A preocupação da população em ter a alimentação cada vez mais saudável tem provocado modificações que vão da indústria ao campo. Atentos à necessidade suprir a demanda dos consumidores, os produtores têm procurado se adaptar. A produção leiteira não foge a essa regra. Pensando nesse nicho de mercado, produtores familiares de Periquito, no Vale do Rio Doce, começarão a produzir leite agroecológico – ou orgânico –, sem fertilizantes químicos e agrotóxicos na plantação que serve de alimento ao gado. A expectativa dos envolvidos com o projeto é dobrar a produção de leite nas propriedades que estão inseridas do experimento inicial.
Além da não utilização de agrotóxicos, o gado também passará a ser tratado com uso de medicamentos homeopáticos. A metodologia adotada pela Associação de Cooperação Agrícola do Assentamento Liberdade (Acoal), onde está sendo feito o experimento, é conhecida por Pastoreio Racional Voisin (PRV). Inicialmente, a entidade pretende estruturar quatro propriedades que serão usadas como modelo. Ao todo, 33 associados participam do projeto, que já conseguiu recursos de R$ 178 mil da Fundação Banco do Brasil.
No entanto, a produção do leite agroecológico exige mudanças profundas na forma de pensar a produção.
Se para os animais é bom, para os produtores também há ganhos, já que a expectativa é de que haja redução de 70% nos custos com remédios e ração. A intenção é que a alimentação seja toda natural. A secretária-geral da Acoal, Vânia Maria de Oliveira, espera que o volume de produção tenha um salto com esse novo manejo. “As técnicas vão trazer melhor condição de produzir o leite e mais economia. Estamos trabalhando com a meta de quase dobrar a produção em dois anos, que em janeiro foi de 30 mil litros”, disse.
Apesar disso, o assessor técnico da Secretaria de Agricultura do estado, Feliciano Oliveira, chama a atenção para os cuidados que envolvem todas as etapas da produção. Ele conta que é necessário que o produtor se assegure, mesmo diante de eventuais dificuldades. Ele cita como exemplo a eventualidade de alguma doença afetar o rebanho. “O produtor, mesmo em casos mais sérios como uma mastite (processo inflamatório que atinge a glândula mamária das vacas), não pode usar remédios que são comumente utilizados. Ele deve sempre optar pelo tratamento homeopático. Caso contrário, o produto dele perde essa característica de orgânico”, conta.
O assessor técnico ressalta que o planejamento é necessário para garantir que a produção consiga ser escoada.
A atenção dos consumidores à necessidade de alimentos mais saudáveis já tem provocado mudanças na forma de produção. De acordo com Feliciano Oliveira, mesmo as propriedades não dedicadas à produção agroecológica já têm adotado técnicas mais saudáveis, digamos assim. “A cada dia, mais os consumidores estão preocupaos com a qualidade do leite. Existe atualmente uma vigilância maior em termos de orientação, em termos de medicação em animais que estejam em produção”, afirmou.
Essa situação é confirmada pelo pecuarista Eduardo Furbino, de 69 anos, que tem uma propriedade em Açucena, Vale do Rio Doce. De acordo com Furbino, mesmo sem estar oficialmente dentro do meio de produção agroecológico, tanto ele quanto outros produtores de leite da região têm se preocupado em ter a produção mais criteriosa quanto ao manejo mais sadio. “A gente sempre opta por tratamento com medicamentos homeopáticos. Temos muito cuidado com o uso de antibióticos. Se for inevitável, a vaca fica de quarentena para não contaminar o leite”, afirmou.
O produtor conta, contudo, que os produtores não estão adaptados para atender a todas as exigências. “Para ser totalmente dentro desse tipo de produção agroecológica a gente tem que mudar toda a produção.
RANKING Minas Gerais é o estado com a maior produção de leite do país. Sozinho, responde por 26,1% de todo o leite brasileiro. Em 2015, foram produzidos 9,1 bilhões de litros. O Paraná, que está na segunda posição, tem 13,3% de participação no mercado com a produção medida de 4,6 milhões de litros da bebida. Ainda sobre Minas Gerais, a expectativa dos técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura é de que a produção em 2017 seja de 9,5 milhões de litros.
O Sul de Minas é a maior região produtora do estado, respondendo por 17,1%. Na segunda colocação está a Região Central (15,9%), seguida bem de perto pelo Alto Paranaíba (15,7%). Na sequência vêm o Centro-Oeste de Minas, que responde por 11%, e o Triângulo, com 10,6%. Especificamente sobre o leite agroecológico ou orgânico não há dados sobre a produção no estado.
Enquanto isso..
.
...PIB de R$ 204,4 bi em Minas Gerais
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio mineiro fechou 2016 com alta de 8,2% em relação a 2015, alcançando o valor bruto de R$ 204,43 bilhões (a preços de dezembro). O estado respondeu por 13,8% do PIB do agronegócio brasileiro. Os dados fazem parte do levantamento elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, e foi analisado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) em parceria com a Faemg e o Senar/MG. O PIB do agronegócio mineiro representa a soma das riquezas do setor de quatro grupos: produção básica (setor primário), que respondeu por 37,8% do montante; setor de serviços (30,8%), indústria (25,7%), e de insumos (5,7%). Em relação ao segmento primário, a agricultura teve um peso maior na composição do PIB mineiro. Do valor total obtido estima-se que R$ 113,30 bilhões (55,4%) sejam resultantes desse segmento e 44,6% obtidos pela pecuária, somando R$ 91,13 bilhões. Na avaliação do secretário de Agricultura, Pedro Leitão, o agronegócio contribuiu para que a retração da economia não fosse ainda maior. “O PIB nacional apresentou recuo de 3,6%, além da queda no nível de emprego e, mais uma vez, o campo assume a sua responsabilidade na geração de emprego e renda do país.”.