Plantio de pepino gera emprego e lucro no Norte de Minas

Sistema de parcerias com indústria de conservas agrega 90 produtores

Luiz Ribeiro
José Rosendo diz que a meta é comprar mais de 3,5 mil toneladas de pepino por ano para fazer picles - Foto: Wagner Borges/Divulgacao

“Esse negócio é um pepino”, diz expressão popular que faz referência a alguma coisa complicada ou problema. No entanto, no Norte de Minas Gerais o produto em questão é motivo de lucro e de superação do flagelo da seca. Produtores da região desenvolvem o plantio irrigado de pepino sem ter que enfiar a mão no bolso na hora de preparar o terreno e comprar equipamentos; já que eles recebem insumos e assistência técnica. Outro benefício está na garantia antecipada da compra da safra. Essas vantagens são obtidas por meio de um sistema de parceria criado por uma indústria de alimentos de Santa Catarina, que vem estimulando o cultivo irrigado da variedade de pepino voltada para conservas (picles), investimento que leva à geração de mais empregos no campo.


A empresa Hemmer Alimentos firmou parceria com 90 produtores de quatro municípios norte – mineiros: Januária, Jaíba, Matias Cardoso e Varzelândia. Eles somam 130 hectares cultivados, com previsão de colher 2,5 mil toneladas neste ano. “A nossa meta é chegar a 3,5 mil toneladas de pepino na região por ano”, afirma o representante da indústria no Norte de Minas, José Rosendo.


Há nove anos, quando a empresa iniciou as atividades no Norte de Minas, a parceria foi fechada com apenas quatro produtores, que, juntos, no primeiro cultivo, produziram 100 toneladas. “O pepino irrigado tornou-se uma alternativa para o produtor conviver com a seca.

O clima da região também favorece à produção de um pepino de boa qualidade”, observa Rosendo.


As plantações do pepino para conserva são irrigadas pelo sistema de gotejamento, com o consumo de pouca água. Assim, as lavouras podem ser mantidas com água captada de poços tubulares, sem comprometer o lençol freático. O baixo consumo hídrico também reduz os custos da energia na irrigação, usada por mais de 90% dos agricultores no período noturno, que tem valor diferenciado, a tarifa verde.
Uma grande vantagem para os plantadores de pepino com a parceria está na possibilidade de os produtores plantarem sem a necessidade imediata de gastar recursos próprios ou ter que contratar empréstimo em banco. A indústria de conservas fornece as sementes, equipamentos de irrigação, adubo, defensivos e outros insumos para o cultivo, além de prestar assistência técnica. A despesa é descontada posteriormente durante o acerto da compra da produção, adquirida pela empresa alimentícia.


“Nesse sistema, o agricultor só paga pelos equipamentos de irrigação no primeiro cultivo. A partir da segunda etapa do plantio, a renda dele aumenta, pois usa os mesmos equipamentos de irrigação comprados anteriormente”, observa José Rosendo, representante da Hemmer Alimentos.
No ato da assinatura do contrato de parceria, é fixado o preço de compra do pepino pela indústria. A empresa paga atualmente, R$ 150 por quilo do pepino de primeira qualidade, que mede entre cinco e 7 centímetros. Já o produto de segunda linha, com sete a 9 centímetros, é adquirido a R$ 0,70 o quilo.
Outra vantagem do sistema de parceria é que os agricultores não têm despesa com frete. A Hemmer busca a produção nas propriedades. Depois, transporta o pepino em caminhões equipados com câmaras frias para Blumenau(SC), onde tem uma unidade de conservas.

CAPITALIZAÇÃO  A lavoura irrigada do pepino começa a produzir 30 dias depois do plantio e a safra dura cerca de 60 dias, com colheitas diárias nesse período. A cultura garante a renda do pequeno produtor, contribuindo para manter as despesas das propriedades,principalmente nas secas prolongadas, como se verifica no Norte de Minas. Iniciada a colheita, a empresa Hemmer faz os pagamentos pela produção adquirida a cada 15 dias, o que contribui para a capitalização dos parceiros.


Um outro ponto que favorece o cultivo do pepino é a ocupação de mão de obra. A cultura gera, em média, 15 empregos por hectare.

O sistema de parceria atraiu o produtor Zaqueu Gonçalves Carvalho, que desenvolve a atividade no modelo de agricultura familiar, com o pai e um irmão, na localidade de Agreste, no município de Januária.


Zaqueu conta que, em fevereiro passado, fez o plantio irrigado de pepino ao longo de três hectares, onde a safra foi iniciada em março e encerrada em maio. Ele obteve produtividade de 45 toneladas por hectare. No mês passado, realizou um segundo cultivo em área de seis hectares, onde a colheita já foi iniciada em junho, com uma expectativa de produtividade média de 60 toneladas por hectare. “No primeiro plantio tivemos alguns problemas com o manejo da lavoura. Por isso, a produção não foi das melhores”, relata o agricultor, que pretende ampliar a área plantada no próximo ano para a 10 hectares.


A propriedade da família de Zaqueu emprega em torno de 100 pessoas. Além de pepino, neste ano ele plantou pimenta da variedade biquinho – cerca de 40 mil pés em quatro hectares –, cuja produção também é destinada a indústria de conservas de Santa Catarina.

Fazenda integrada
A propriedade pode ter o plantio irrigado de pepino com o uso de água de poço tubular e, ao mesmo tempo, manter outras atividades, como a criação de pequenos animais. A chamada produção integrada é feita pelo produtor Isaac Gonçalves Carvalho em regime de agricultura familiar na localidade de Agreste. No mesmo local onde é feito o plantio da lavoura irrigada – tocada pelo irmão, Zaqueu, e pelo pai de Isaac (Valdir Vieira Carvalho), ele cria cerca de 120 ovelhas, 70 cabras e mantém ainda pequena criação de suínos. Durante o período chuvoso, Isaac cria ovinos e caprinos em regime extensivo, no pasto. Na seca (momento atual), além da silagem de milho, usa parte da produção de pepino descartada pela indústria de conserva para alimentar os animais.

Outra forma de integração permite que ele venda a maior parte da produção de carne para o próprio pessoal empregado na lavoura irrigada de pepino.

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