Plumas de avestruz para o carnaval do Rio e São Paulo são fornecidas por Minas Gerais

Criatórios vendem toneladas de penas de aves para as maiores escolas de samba que garantem as mais famosas folias do Brasil

Marcelo Ernesto
O veterinário Eduardo Mello conta que a indústria das plumas tem feito sucesso também em festas de debutantes - Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press

Há duas semanas do carnaval, a festa de momo já toma o pensamento de muita gente. Há quem queira descansar, mas também quem queira garantir suas fantasias. Para fazer sucesso, os acessórios devem conter muito brilho, criatividade e plumas, muitas plumas. O que muita gente não sabe é que Minas Gerais fornece o material que encanta pessoas do mundo todo nos adereços usados por passistas nas escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro e de São Paulo. E são das avestruzes que elas são extraídas.

“São várias escolas de samba cariocas e paulistas com plumas mineiras”, afirma Eduardo Mello, veterinário e proprietário da Max Truz, empresa que cria as aves e fornece para o mercado não só as plumas, mas também carne e outros produtos extraídos da avestruz. Ainda segundo ele, além da indústria de carnaval, as plumas também têm feito sucesso na decoração de festas de debutantes, mas o destaque maior cabe mesmo às fantasias. O Brasil é o maior importador de plumas do mundo.

Por ano, a empresa de Mello produz cerca de duas toneladas do acessório. As plumas são vendidas à cerca de R$ 160 reais por quilo, podendo chegar a até R$ 1,2 mil, no caso das especiais.
Cada escola de samba consome de 70 a 150 quilos do item por ano. O uso das plumas também têm tido boa aceitação na indústria da moda. “Já temos grifes mineiras que usam o produto em suas confecções”, disse o empresário. Há destaque também para a utilização das penas de avestruz na produção de espanadores.

Da avestruz, no entanto, se aproveita tudo. Além da plumagem, também há comércio para o couro e, principalmente, para a carne, ainda vista como exótica. Com plena possibilidade de expansão, a produção para atender ao mercado gastronômico tem voltado a apresentar sinais de melhora. Isso porque o produto está em consonância com uma tendência de alimentação mais saudável que tem tido, cada vez mais, adeptos no Brasil. “O brasileiro está começando a ter a visão de mudar os hábitos alimentares e a carne da avestruz é rica em ferro e, além disso, tem menos teor de gordura, quando comparado com a carne de boi, por exemplo”, diz Eduardo.

Segundo ele, para tentar fazer com que a carne ganhe mercado algumas estratégias estão sendo usadas. Uma delas é a produção de espetinhos. “Às vezes a pessoa pode estranhar pedir um prato, inclusive mais caro, de avestruz, mas ela chega e tem um espetinho, aí ela resolve experimentar. Ela vai perceber como o sabor é gostoso, pede mais, e passa a gostar da carne”, afirma Eduardo, que revelou que a empresa dele já fornece esse tipo de produto para vários estabelecimentos de Belo Horizonte.

NA MERENDA Ainda sobre a carne, desde 2010 a Prefeitura de Caraguatatuba, no litoral paulista, oferece carne de avestruz na merenda de creches e escolas da rede municipal da cidade. O produto também é usado por alguns hospitais na dieta de pacientes cardíacos, obesos, que passaram por algum procedimento cirúrgico, por ser mais saudável. A utilização do óleo de avestruz também tem começado a se destacar, tanto para ingestão oral, por ser rico em ômega 3, quanto na indústria de cosméticos.

E Minas Gerais tem todas as condições de se destacar ainda mais na criação da avestruz.
Isso porque as características climáticas do estado, principalmente de algumas regiões, são favoráveis e se assemelham muito às observadas na África, local de origem da ave. “É uma oportunidade que os pecuaristas têm de aproveitar pelas características do animal, que se adapta bem a todas as regiões do estado. Tem a alimentação parecida com a dos bovinos e a carne é mais saudável”, observa Wallisson Lara Fonseca, analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).

RISCOS
Apesar das boas perspectivas, o negócio deve ser guiado por muita gestão. Caso contrário, pode ocorrer como no início dos anos 2000, quando muita gente entrou na onda, por modismo, mas acabou não se programando e ficou pelo meio do caminho e perdeu o investimento. “A atividade exige muita gestão, não adianta a gente produzir sem ter o consumo lá na ponta. A gente tem que ter uma cadeia produtiva com as engrenagens bem estruturadas e alinhas para que o produto não se perca”, analisa.

Segundo Wallisson, o mercado consumidor dos produtos oriundos do manejo da avestruz são muito exigentes, o que demanda do produtor essa excelência na gestão. “Os que foram gestores e tiveram uma estratégia da produção do ovo até o abate, sobreviveram à onda”, afirma. Os que permaneceram no negócio, foram os que abriram mercados, geralmente compostos por supermercados e restaurantes mais nobres.

Saiba mais


O investimento mínimo para se entrar no negócio da criação de avestruz é de cerca R$ 3,5 mil – preço médio de um casal de avestruzes. O tempo para o abate da ave é de 12 meses.
Em relação aos ovos, a avestruz põe ovos durante seis meses por ano e produz cerca de 40 a 100 ovos por ano. Desse total, cerca de 30% a 35% são férteis e podem ser usados para aumentar a criação.
O período de encubação é de 38 dias. E é necessário ter muita atenção com a temperatura, que deve ficar em torno de 36 graus.
A umidade exigida fica em cerca de 60%.
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