Jornal Estado de Minas

Leilões de gado escapam da crise na economia

Cavalo Mangalarga Marchador é apresentado aos interesses em fazer ofertas para a compra do exemplar - Foto: Renato Aguiar/Divulgação ABCCMM

Os leilões tornaram-se uma estratégia importante de vendas para parte dos criadores e, mesmo com a instalabilidade na economia, se mantêm em ritmo crescente. O avanço tecnológico incrementa o negócio, com a expansão dos pregões para os remates virtuais, que permitem aos compradores oferecer lances com a facilidade de não terem que sair de casa, do escritório e ou de sua fazenda, graças às transmissões ao vivo pela televisão (sinal a cabo e de antena parabólica) ou pela internet.


Também é cada vez mais intensa a promoção de leilões de animais que envolvem o melhoramento genético das raças. Nesse contexto, será realizado hoje, um leilão visto como inovador; o Gir Villefort, com transmissão ao vivo pelo Canal Rural, a partir das 21h. Pela primeira vez, serão ofertadas novilhas e bezerras genotipadas A2A2, que produzem leite menos associado a alergias em pessoas com intolerância ao produto.


O empresário Alexandre Todeschini, dono de uma das maiores empresas de leilões do país – sediada no Rio de Janeiro –, e que atua em vários estados, lembra que até há algum tempo, 80% dos arremates de animais eram somente presenciais, realizados em feiras ou em fazendas e 20% eram transmitidos pela tv ou internet. “Hoje, a situação se inverteu: 80% das vendas de leilões são virtuais e 20% são presenciais”, diz Todeschini.


Os animais mais valorizados são comercializados nos chamados leilões elite – tanto de cavalos como de gado de raça (nelore, gir, guzerá, entre outras), voltados para reprodução e melhoramento genético. As vendas também crescem nos leilões de gado de corte, rebanho leiteiro e de asininos (jumentos, burros e mulas), ovinos, aves e até de sêmen.


Também empresário do setor, Roberto Fabrizzi Lucas, dono de uma empresa de leilões em São Paulo, disse que não existe um cálculo oficial sobre o faturamento de negócios dos arremates no Brasil. “Mas, a estimativa é que são movimentados pelo menos R$ 2 bilhões por ano”, comenta ele, salientando que são realizados, anualmente, milhares de leilões – considerando todas as categorias de arremates.

Plataforma


No mercado de leilões de animais desde 2004, Fabrizzi Lucas enxergou o potencial do negócio na plataforma virtual e priorizou os “pregões tecnológicos”. A partir de 2011, o empresário passou a investir nos leilões transmitidos ao vivo, exclusivamente em um site especializado na internet.

Ele também inovou com a criação de um aplicativo que permite a “participação” dos compradores nos leilões por meio de celulares. Em 2016, o site especializado (www.mfrural.com.br) alcançou 180 leilões realizados, com um crescimento de vendas de 45% em relação a 2015. Para este ano, a meta é chegar a 200 arremates virtuais. Com uma média de 2,2 milhões de acessos mensais, o canal de transmissão de leilões pela internet, hoje, é o site de agronegócios mais visitado do Brasil, comemora o seu proprietário.


Conforme explica Fabrizzi Lucas, os leilões no sistema digital são promovidos em duas categorias. A primeira é do arremate com horário marcado e com a presença do leiloeiro em um estúdio, registrando os lances na base do “quem dá mais” do sistema tradicional. Outro modelo é do leilão sem hora marcada, no qual os animais ou lotes são divulgados no site por um certo período e as pessoas apresentam os lances pelo próprio sistema virtual.


Roberto Fabrizzi informa que o site transmite leilões de gado de diversas raças, além de cavalos, mulas, aves, ovinos e até sêmen. Ele frisa que a ferramenta eletrônica atinge pessoas que não são ligadas diretamente aos leilões tradicionais.

Desta forma, acaba atraindo novos adeptos para a criação de animais, formando um público de novos compradores. Ressalta ainda que as transmissões pela internet são bem mais baratas do que as transmissões de leilões pela TV.

Comercialização


“O leilão representam uma maneira mais justa de comercialização. É bom para quem vende e bom para quem compra”, afirma o presidente da Associação Mineira de Criadores de Zebu (AMCZ), Gustavo Pitangui de Salvo. Ele ressalta que na última quinzena, por conta dos problemas envolvendo o Grupo JBS, que ainda dominam grande parte do ramo frigorífico no Brasil, o mercado teve uma “esfriada”. Mesmo assim, os leilões continuaram em bom patamar.


A prova disso foi o volume de negócios da Exposição de Curvelo, organizada pela AMCZ em parceria com o Sindicato Rural do Município, que movimentou cerca de R$ 6 milhões em leilões, com a comercialização de animais de diversas raças, incluindo gado de corte e rebanho leiteiro. O presidente do Sindicato Rural de Curvelo, Agnelo de Souza, salienta que os leilões de gado de corte realizados na feira agropecuária atingiram bons preços, com os bezerros sendo vendidos a R$ 160 a arroba. Lembra também os criadores diminuíram o prazo de pagamento para cerca de 10 dias, uma estratégia para diminuir a inadimplência.

