Feito tradicionalmente com o uso de agrotóxicos, o cultivo de morango – planta de baixa resistência a ataques de pragas e doenças –, ganha destaque em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, com sistema de plantio inovador. Numa pequena propriedade da região do Pentáurea, o agricultor João Simael Ferreira da Silva desenvolve sua lavoura de morangos sem a aplicação de defensivos. Outro aspecto que chama a atenção é que a espécie, em geral, adaptada a baixas temperaturas tem mostrado bons resultados em meio ao clima quente na maior parte do ano da região de Montes Claros, a conhecida terra do pequi.
O agricultor norte-mineiro começou a plantar morangos quatro anos atrás de forma experimental, sem usar agrotóxicos, e obteve sucesso nas colheitas. Simael, que recebe o apoio técnico da Empresa de Assistência técnica e Extensão Rural (Emater-MG), revela que a propriedade dele, distante 25 quilômetros de Montes Claros, às margens da BR-135, sentido Bocaiuva, passou até a receber visitantes, motivados pela curiosidade de conhecer como é feito o plantio do morango orgânico, e o desejo de degustar a fruta. Na mesma região, outros pequenos agricultores demonstram interesse pela cultura.
O extensionista da Emater-MG José Carlos Dias Santos, que dá suporte técnico a Simael, salienta que a meta é aproveitar os resultados do experimento para estimular outros agricultores do Norte do estado a plantar morango. “O objetivo é criar nova alternativa de produção para o pequeno produtor”, observa o técnico.
José Carlos lembra que a propriedade de Simael está situada numa área de microclima de altitude mais elevada (1.030
metros), que favorece o cultivo do morango. Por outro lado, ele não pode desconsiderar o fato de que o agricultor realiza o experimento no Norte do estado, onde predominam temperaturas muito mais elevadas do que outras regiões onde ela prospera, como o Sul de Minas, o Rio Grande do Sul e países da Europa, de clima frio.
No Norte de Minas, a combinação de altas temperaturas e poucas chuvas pode favorecer a cultura conduzida sem a aplicação de agrotóxicos, na avaliação de Dias Santos. “O excesso de umidade, conciliada com temperaturas muito baixas pode favorecer as doenças e o aparecimento de pragas”, observa o técnico da Emater-MG.
Ele lembra que a diversificação é importante na atividade agrícola. Porém, antes de iniciar um novo cultivo, o agricultor deve procurar se informar sobre a planta. “Um dos problemas enfrentados é que, muitas vezes, os produtores não conseguem se adequar às novas tecnologias. O agricultor deve ter cautela, e aprender as técnicas recomendadas para aplicar os cuidados necessários à planta. Só assim, ele vai conseguir fazer o cultivo livre de venenos”, orienta José Carlos.
Simael diz que se interessou pela plantação ao ver os resultados positivos das lavouras de Datas, município próximo de Diamantina, porta de entrada do Vale do Jequitinhonha, onde adquiriu 500 mudas. A região produtora concilia o clima temperado e a altitude elevada da Serra do Espinhaço. Depois, ele adquiriu também mudas de uma variedade de morango cultivada na Patagônia, na Argentina.
Ele conta que no início, devido à “falta de experiência”, “quebrou cabeça” e teve “alguns probleminhas”. Contudo, ele não desanimou. Percebeu que o negócio era viável e, no ano passado, decidiu investir na cultura do morango, visando ao retorno comercial. Simael plantou 5 mil mudas numa área de 1 mil metros quadrados e, mesmo com um ataque de formigas, colheu cerca de 2 toneladas.
Neste ano, o agricultor plantou 6 mil mudas de morango numa área de 1,5 metros quadrados e colheu 4 toneladas. Satisfeito com os resultados e de olho nos lucros, ele anuncia que em 2017n vai investir de vez no negócio. “Pretendo plantar cerca de 25 mil a 30 mil mudas de morango numa área de 7,5 mi metros quadrados. A minha expectativa é de colher pelo menos 20 toneladas”, informa o agricultor. O plantio será feito a partir de março, mas, precavido, ele revela que encomendou grande parte das mudas junto a um fornecedor de Datas.
ÁREA ABERTA Simael fez o cultivo de morango em área aberta, usando o sistema de irrigação por gotejamento. Para os próximos plantios, ele pretende melhorar sua estrutura e adotar o plantio no sistema fechado, dentro de estufas, como ocorre nas regiões frias. Como é possivel plantar morango sem usar agrotóxico? “A minha propriedade é livre de doenças. No caso de ataques de pragas, existem os predadores naturais, como a joaninha, que come os pulgões”, responde Simael.
“Se a gente usar o inseticida, pode até ser que a cultura sofra algum prejuízo, mas o fato de ser livre de agrotóxico agrega mais valor ao produto e as vendas aumentam”, afirma o agricultor, que comercializa sua produção na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte), em Montes Claros.
A propriedade virou ponto turístico, comemora o agricultor, entusiasmado com a novidade. São 40 hectares, onde Simael mantém plantações de chuchu, abóbora e outras lavouras no modelo tradicional, com a aplicação de agrotóxicos e adubo químico. Por outro lado, o agricultor ressalta que recorre ao adubo natural (esterco bovino e de aves) e que, além do morango, adota o sistema orgânico na produção de outras frutas como mexerica poncã, manga e banana. “Acredito que temos que cuidar do meio ambiente e eliminar os agrotóxicos, que contaminam os alimentos”, observa o sitiante, que iniciou plantio experimental de roseiras, também livre de inseticidas.
O produtor luta, há algum tempo, para construir uma pequena barragem, visando reforçar as nascentes do Rio Lamberto, próximas do seu imóvel, mas enfrenta a burocracia. A região do Pentáurea/Planalto, onde fica a plantação de morango orgânico de Simael Ferreira, é conhecida pela grande produção de abacaxi. “Daqui saiam semanalmente caminhões e mais caminhões carregados de abacaxi. A produção era muito grande. Porém, há uns 15 anos, veio uma praga e acabou com tudo”, relata Simael.