A necessidade de pouco espaço, o consumo racional de água e de adubo e a redução do uso de agrotóxicos tornaram a hidroponia uma atividade atraente no campo. A produção de alface e outras folhas com o cultivo direto na água em sistema fechado (estufa) pode alcançar o dobro do plantio convencional em solo, afirma o analista em agronegócios da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra.
Há oito meses, montou um projeto de hidroponia em área de dois hectares (o equivalente a dois campos de futebol) da pequena propriedade, onde usa água de um poço tubular. Hoje, é o principal fornecedor de alface para Montes Claros, que tem 394 mil habitantes, quinta maior cidade do estado. O agricultor vende cerca de 1,5 mil pés de alface por dia e atende duas redes de supermercados, um atacadista e sacolões. Parte da produção é entregue ainda na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte).
O trabalho de Quintino é marcado pelo esforço. Ele próprio faz as entregas diretamente nos estabelecimentos nos diferentes pontos da cidade. “Acordo às 4h e, às vezes, só durmo às 22h”, relata. Ele não revela o seu lucro mensal, mas diz que o faturamento até agora já foi suficiente para um terço do investimento da montagem da estrutura da hidroponia, que custou R$ 650 mil. Ele conta que como não tinha o capital, chamou o cunhado, Eder Santana Lopes, para ser o seu sócio.
MANEJO O dinheiro foi aplicado em canos, equipamento de poço tubular, construção de um galpão, um trator, veículo de entrega e outros investimentos. Além da estrutura, Quintino aplicou parte dos recursos na contratação de um técnico especializado, que ministrou para ele um curso, ensinando todo o processo de manejo e adubação das hortaliças cultivadas na hidroponia. O carro-chefe é a alface, mas ele tem plantios menores no sistema hidropônico, como de rúcula, agrião, salsa, coentro e acelga.
O produtor destaca como um dos pontos positivos da hidroponia o baixo consumo de água. Ele salienta que manter o cultivo de alface e outras hortaliças em 20 mil metros quadrados usa 10 mil litros de água por dia. “Se fosse na agricultura tradicional, com o plantio na terra, eu teria precisaria 200 mil litros”, compara Quintino.
Lembra ainda que se não fosse a hidroponia, dificilmente teria como manter a sua produção, tendo em vista as estiagens severas que castigam o Norte de Minas pelo quarto ano seguido e provocaram o secamento da maioria dos rios e córregos da região, onde o nível do lençol freático também foi reduzido. “Forneço alface até para outros agricultores que plantam alface no sistema tradicional e tiveram que parar de produzir durante a seca, mas precisam continuar atendendo seus clientes”, informa.
Outra vantagem do sistema apontada pelo agricultor de Montes Claros é o baixo custo com a mão de obra. Ele emprega oito trabalhadores, que cuidam do plantio, manejo e da colheita diária da alface. “Acredito que se no plantio na terra, eu precisaria de pelo menos umas 20 pessoas e o serviço seria mais difícil”, compara. No entanto, Quintino também faz o cultivo direto na terra de couve, brócolis, cebolinha e milho em outra área do sítio, de duas hectares.
>> Retorno demanda capacitação
A hidroponia é um bom negócio. Mas, para obter lucros, o produtor tem de conhecer as técnicas necessárias para a condução do sistema. “O agricultor precisa ter uma estrutura de equipamentos adequados. Também necessita de uma capacitação para o manejo correto – adubação e aplicação de nutrientes – na água usada nas plantas”, explica o analista em agronegócios da Faemg, Caio Coimbra. Ele lembra que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) oferece cursos gratuitos sobre o sistema hidropônico para pequenos produtores.
O analista em agronegócios enfatiza que a hidroponia é uma opção, principalmente, para aqueles agricultores que estão perto de grandes centros consumidores – regiões metropolitanas, que podem fazer as entregas diárias, levando em conta que a alface outras hortaliças colhidas no sistema são muito perecíveis.
Coimbra ressalta que o plantio na hidroponia apresenta várias vantagens em relação ao cultivo tradicional de hortaliças na terra. A primeira delas é o maior controle das quantidades exatas de nutrientes de água que as plantas necessitam. “O manejo é mais fácil no ambiente fechado (estufa), que também proporciona se evitar o ataque de pragas. Com isso, o produtor consegue maior produção, podendo alcançar maior rentabilidade no negócio”, observa o analista da Fiemg.
Ele salienta que, o sistema apresenta vantagem até para a saúde dos trabalhadores rurais. “Como a estrutura do plantio na hidroponia não é feito no chão – e sim numa base com uma certa altura, há uma condição de ergonomia melhor, evitando problemas de coluna para os trabalhadores”, destaca Caio Coimbra.
COMO FUNCIONA
» O plantio na hidroponia é feito em canos de PVCs (de 50 e de 75 polegadas), com água corrente
» O período de plantio e colheita do alface gira em torno de 35 dias. Nos primeiros 15 dias, a hortaliça é cultivada em uma parte da hidroponia chamada berçário, que tem canos mais finos
» A partir do 20º, a espécie é transferida para outra área, que tem canos maiores, onde permanece até a colheita
» A água captada passa por um reservatório no qual é feita a adubação e a mistura de nutrientes como cálcio, magnésio, nitrato de potássio e outros
» Depois, a água é bombeada e passa a circular pelo sistema de tubulação que recebe as hortaliças. A água circula nos canos das 6h às 18h