Aguardada há duas décadas, começam hoje as obras de revitalização e modernização do Parque de Exposições Bolívar de Andrade, mais conhecido como Parque da Gameleira, em Belo Horizonte.
Um dos principais espaços de feiras e eventos agropecuários do país, o local já foi alvo de tentativas de privatização e de um projeto der transformação da área em centro de convenções.
Os serviços para revigorar o parque são de responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), do governo do Estado, que investirá R$ 4,36 milhões nas intervenções.
Associações do setor agropecuário esperam que as melhorias impulsionem eventos, fortalecendo a atividade no estado.
As intervenções se estenderão por três meses e contemplam a construção de currais, a reestruturação das redes hidráulica e elétrica – que ficarão a cargo da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e da Companhia de Saneamento (Copasa) –, além da pintura de pavilhões e baias, que têm, ao todo, capacidade para abrigar 1.350 animais.
Duas balanças para pesagem serão instaladas, as lajes da arquibancada situada em frente a pista de julgamentos serão impermeabilizadas e banheiros para pessoas com deficiência serão construídos. O Pavilhão Redondo, onde ocorrem os leilões, ganhará isolamento acústico.
“O Parque da Gameleira é símbolo da potência agropecuária de Minas Gerais”, destaca o diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Marcílio de Sousa Magalhães. Segundo ele, 40% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviço) do estado vem do setor agrícola e pecuário.
Atualmente, Minas é o maior produtor de leite do país e detém o segundo maior plantel de gado de corte. ”O parque não sofria nenhum tipo de intervenção há 20 anos e a estrutura já não atendia à demanda atual”, reforça.
Diante das dimensões do parque, trata-se de uma intervenção pequena. Entretanto, Magalhães observa que o projeto atende a todas as necessidades de adequação do espaço. “É uma obra que vai dar conforto para as exposições, para expositores e animais, além de maior comodidade para usuários e servidores”, destaca.
Desde junho, quando o governador Fernando Pimentel anunciou que o parque seria revitalizado, o setor agropecuário aguarda pelo início das obras.
As mudanças nos currais, por exemplo, visam à melhoria no transporte dos animais e a aspectos relacionados à sanidade deles.
Com uma área de 97 mil metros quadrados, o Parque da Gameleira conta com currais, baias e pavilhões, pista de areia, e toda a estrutura necessária para realização de eventos agropecuários.
O local também abriga 17 associações de equinos, bovinos, escritórios de agricultura e apicultura.
O parque, criado em 1938, já foi alvo de tentativas de privatização.
PROGRAMAÇÃO
Em 2013, o então governador Antonio Anastasia chegou a anunciar que no ano seguinte seria lançado edital de parceria público-privada (PPP) para a construção de um centro de convenções no espaço onde funciona o Parque da Gameleira.
O empreendimento, que seria batizado de Novo Espaço Gameleira, previa também um shopping e um hotel, que totalizariam investimentos da ordem de R$ 300 milhões.
O sinal verde para as obras de revitalização e modernização do parque veio no último dia 23, com a publicação, no Diário Oficial Minas Gerais, do resultado da licitação para a execução das intervenções.
Inicialmente, os recursos destinados pelo Estado eram de R$ 5 milhões. A empresa vencedora, a Terra Engenharia e Construções Ltda., acabou apresentando proposta de R$ 4,36 milhões, sendo selecionada pelo critério de menor preço.
Com previsão de início hoje, as obras serão concluídas em 90 dias. O prazo terá que ser cumprido à risca, já que o parque conta com diversos eventos programados ainda no primeiro semestre do ano. Um deles, a exposição Herdeiros da Raça, de cavalos mangalarga marchador, ocorrerá ainda este mês.
A Exposição Estadual Agropecuária, marcada para 28 de maio a 4 de junho, já terá à disposição o parque revitalizado.