Ganho para os consumidores


Para o presidente da Associação Mineira dos Criadores de Zebu (AMCZ), Gustavo Pitangui de Salvo, um dos aspectos que mantêm os leilões em alta, com boa cotação de preços, é a melhoria da qualidade dos rebanhos. “Todo mundo que acompanha e participa dos leilões está vendo que a qualidade (dos animais) melhorou.

Isso se deve ao trabalho de melhoramento genético feito pelos criadores”, afirma Salvo. O investimento na melhoria da genética é o destaque do Leilão Virtual Villefort Top Gir A2A2, Villefort que terá tranmissão ao vivo pelo Canal Rural, hoje, a partir das 21h. Serão leiloados animais genotipados A2A2, que produzem leite menos associados a alergia em pessoas com intolerância ao produto. Serão ofertadas 80 novilhas e bezerras gir leiteiro PO, além de sêmen de reprodutores A2A2, de propriedade do criador Virgílio Villefort.

Além do rebanho, o criatório Villefort também mapeou o banco de sêmen de seus touros e dos principais touros gir e guzerá do Brasil inteiro que estão em seu banco de sêmen. “A genotipagem dos animais é um caminho sem volta. Acredito que no máximo em cinco anos a maioria dos criadores de gado de leite estará genotipando seus animais”, prevê o criador.

Há mais de dois anos, Virgílio Villefort realiza testes com o leite A2A2 e derivados. Voluntários, inclusive crianças, que sofrem da alergia a proteína do leite consumiram os produtos e relataram não apresentar os sintomas alérgicos. Virgílio percebeu que várias pessoas que tem alergia da proteína do leite A1A1 ou A1A2 confundem e acham que tem alergia à lactose. Ele salienta que está fazendo um trabalho de volta ao passado. “Fui criado na roça tirando e tomando leite de vaca Zebu e não existia naquela época pessoas que passavam mal com lactose do leite.
Portanto, acredito que esta mutação genética ou “contaminação” não existia no passado na minha região. Pois só existiam vacas zebuínas”, afirma.

Estudos Em pesquisas realizadas, as proteínas do leite A1 e A2 mostraram ter um comportamento distinto durante o processo de digestão. O professor e médico, João Felício Rodrigues Neto, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), explica que estudos associam o uso do leite A2A2 a menos processos de intolerância e alergia ao leite da vaca – entretanto, ainda há a necessidade de estudos conclusivos. O médico alerta que a alergia à proteína do leite de vaca não deve ser confundida com a intolerância a lactose, porque são quadros bem diferentes. “A intolerância a lactose ocorre pela deficiência no organismo da enzima lactase. Já as manifestações da alergia à proteína do leite estão associadas a um peptídeo derivado da proteína chamado beta-casomorfina -7 (BCM-7)”, explica.

Resultado a galope para criador



Os ventos também sopram a favor dos leilões promovidos pelos criadores de cavalos. Os bons resultados são comemorados entre os adeptos da raça manga marchador, que registram um faturamento anual da ordem de R$ 120 milhões no país. “A raça está bombando”, afirma Adolfo Géo Filho, diretor financeiro da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM). Ele lembra que mensalmente são realizados no país 14 leilões do cavalo mangalarga transmitidos pela TV e cerca de 30 remates pelo sistema online (com lances pela internet).

Conforme os números da ABCCMM, em 2016, foram promovidos no país 301 leilões do cavalo mangalarga marchador. Foram comercilizados 6.782 animais da raça.

A tendência é manter o ritmo de bons negócios em 2017. A associação vive a boa expectativa para a 36ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, considerada o maior evento de equinos de uma mesma raça da América Latina, que será realizada no Parque da Gameleira, em BH, de 18 a 29 de julho. Foram inscritos para feira 1.800 animais – “não terá mais por limitação de espaço”, explica Géo Filho. A mostra contará com a participação de 500 expositores e são esperados 200 mil visitantes.

A Exposição nacional terá dois grandes leilões: o Leilão Beneficente Marchadores pela Vida e o Leilão 40 Anos de criação Santa Esmeralda, do próprio Adolfo Géo Filho. Ele disse que vai ofertar 40 animais, com a expectativa de faturar entre R$ 4 milhões e R$ 4,5 milhões.

Cavalo de R$ 8 mi De acordo com o balanço da associação de criadores de mangalarga marchador do ano passado, o preço médio de venda de um exemplar da espécie foi de R$ 17,87 mil. Mas, existem reprodutores negociados por preços que giram em torno de R$ 500 mil a R$ 1 milhão. Adolfo Géo Filho ressalta que, recentemente, um campeão da raça, Galante do Expoente, teve 25% vendido por R$ 2 milhões. Ou seja, o valor do garanhão é R$ 8 milhões, um recorde no mercado nacional. Ele foi transformado em um “condomínio”, que tem cinco proprietários.

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