroeira, cuja florada acontece entre os meses de junho e julho. A planta garante a produção de um mel de qualidade, com propriedades medicinais, que estão sendo testadas em pesquisas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A partir dos estudos, o “mel de aroeira” teve valor agregado no mercado. Na região também é produzido o mel de outras plantas do cerrado, como “cipó uva”, também conhecido como “timbó” e o assa-peixe, e da florada do eucalipto.
O presidente da Cooperativa dos Apicultores de Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemap), Luciano Fernandes, ressalta que apicultura também contribui para preservação ambiental. “Os produtores de mel são preservacionista, porque eles precisam manter as árvores. Desta forma, não desmatam e também protegem as nascentes. E sabemos que sem as nascentes não se consegue manter os rios, nem abastecer as áreas urbanas nem produzir alimentos”, lembra o apicultor.
Fernandes destaca que a categoria investe na melhoria da gestão do negócio e em ações para aumentar a comercialização, facilitar o acesso ao mercado e reduzir custos. Para isso, buscaram o suporte do Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa (Sebrae Minas), que oferece cursos de capacitação e organiza viagens técnicas para conhecerem a atividade em outras regiões. Também contam com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Emater-MG, Codedevaf e da Fundaçãoo Banco do Brasil.
A criação de abelhas ganha força em Bocaiuva com a organização dos produtores, que investem no associativismo e na busca de capacitação e apoio técnico.
Exportação Luciano Fernandes, que é tesoureiro da Apiboc, informa que os apicultores de Bocaiuva vendem o mel embalado em tambores (no “atacado”), enviados para São Paulo e Santa Catarina. De lá, o produto é exportado para os Estados Unidos e para a Europa. Está sendo construído um entreposto no município para a entrega do produto pelos produtores. Na semana, eles tiveram treinamento com o consultor Robson Raah, especialista na área.
Por outro lado, com a intenção de aumentar a comercialização – e os lucros, os apicultores também se prepararam para as vendas no varejo. Para isso, estão trabalhando no registro de uma marca própria para o mel da região. A embalagem para a venda direta ao consumidor terá rótulo em nome da Coopemap. “A expectativa é de que, com a criação da marca própria, venha a ser agregado valor ao produto, aumentando as vendas, afirma o analista técnico do Sebrae Walmathe Ferreira, que auxilia os apicultores de Bocaiuva..