As obras, de acordo com o diretor-geral do IMA, também fazem parte de um compromisso assumido pelo governo com organizadores da Megaleite, maior encontro da cadeia produtiva leiteira do país. Promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Gado Girolando, o evento ocorria em Uberaba, no Triângulo Mineiro, e, pela primeira vez, foi realizado na capital mineira, no ano passado.
A mudança representou crescimento de 127,8% no volume negociado durante o evento. A Megaleite 2016 registrou faturamento de R$ 4,1 milhões, enquanto na edição anterior a cifra apurada foi de R$ 1,8 milhão. Somente nesse evento, 75 mil pessoas passaram pelo Parque da Gameleira em seis dias. Neste ano, o evento está previsto para 27 de junho a 4 de julho.
Produtores querem dinamizar calendário
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, comemora o início das obras de revitalização do Parque da Gameleira. “Há muito tempo reivindicamos isso. O parque é extremamente importante para nós, porque é onde se mostra e comercializa a produção do campo. Ainda dá oportunidade aos jovens de conhecerem os produtos do campo”, reforça.
Simões acredita que a reforma poderá aumentar o número de eventos do setor. “Poderemos usar mais continuamente para feiras e exposições de todo tipo, inclusive agrícolas, integrado ao Expominas”, diz.
O parque é vizinho do Centro de Convenções Expominas, ambos com acesso direto ao metrô. A reforma, para o presidente do Núcleo Mangalarga Marchador da Grande Belo Horizonte, José Márcio Januário, vai permitir uso mais racional de água e energia elétrica e baratear o custo dos eventos no local.
“Pagamos as contas de água e luz durante os eventos e fica muito caro porque a estrutura é desatualizada”, destaca. A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) e o núcleo da Grande BH, que reúne 2,6 mil criadores da raça, mantêm escritórios no parque. “O parque é a maior casa do mangalarga marchador”, afirma. Além das exposições habituais, a melhoria nas condições do parque pode impulsionar outros tipos de eventos, segundo Januário. “As provas esportivas têm crescido muito”.
Triste memória
Em uma de suas principais intervenções, o Parque da Gameleira foi cenário de uma tragédia. Na manhã de 4 de fevereiro de 1971, um pavilhão que estava sendo construído veio abaixo. A queda da estrutura de 10 mil toneladas matou 69 trabalhadores e deixou pelo menos 100 feridos – o registro de mortos ficou restrito a corpos resgatados dos escombros. A Revista O Cruzeiro retratou o trabalho de bombeiros e médicos.
A obra era do arquiteto Oscar Niemeyer e do engenheiro Oscar Cardozo. O então governador de Minas, Israel Pinheiro, vivia seus últimos dias no cargo, pois deixaria o Palácio da Liberdade em 15 de março. Israel queria deixar legados do seu governo, e o pavilhão da Gameleira era um deles. Por causa disso, o governo pressionava para que as obras fossem concluídas antes do fim do mandato. Operários já vinham alertando sobre fissuras e estalos nos alicerces. Sem ouvi-los, o governo mandou retirar as vigas de sustentação.
Calendário de eventos deste ano do Parque da Gameleria
22 a 26/3 » Herdeiros da Raça A exposição é especializada em cavalos mangalarga marchador
28/5 a 4/6 » Exposição Estadual Agropecuária O evento, organizado pelo governo de Minas, recebe criadores do Brasil inteiro de animais de raça, entre bovinos de corte e leite e equídeos
27/6 a 4/7 » Megaleite Promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Gado Girolando, é o maior encontro da cadeia produtiva leiteira do país. Em sua primeira edição na capital mineira, no ano passado, apurou faturamento de R$ 4,1 milhões
16/7 a 30/7 » Nacional Mangalarga Marchador Maior evento de equinos de uma mesma raça da América Latina. O evento contará com a participação de 550 expositores e mais de 1,5 mil animais inscritos para julgamentos e leilões. É realizado pela Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM).