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Estado de Minas

Suinocultor mineiro aposta na retomada do consumo da carne de porco

Após impacto da Operação Carne Fraca, produtores destacam que nenhum frigorífico do estado é investigado


postado em 10/04/2017 06:00 / atualizado em 10/04/2017 10:22

O produtor William Voumard diz que consumidor pode ter segurança com qualidade da carne suína(foto: Luiz Ribeiro/ EM/D.A.Press)
O produtor William Voumard diz que consumidor pode ter segurança com qualidade da carne suína (foto: Luiz Ribeiro/ EM/D.A.Press)
Montes Claros e Francisco Sá – Leitão assado à pururuca, costelinha, lombo e pernil assados.... Essas “atrações” da culinária mineira contribuem para que o estado seja o que mais consome carne suína no país. Os suinocultores mineiros se apegam à tradição do consumo do produto, à qualidade e às rígidas normas sanitárias do estado para reforçarem as estratégias que visam superar os obstáculos e dar a volta por cima após o abalo no setor provocado pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março.

A ação, que investigou esquema de fraudes envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e algumas empresas frigoríficas, acabou trazendo dificuldades para o mercado brasileiro de carnes, como redução das exportações e queda de preços.

“Temos o maior consumo de carne suína do país e isso não ocorre por acaso. A nossa carne é saudável, saborosa e muito segura para ser consumida. Temos a fiscalização do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que acompanha constantemente nossas granjas. Cada granja tem um veterinário responsável, afastando os riscos para a saúde. O que está ocorrendo é temporário”, afirma o presidente da Associação Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), Antônio Ferraz, se referindo aos impactos da operação da PF.

Segundo a associação, o consumo de carne de porco no território mineiro é de 21 quilos per capita/ano enquanto o consumo médio brasileiro é de 15 quilos per capita/ano (dados de 2015). Quarto maior produtor nacional (atrás apenas dos estados da região Sul), Minas Gerais teve uma produção de 416 mil toneladas de carne suína (abate de 4,6 milhoes de cabeças) no ano passado, respondendo por 11% da produçao nacional).

Como um dos impactos mais sentidos da ação da PF nos frigoríficos, no início da semana passada, o valor da carne suína pago ao produtor em Minas caiu de R$ 4,50 para R$ 4,20. Entretanto, para o presidente da Asemg, a turbulência será passageira e, em breve, a situação voltará ao normal, por conta das estratégias adotadas por lideranças do setor, com o apoio do governo. “Com esse episódio, o consumidor ficou receoso. Mas o impacto que estamos sofrendo será de curto prazo. Não há motivo para alarde. Vamos sair por cima. As exportações serão retomadas e o preço do produto vai aumentar”, prevê Antônio Ferraz.

Perfil da produção


Minas conta com 1.347 granjas, que, juntas somam 279.574 matrizes e 2.703.901 suínos, aponta levantamento feito pela Associação de Suinocultores em parceria com a Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. Ainda segundo a Asemg, 77% dos criadores de suinos mineiros são independentes, ou seja, trabalham com o ciclo completo da produção (do nascimento ao abate e comercialização). Os outros 23% estão concentrados na região do Triângulo Mineiro e trabalham com o sistema de integração com uma empresa frigorífica.

Ferraz salienta que, no ano passado, o setor enfrentou dificuldades por causa do alto custo dos insumos, sobretudo, da ração, o que levou alguns produtores a abandonar a atividade. “Mas, neste início de 2017, as coisas melhoraram, pois os custos de produção diminuíram”, observou o presidente da Asemg. Ele lembrou ainda que nas investigações da PF foram verificados problemas em somente 0,5% dos frigoríficos brasileiros. “Isso significa que 99,5% dos nossos frigoríficos atuam dentro das normas. Acho que a repercussão foi mais do ponto de vista psicológico. O consumidor pode ficar tranquilo de que a carne mineira e a carne brasileira são de boa qualidade”.

Produtores


Na mesma linha, o vice-presidente da Asemg, José Arnaldo Cardoso Penna, lembra que nenhuma unidade frigorífica de Minas Gerais foi envolvida nas investigações da Polícia Federal. Ele considera que este é um aspecto positivo para que os mineiros continuem tendo os produtos suínos à mesa. Para ele, apesar de ter sido criada uma certa desconfiança junto à população, os suinocultores mineiros vão continuar merecendo a confiança dos consumidores.

“Os produtores de suínos de Minas trabalham com muita seriedade. Precisamos fazer uma campanha para conscientizar a população sobre esse trabalho sério”, afirma Cardoso Penna. Também presidente da Câmara da Comissão de Suinocultura da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), ele é dono de uma granja em Sete Lagoas, a 62 quilômetros de Belo Horizonte.

