O gerente de Produto Corte Europeu da empresa ABS Pecplan disse que a importação foi feita quatro meses depois de ter caído a barreira sanitária imposta pelo Ministério da Agricultura, em razão da doença da vaca louca. No entanto, até que o processo se concretizasse foram necessários mais seis meses. A importação de touros, segundo Selistre, já foi feita pela empresa ainda nos idos dos anos 2000, pela central da cidade de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul, e apesar dos bons resultados, foi encerrada em 2006 em razão da proibição de importação de animais vivos pelo Brasil.
Agora, os animais foram levados para a central em Uberaba, Triângulo Mineiro, onde estão em sua terceira quarentena.
ADAPTAÇÃO Segundo Marcelo Selistre, agora, a expectativa é maior em razão do clima da região, muito diferente dos EUA, responsável pela exportação de 70% da genética da raça angus em todo o mundo. “A possibilidade de importação de animais vivo nos protege da uma possível altar do dólar, que já esteve na casa dos R$ 4,20”, afirma. O diretor diz que uma dose de sêmen hoje tem custo que varia entre R$ 15 e R$ 14, o que equivale a US$ 4,4. Cada touro, no entanto, é capaz de produzir entre 50 mil a 100 mil doses de sêmen anualmente, o que pode gerar uma produção anual no Brasil, de US$ 400 mil.
Esta primeira fase do empreendimento está muito longe de atender a necessidade do mercado nacional, que consome 4,2 milhões de doses anualmente. Mas, segundo Marcelo Selistre, a importação de novos exemplares já está no horizonte da ABS. O diretor não quis comentar sobre o custo total da importação e da logística para que fosse viabilizada a vinda dos touros, mas garante que, a longo prazo, o investimento vai compensar pela redução do investimento na compra do sêmen importado. “Além do alto custo da genética, o produtor tem que investir ainda em hormônio e veterinário, o que aumenta ainda mais as despesas”, lembra.
PRODUÇÃO Mesmo já em solo brasileiro, até que os touros comecem a produzir, é um longo caminho. Segundo o gerente de Produção da ABS Pecplan, Fernando Vilela, as primeiras doses só devem ser produzidas entre março e abril do próximo ano. Fernando Vilela explica que antes de embarcarem para o Brasil, os touros foram submetidos a uma série de exames de saúde, para afastar a possibilidade de brucelose e tricomonose. Os testes foram repetidos três vezes e os exemplares ainda ficaram em quarentena. Depois, os touros – que têm peso que varia entre 550 e 700 quilos –, foram embarcados em um avião adaptado, sendo que cada um deles foi alocado em uma caixa diferente. O voo até o Brasil durou mais de 15 horas.
No país, eles passaram por uma pré-quarentena até serem levados à central da ABS em Uberlândia, onde também permanecem isolados. Em razão disso, apenas a partir de janeiro é possível se falar em início da produção. Vilela lembra que os animais americanos não tiveram contato com parasitas como carrapatos, transmissores da babesiose e da anaplasmose e, portanto, o cuidado é redobrado. “Para garantir uma boa produção no futuro, os animais estão alojados em grandes baias, com aspersão de água e temperatura controlada – menos cinco graus que a temperatura ambiente – para evitar que estranhem o clima”, explica o gerente.
Apesar da longa viagem, Fernando Vilela garante que os animais estão em bom estado. “Estão muito bem. Mas, ainda sim, durante essa fase de adaptação a resistência cai muito. Então, temos que ter muito cuidado para garantir a saúde deles para que, no ano que vem, possamos corresponder a toda expectativa do mercado”, comenta o médico veterinário. A partir do próximo ano, as visitas aos touros também serão liberadas, oportunidade para que criadores de todo o país conhecerem de perto a genética americana original.
VALOR O criador Carlos Alberto Andrade Jurgielewicz, o Nano, administrador da Fazenda Serrinha, em Amambai (MS), aprova a iniciativa de importação de animais vivos. Parceiro do projeto da ABS há cinco anos, ele diz que a produção nacional de sêmen faz com que o produtor “ganhe tempo e baixe o custo”.
Carlos Alberto conta que o mercado nacional busca é o boi 777, que significa sete arrobas no desmame, sete arrobas na recria e sete arrobas na terminação. Com o cruzamento da raça angus com a nelore é possível conseguir o resultado ainda melhor com oito arrobas já no desmame. “Quando iniciei essa experiência não tinha ideia dos resultados e me surpreendi porque ganhei 30% a mais com a venda de cada bezerro”, atesta Nano.