A necessidade de pouco espaço, o consumo racional de água e de adubo e a redução do uso de agrotóxicos tornaram a hidroponia uma atividade atraente no campo. A produção de alface e outras folhas com o cultivo direto na água em sistema fechado (estufa) pode alcançar o dobro do plantio convencional em solo, afirma o analista em agronegócios da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra.
As vantagens do negócio atraíram o pequeno produtor João Ricardo Alves Quintino, de 38 anos. Ele virou exemplo de sucesso no Norte de Minas, região de clima semiárido. Há alguns anos, João Ricardo era um vendedor ambulante e resolveu plantar horta no sítio da família a 16 quilômetros da área urbana de Montes Claros. Com o plantio tradicional, ele começou a fornecer alface para um sacolão da cidade; cerca de 50 pés por dia.
Há oito meses, montou um projeto de hidroponia em área de dois hectares (o equivalente a dois campos de futebol) da pequena propriedade, onde usa água de um poço tubular. Hoje, é o principal fornecedor de alface para Montes Claros, que tem 394 mil habitantes, quinta maior cidade do estado. O agricultor vende cerca de 1,5 mil pés de alface por dia e atende duas redes de supermercados, um atacadista e sacolões. Parte da produção é entregue ainda na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte).
O trabalho de Quintino é marcado pelo esforço.
MANEJO O dinheiro foi aplicado em canos, equipamento de poço tubular, construção de um galpão, um trator, veículo de entrega e outros investimentos. Além da estrutura, Quintino aplicou parte dos recursos na contratação de um técnico especializado, que ministrou para ele um curso, ensinando todo o processo de manejo e adubação das hortaliças cultivadas na hidroponia. O carro-chefe é a alface, mas ele tem plantios menores no sistema hidropônico, como de rúcula, agrião, salsa, coentro e acelga.
O produtor destaca como um dos pontos positivos da hidroponia o baixo consumo de água. Ele salienta que manter o cultivo de alface e outras hortaliças em 20 mil metros quadrados usa 10 mil litros de água por dia. “Se fosse na agricultura tradicional, com o plantio na terra, eu teria precisaria 200 mil litros”, compara Quintino.
Lembra ainda que se não fosse a hidroponia, dificilmente teria como manter a sua produção, tendo em vista as estiagens severas que castigam o Norte de Minas pelo quarto ano seguido e provocaram o secamento da maioria dos rios e córregos da região, onde o nível do lençol freático também foi reduzido. “Forneço alface até para outros agricultores que plantam alface no sistema tradicional e tiveram que parar de produzir durante a seca, mas precisam continuar atendendo seus clientes”, informa.
Outra vantagem do sistema apontada pelo agricultor de Montes Claros é o baixo custo com a mão de obra. Ele emprega oito trabalhadores, que cuidam do plantio, manejo e da colheita diária da alface. “Acredito que se no plantio na terra, eu precisaria de pelo menos umas 20 pessoas e o serviço seria mais difícil”, compara. No entanto, Quintino também faz o cultivo direto na terra de couve, brócolis, cebolinha e milho em outra área do sítio, de duas hectares.
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A hidroponia é um bom negócio. Mas, para obter lucros, o produtor tem de conhecer as técnicas necessárias para a condução do sistema.
O analista em agronegócios enfatiza que a hidroponia é uma opção, principalmente, para aqueles agricultores que estão perto de grandes centros consumidores – regiões metropolitanas, que podem fazer as entregas diárias, levando em conta que a alface outras hortaliças colhidas no sistema são muito perecíveis.
Coimbra ressalta que o plantio na hidroponia apresenta várias vantagens em relação ao cultivo tradicional de hortaliças na terra. A primeira delas é o maior controle das quantidades exatas de nutrientes de água que as plantas necessitam. “O manejo é mais fácil no ambiente fechado (estufa), que também proporciona se evitar o ataque de pragas. Com isso, o produtor consegue maior produção, podendo alcançar maior rentabilidade no negócio”, observa o analista da Fiemg.
Ele salienta que, o sistema apresenta vantagem até para a saúde dos trabalhadores rurais. “Como a estrutura do plantio na hidroponia não é feito no chão – e sim numa base com uma certa altura, há uma condição de ergonomia melhor, evitando problemas de coluna para os trabalhadores”, destaca Caio Coimbra.
COMO FUNCIONA
» O plantio na hidroponia é feito em canos de PVCs (de 50 e de 75 polegadas), com água corrente
» O período de plantio e colheita do alface gira em torno de 35 dias. Nos primeiros 15 dias, a hortaliça é cultivada em uma parte da hidroponia chamada berçário, que tem canos mais finos
» A partir do 20º, a espécie é transferida para outra área, que tem canos maiores, onde permanece até a colheita
» A água captada passa por um reservatório no qual é feita a adubação e a mistura de nutrientes como cálcio, magnésio, nitrato de potássio e outros
» Depois, a água é bombeada e passa a circular pelo sistema de tubulação que recebe as hortaliças. A água circula nos canos das 6h às 18h