Galo gigante produzido em fazenda de Minas vale até R$ 10 mil

Novata no mercado de reprodutores nobres, ave tem mais de 1,15 metro de altura

Marcelo da Fonseca
O galo gigante é o cruzamento de três raças - Foto: Jair Amaral
O negócio que começou como hobby para um fazendeiro do pequeno município de Baldim, na Região Central de Minas Gerais, se tornou uma empresa procurada por produtores de várias regiões do país e até de pesquisadores de outros países. Os galos da raça índio gigante, que medem mais de 1,15 metro de altura e podem valer até R$ 10 mil, assumiram o posto de animais mais importantes e lucrativos na fazenda São Sebastião, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.

Considerado o nelore das aves, o galo gigante é resultado do cruzamento de três raças caipiras: o galo combatente, o galo malaio e o galo shamo. Ao se aproximarem dos galos de outras raças, que medem entre 60 e 80 centímetros de altura, esses gigantes esbanjam sua fidalguia pelo terreiro. Se, inicialmente, eles despertavam grande interesse entre promotores da atividade ilegal de rinhas, passaram a chamar a atenção no mercado da carne. Afinal, seu peso alcança entre 5 e 7 quilos.

Conhecido na região de Baldim, foi o fazendeiro Nelson Bernardino, morto no ano passado, quem introduziu o índio gigante na propriedade há 10 anos. O genro dele, Higor Brion, conta que, no início, o espaço para a criação era bem pequeno. “Com o tempo, as pessoas chegavam curiosas, pouca gente conhecia essa raça, muitos queriam comprar ou pegar emprestado para reproduzir. Ele (Nelson) viu que o animal era muito bom, era uma raça diferente.
Procuramos conhecer esse mercado e resolvemos investir ”.

Aos poucos, o galo gigante foi ganhando cada vez mais espaço e tomando conta do terreiro. Hoje, a fazenda de 100 hectares reserva 60 mil metros quadrados para todo o processo de criação de cerca de 900 aves. O negócio de fundo de quintal se tornou uma empresa, com acompanhamento veterinário, oito funcionários, e recebe clientes de outras regiões e países.

Além dos galos da raça índio gigante, que podem ser vendidos a preços entre R$ 1 mil e R$ 10 mil, dependendo das características do animal, a fazenda vende também pintinhos da raça gigantesca, a um custo que varia de R$ 50 a R$ 200. O cliente pode, ainda, adquirir frangos e frangas já vacinados para reprodução e ovos. A dúzia varia de R$ 200 a R$ 400.

A raça índio gigante começou a ser criada nos estados de Goiás e Minas Gerais durante a década de 1980, mas no início era restrita aos colecionadores de aves ornamentais. A partir de 2000 esses animais se espalharam pelo Brasil. Atualmente, são cerca de 10 mil criatórios da raça.

GENÉTICA Para obter as características ideais, como altura acima de 1,10 metro, barbela de boi e a crista-bola, –  traços que valorizam o bicho –, os criadores da fazenda São Sebastião investem no trabalho de aperfeiçoamento de genes do galo gigante. “O melhoramento genético é similar àquele feito com bois e cavalos. Por meio da inseminação artificial e do cruzamento de animais específicos conseguimos fazer um mapeamento das características mais atrativas para o mercado”, explica Brion.

No setor de reprodução da propriedade,  os criadores selecionam as melhores galinhas e as inseminam com o esperma do galo que também tem as melhores características. “O sêmen do galo é analisado pelo veterinário para conferir como está a concentração de esperma, se está saudável, se está fértil. Montamos uma árvore genealógica dos cruzamentos desejados e acompanhamos cada filhote”, conta o criador.

Uma das vantagens da criação é que os galos gigantes são rústicos e não precisam de uma infraestrutura complexa. No entanto, o processo exige um acompanhamento minucioso desde o momento em que as galinhas botam os ovos e os criadores levam vários anos para conseguir alcançar o perfil ideal dos animais.

No setor de incubação, os ovos ficam entre três e quatro dias em um quarto com temperatura e umidade controladas. Depois, os pintinhos são levados para a primeira etapa da cria, permanecendo durante 45 dias em ambiente de temperatura controlada entre 30 e 32 graus.
Já desenvolvidos, vão ao chão quase quatro meses depois de nascer e levam até um ano para atingir o tamanho máximo. Com um ano de vida, os galos oferecem mais três anos de boa média de reprodução e cada um comanda 10 galinhas em seu poleiro.

Sem rivalidade

Embora trabalhe todo dia com a criação de galos, quando o assunto é futebol Higor Brion não esconde que torce pelo Cruzeiro, e não pelo Atlético, que tem a ave como mascote. Ele leva a rivalidade entre os clubes mineiros sempre na brincadeira e já se acostumou aos comentários de visitantes da fazenda de Baldim que enaltecem o “Galão da Massa” (apelido dado ao Atlético pelo narrador Mario Henrique) quando conhecem os gigantescos animais.“No ano passado, durante um jogo do Galo com o Cruzeiro, o pessoal do Alterosa Esporte (programa da TV Alterosa), queria usar imagens no programa, caso o Atlético vencesse a partida. Como queria que a TV viesse conhecer a fazenda, nunca torci tanto para o Galo na vida. Mas o jogo acabou empatado”, brinca Brion. Até o prefeito de BH, Alexandre Kalil, ex-cartola alvinegro, comprou um dos galos gigantes da fazenda, e, é claro, um exemplar preto e branco.


Enquanto isso...
...RINHAS PROIBIDAS

Proibidas no Brasil desde 1988, conforme a Lei 9.605/88, as rinhas ainda são comuns em várias regiões do país e as operações policiais para coibir o crime são comuns. A legislação prevê que o contraventor responda por crime ambiental e maus-tratos. A procura se mantém, mas o alto preço e a valorização da carne têm inibido o uso do animal nas rinhas. Veterinários apontam que nas lutas os galos são submetidos a uma situação de muito estresse e desgaste físico, levando os animais à morte cruel. A despeito desse alerta, no Congresso, a liberação da atividade foi defendida por parlamentares durante a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que regulamentou a vaquejada (atividade em que vaqueiros montados a cavalo derrubam o boi puxando o animal pelo rabo)..