Imagine uma fazenda na Avenida do Contorno, área central de Belo Horizonte, com produção de mais de 50 mil pés de alface por mês, além de rúcula, agrião e ervas em geral, tudo sem aplicação de agrotóxicos. Imagine que esse espaço, em meio a prédios, carros e toda a agitação de uma capital, conte com um criatório de tilápias. Pense na possibilidade de que qualquer pessoa possa ir até lá e comprar hortaliças e peixes, diretamente da lavoura e dos tanques para a mesa de casa. Agora, pare de imaginar, porque esse lugar vai fazer parte da rotina da cidade em breve. Será inaugurada em BH no mês que vem a primeira fazenda urbana comercial da América Latina, no Boulevard Shopping, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da cidade.
O empreendimento é fruto de parceria entre o centro de compras e a startup BeGreen, que produz hortaliças orgânicas em Betim, na Região Metropolitana da capital. A fazenda urbana está sendo instalada num terreno de 2,7 mil metros quadrados anexo ao Boulevard, por onde passam, todo mês, cerca de 1 milhão de pessoas. Até então, a área vinha sendo usada para abrigar atrações como circo e exposições. Só a estufa ocupará 1,5 mil metros quadrados, com capacidade de produção mensal de 50 mil pés de alface.
“A fazenda urbana segue o conceito de que a produção ocorra no centro da cidade e o consumo, num raio de 10 quilômetros”, explica um dos idealizadores do projeto, Giuliano Bittencourt, sócio da BeGreen, ao lado de Pedro Graziano.
De acordo com levantamento divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2015, entre 40% e 50% da produção agrícola são desperdiçados nas etapas de produção, pós-colheita, armazenamento e transporte. Só o desperdício no Brasil poderia matar a fome de 11 milhões de pessoas, segundo a FAO.
O novo espaço na capital mineira também abrigará a Casa Horta, construção onde serão vendidos os produtos cultivados no local e oferecidos itens entregues por produtores locais, e uma unidade do restaurante Casa Amora, que funcionará no conceito farm to table (da fazenda para a mesa). O estabelecimento vai servir refeições preparadas com as hortaliças da fazenda urbana. Na estrutura, que contempla palco e espaço de convivência, serão realizados eventos, palestras relacionados à vida saudável e sustentabilidade e o empreendimento será aberto à visitação de estudantes. A expectativa é de atender 1 milhão de pessoas por ano.
ALFACE A ideia de criar uma fazenda urbana surgiu depois de Giuliano Bittencourt ter visitado, em 2014, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. A universidade conta com laboratórios de fazendas urbanas. De volta ao Brasil, o administrador público fundou com o administrador de empresas Pedro Graziano a Be Green. Junto de uma equipe de engenheiros agrícolas e técnicos da área, eles iniciaram a produção de alface baby numa propriedade em Betim.
O sonho de vir para a capital e montar a fazenda urbana se tornou realidade por meio da parceria com o Boulevard, que vem sendo costurada há seis meses. A gestão da Be Green Boulevard será toda da startup, que não revela o valor do investimento. A técnica usada na produção será a aquaponia, que integra a produção de peixes e hortaliças. Nesse modelo, a água usada na criação das tilápias será reaproveitada no plantio dos vegetais.
Ainda por meio dessa técnica, serão produzidos alface, rúcula, agrião, brotos e ervas em geral. A produção consiste na oferta de vegetais mini ou baby. “O fato de não ter deslocamento torna o produto de 25% a 30% mais barato”, ressalta Bittencourt. O kit com dois pés de alface será vendido a R$ 5. Produtores locais também serão convidados a vender seus produtos na Casa Horta.
Elas ganham o planeta
As fazendas urbanas comerciais consistem em tendência e tem se espalhado pelo mundo afora. Quatro delas estão situadas nos Estados Unidos, sendo três em Nova Iorque e uma em Chicago. Londres também conta com um empreendimento do tipo. Em Berlim, uma fazenda produz peixes, verduras e legumes em larga escala usando a aquaponia, mesma técnica que será implantada na Be Green Boulevard. No Japão (foto), há mais três fazendas urbanas que produzem e comercializam variados alimentos. Singapura também tem um estabelecimento, que é a primeira fazenda vertical comercial do mundo.