A preocupação com a alimentação tem se tornado frequente para boa parte dos brasileiros. E a presença da carne branca, principalmente o peixe, vem se confirmando como boa escolha do consumidor. Na esteira dessa mudança de hábitos, a produção de tilápia se destaca e, sozinha, teve aumento de quase 10% no Brasil em 2015, de acordo com balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em setembro. Foram 219,33 mil toneladas, de um total de 483,24 mil toneladas de pescados em geral. No ranking nacional, Minas Gerais aparece na oitava posição, mas a riqueza hídrica do estado permite que essa colocação seja melhorada. Porém, os produtores reclamam de entraves, principalmente da falta de políticas de incentivo para o setor.
No mais recente levantamento de dados da Pesquisa Agropecuária Municipal, do IBGE, Minas contribuiu com 22 mil toneladas de peixes para a produção nacional. Avançar no ranking nacional é possível, na avaliação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), uma vez que potencial existe para que o estado chegue ao quarto lugar em 2016. “Minas é um estado com tudo favorável à produção de peixe.
Ainda sobre a tilápia, Ana Paula considera que o peixe tem condições de se destacar ainda mais no mercado produtor. Ela conta que a carne branca e pouca quantidade de espinhos fazem com que o consumidor se interesse pelo animal e até prefira consumir a espécie. Principal concorrente nos pontos de venda, a merluza briga também pelo consumidor com o apelo dessas mesmas características.
O manejo de tilápias se beneficia de outra tendência, que é mundial. “Pela primeira vez no mundo a produção de peixes superou a de bovinos”, destaca Ana Paula. Ela acrescenta que o produtor, ao optar pela espécie, não enfrenta muitas dificuldades para conseguir bons resultados. “Existe um pacote tecnológico, genético e de produção já bastante desenvolvido. Isso, além de logística com equipamentos frigoríficos planejados para a tilápia”, afirma.
Dados da Emater mostram que a maioria dos produtores dedicados à atividade são pequenos e médios.
Segundo Leonardo Romano, coordenador da câmara técnica setorial de aquicultura da Secretaria de Estado de Agricultura, a capacidade de suporte – quantidade de peixe por metro cúbico que não prejudique o ecossistema –, permite que sejam produzidas 150 toneladas por ano. “A produção de tilápia é uma atividade relativamente nova e precisa ser incentivada”, considera.
Exigências demais
A falta de crédito e as dificuldades para que o produtor consiga licenciamento da atividade, principalmente dos órgãos estaduais, são problemas que travam o aumento da produção e impedem que Minas assuma até mesmo a liderança da produção. Leonardo Romano classifica de pesadas demais as exigências ambientais. “É necessário que se tenha licença até da Marinha, por exemplo, porque o produtor pode estar usando uma área navegável. Além das licenças federais, estaduais e municipais.”, afirma.
Romano cita que até levantamento arqueológico é exigido para se conseguir a licença ambiental. A diretora de aquacultura da Secretaria de Agricultura, Ana Carolina Euler, concorda com Romano e aponta esse aspecto como o principal desafio. “O que segura o crescimento é o licenciamento ambiental.
A intenção dos produtores agora é batalhar para que os procedimentos sejam simplificados e, assim, terem acesso a linhas de crédito e financiar os investimentos. Com isso, poderiam dar impulso à produção. “A gente está igual um jogador aquecido na beira do campo prontinho para entrar”, disse Romano.
O aumento da produção que vem ocorrendo nos últimos anos, mesmo com as dificuldades no licenciamento e a inexistência de uma portaria que regulamente o setor, não tem sido suficiente para atender ao consumo da população. O país importa, atualmente, cerca de 400 mil toneladas de pescado por ano para conseguir suprir a demanda, segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que cada pessoa coma 12 quilos de peixe por ano. Entretanto, o consumo brasileiro per capita anual é de apenas nove quilos.
Quem se dedica à atividade também está sofrendo com as incertezas econômicas. “A gente vinha numa onda crescente de produção, mas o preço do peixe caiu muito na região”, conta Neilson Teodoro, da associação de piscicultores do parque de aquicultura Guapé 1, na cidade mineira de mesmo nome, no Sul do estado.
O produtor revela que a margem de lucro também caiu. Entre os vilões do custo nos criatórios está o preço de insumos, como a ração. O preço do saco com 25kg subiu de R$ 32 para cerca de R$ 45, de acordo com Neilson.
Saúde
O peixe é rico em vitaminas, minerais, sódio, potássio, ferro, magnésio e cálcio, e é fonte de vitaminas do complexo B. O consumo regular age no controle da pressão arterial, colabora com a coagulação do sangue e auxilia na proteção da pele contra os raios UV, recomendam os nutricionistas. A CNA observa que o aumento do consumo de pescado é positivo também para a melhoria da saúde da população: ele é rico em proteínas de alto valor nutritivo, tem menos gordura e menos calorias, entre outras vantagens..