“A suinocultura vai continuar forte. Vamos reagir como sempre reagimos em todos os momentos de crise”, acredita Cyrana Paiva, dona de uma granja com 300 matrizes no município de Amparo do Serra, região produtora de suínos na Zona da Mata. Cyrana afirma que, apesar das dificuldades que ocasionou, a “Operação Carne Fraca” teve também um lado positivo. “Acho que a Operação da PF também foi boa porque mostrou para os brasileiros a força do agronegócio, que sustenta a economia do país”, observa.

 

 

Modernização é fator de competitividade

 

A suinocultura se modernizou, com a implantação de técnicas modernas e boas condições sanitárias das granjas e na alimentação balanceada dos animais, iniciativas que refletem diretamente na qualidade do produto que chega à mesa dos consumidores. A reportagem do EM constatou esses investimentos ao visitar a Granja Santa Maria, do produtor William Voumard Cordeiro. A propriedade, em Francisco Sá, a 16 quilômetros de Montes Claros, no Norte de Minas, conta com 400 matrizes e abate cerca de 100 leitões (produção de 100 toneladas) por mês.

As instalações recebem um cuidado especial com a higiene e condições sanitárias, com o serviço de assepsia (limpeza) constante, feito por 17 funcionários. A granja trabalha com a inseminação artificial e melhoramento genético, voltada para a produção de carne. A alimentação dos animais é balanceada, com o uso de 12 formulações (tipos).

“Como estamos em um mercado globalizado, será dificil que os problemas enfrentados por alguns dos grandes frigoríficos também não venham atingir os produtores”, comenta William Voumard, lembrando da queda do preço da carne suína pago ao produtor em Minas dias depois da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Mas acredito que logo as exportações serão retomadas e o mercado vai voltar ao seu equilíbrio”, assegura o produtor de suínos Norte mineiro.

Perdas William Voumard ressalta que a redução das exportações, ainda que momentânea, acarreta prejuízos para os criadores de suínos porque, pela característica do negócio, eles não têm como segurar os animais nas granjas depois que eles passam do peso ideal para abate, que gira em torno de 100 a 120 quilos. “Um leitão, até atingir 100 ou 120 quilos, consome quatro quilos de alimento para ganhar um quilo de carne. É a chamada conversão alimentar. Depois de passar de 120 quilos, o leitão consome mais de cinco quilos de alimento para ganhar um quilo de carne”, explica.

O produtor acredita que a Operação da Polícia Federal poderá contribuir para maior procura da carne suína in natura, o que pode favorecer a melhoria de preço do produto no mercado.. “Há um receio do consumidor em cima da carne embalada. Neste caso, acredito sim que existe a possibilidade e um consumo mais voltado para a carne in natura”, diz Voumard. “A nossa expectativa é que o consumo da carne in natura aumente. As pessoas podem ter certeza que sempre estarão consumindo um produto de altíssima qualidade”, completa o suinocultor. (LR)

 

Produto in natura tem saída

 

Os suinocultores ficaram temerosos diante dos reflexos da Operação Carne Fraca. Mas, depois da ação da Polícia Federal, houve um aumento da procura pela carne de porco in natura, aquela que é vendida nos açougues, após o pedido do consumidor, que confere na hora o peso e a qualidade. A notícia animadora é revelada pelo comerciante Wilson Pereira Andrade, proprietário de uma tradicional rede de casas de carnes suinas em Montes Claros (Norte de Minas), a Maísa, com 50 anos de atuação no mercado.

“Fizemos um levantamento e constatamos que, nos últimos dias, tivemos um aumento nas vendas diretas da ordem de 30%”, afirma Wilson, que tem tres lojas de venda de varejo na cidade. A empresa dele tem um frigorífico próprio e também fornece para outros açougues, restaurantes e casas de bufê da região. Atualmente, a Maísa comercializa em torno de 10 toneladas por dia (250 toneladas/mês). Em breve, a empresa vai ampliar a sua produção, com a inauguração de novas instalações do seu frigorífico, no município de Glaucilândia (a 25 quilômetros de Montes Claros), que terá capacidade para abater 120 animais por hora.

Wilson Pereira acredita que, apesar dos efeitos da Operação Carne Fraca, o consumidor vai continuar saboreando a carne suína. “As pessoas sabem da qualidade da nossa carne, que é produzida dentro de normas sanitárias rígidas”, avalia o empresário. (LR)

 

No Brasil

O Brasil tem uma produção anual de carne suína de 3,6 milhões de toneladas, totalizando 41,3 milhões de animais produzidos no ano. Os dados, relativos ao ano de 2015, são da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Ainda segundo as estatísticas da entidade (de 2015), Santa Catarina é o maior produtor de suínos do Brasil, com 900,5 mil toneladas/ano. Em seguida, ficou o Rio Grande do Sul, com a 713,6 mil toneladas/ano. Em terceiro lugar está o Paraná (542,3 toneladas/ano), seguido de Minas Gerais (416 mil toneladas/ano).


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