A meta é ambiciosa: tornar-se um estado autossuficiente na produção de trigo para atender à atual demanda de 1 milhão de toneladas do grão do estado de Minas já na próxima década. Mas os resultados atuais do Programa Contrigo – resultado de uma parceria entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – indicam que a meta é viável. Desde o início das pesquisas, em 2005, a produção de trigo em terras mineiras saltou de 20 mil toneladas para 245 mil toneladas, em pouco mais de 10 anos. Um crescimento de 1.125%, resultado de pesquisas para melhoramento de cultivares para as características dos solos de Minas e ainda o incentivo aos agricultores.
O pesquisador Maurício Coelho, do Campo Experimental de Sertãozinho da Epamig, em Patos de Minas, Região do Alto Paranaíba, diz que o processo, no entanto, é de longo prazo. “Já tivemos um avanço significativo, mas ainda está longe do nosso consumo. Produzimos apenas 25% da necessidade de nosso estado”, afirma. Ele explica que o objetivo do Programa Contrigo é desenvolver cultivares (espécies de plantas que foram melhoradas devido à alteração ou introdução, pelo homem, de uma característica que antes não tinham) adaptadas ao solo mineiro e ainda informar os produtores. Hoje, diz Coelho, o cultivo já ocorre em várias regiões do estado com maior concentração no Sul, Noroeste, Alto Paranaíba, e Campo das Vertentes.
Uma década depois do Contrigo, o estado de Minas Gerais já consegue figurar entre os cinco estados do país com maior produção do grão.
Apesar da grande diferença de produção, Eduardo Abrahim atesta a importância das pesquisas em Minas. Ele, pioneiro no programa, diz que as modificações das cultivares são responsáveis pelo aumento significativo da colheita e ressalta também a importância da aproximação com a indústria que o Contrigo trouxe. “Trabalhando em conjunto com a indústria, ela diz o que quer para produzir pão, macarrão ou biscoito, por exemplo, e o produtor se empenha em atender à necessidade. A segregação – venda por variedade de trigo para a moagem – aumenta a liquidez na venda pelo produtor”, conta.
Abrahim cita como exemplo de boa aceitação pela indústria a semente BRS264, que foi desenvolvida pela Embrapa, que responde por 80% do mercado em Minas, apesar de existirem entre cinco e seis outras variedades. “Hoje, os moinhos fazem testes de qualidade nos grãos, atestam a qualidade e fazem comunicados informando qual variedade querem”, afirma.
A Associação dos Triticultores de Minas, diante do aumento de produção, já tem plano ambiciosos para o futuro também. De acordo com Abrahim, caso o cultivo continue crescendo no estado, o objetivo é buscar uma certificação, como é verificado hoje com o café. “A produção da região teria, por exemplo, um selo com os dizeres: Trigo do Cerrado. Mas, por enquanto, isso é apenas um desejo”, ressalta.
ETAPAS
A dificuldade para desenvolver novas cultivares, explica o pesquisador Maurício Coelho, está também no campo burocrático, o que termina exigindo entre oito e 10 anos até a liberação. “Uma nova cultivar, para ser lançada, exige registro no Ministério da Agricultura e comprovação da eficiência da pesquisa, o que pode demorar até uma década. Entre as diversas etapas, temos que selecionar milhares de materiais, testar por quatro ou cinco anos, especificar a qualidade e a aptidão e informar suas características para quem vai comprar as sementes”, explica. “Diversas linhagens estão sendo avaliadas nas fases finais do desenvolvimento de novas cultivares, pela Epamig e pela Embrapa, visando maior tolerância à seca e à brusone”, reforça Coelho.
PESQUISA EM CAMPO
O Campo Experimental de Sertãozinho (Fest) está localizado a 401 quilômetros da capital, no município de Patos de Minas, e tem área de 795 hectares. Foi inaugurado em 1940 como Posto de Multiplicação de Sementes de Trigo, criado por meio de lei federal pelo Ministério da Agricultura, em cumprimento ao programa governamental de fomento da triticultura nacional, aprovado em 1939.