O Norte de Minas enfrenta quatro anos consecutivos de seca. Mas, crise? Que crise? Aberta na sexta-feira, a Exposição Agropecuária Regional de Montes Claros (Expomontes) prossegue até domingo, com o objetivo de mostrar o potencial da economia regional e a superação das adversidades climáticas. A feira tem a previsão da comercializar 9 mil animais em leilões. Uma das inovações é um leilão que terá somente mulheres criadoras de gado como vendedoras, com o arremate exclusivo de fêmeas, para “repovoamento” do rebanho da região, reduzido por causa das sucessivas estiagens prolongadas.
“A nossa exposição é realizada com o espírito de demonstrar que os produtores do Norte de Minas acreditam na força da terra. Com o esforço e a esperança dos agricultores é que superamos as dificuldades climáticas”, afirma José Luiz Veloso Maia, presidente da Sociedade Rural de Montes Claros, promotora da mostra, que chega à 43ª edição como uma das maiores do estado.
Os organizadores da Expomontes divulgam números que chamam atenção; a previsão é que a feira movimente R$ 380 milhões, com a geração temporária de 4 mil empregos diretos e indiretos. Ainda segundo os seus promotores, em 10 dias o evento deverá receber um público superior a 300 mil pessoas, atraído por shows de artistas nacionais. A maior quantidade de visitantes é esperada para hoje, aniversário da cidade, quando o Parque de Exposições terá entrada gratuita, com show do cantor Zé Felipe, patrocinado pela Prefeitura de Montes Claros.
Também é aguardado grande público para os últimos três dias da mostra, em função das apresentações de cantores de sucesso: sexta-feira (J Quest e Anitta), sábado (Gusttavo Lima) e domingo (Henrique e Juliano). Além de assistir aos shows, conhecer, conferir os exemplares das raças criadas no Norte de Minas e conhecer os standes das empresas, os visitantes da Expomontes podem apreciar as delícias da culinária regional, como a carne de sol, o arroz com pequi, beiju (tapioca) e doces – e a beleza do artesanato feito por pequenos produtores na feira de agricultura familiar, que conta com 40 barracas.
A feira marca a comemoração dos 60 anos de inauguração do Parque de Exposições de Montes Claros, que passou por uma reforma.
Estão programados para a Exposição de Montes Claros 11 leilões, com a estimativa de faturamento de R$ 11 milhões com 9 mil animais à venda. O diretor de Leilões da Sociedade Rural de Montes Claros, Avelino Murta, disse que a instabilidade no mercado frigorífico, provocada pela Operação Carne Fraca, pela crise envolvendo as empresas do Grupo JBS (Friboi) e, mais recentemente, pelo embargo norte-americano às exportações de carne fresca brasileira, não deverá afetar a comercialização de gado na exposição do Norte de Minas. “Os problemas ocorridos no mercado são momentâneos e logo vão passar”, opina Murta.
Ele também afirma que a falta de chuvas não comprometeu a qualidade do gado no Norte do estado, onde predomina a raça Nelore – mais rústica e adaptada a regiões de clima semiárido. “Os produtores já estão adaptados à seca e desenvolveram técnicas para alimentar os seus rebanhos. Além disso, investiram no melhoramento genético. Assim, participam da Expomontes com mais ânimo e disposição”, afirma o diretor de Leilões da Sociedade Rural. Segundo Murta, a expectativa é que a média de preço dos arremates da feira fique na faixa de R$ 180 a R$ 200 a arroba (macho). “Acreditamos que o mercado está favorável para a compra”, diz ele.
O otimismo em relação aos negócios também é mantido pelo produtor Reinaldo Durães Brant, que, amanhã será um dos vendedores de Nelore no “Leilão dos Criadores do Norte de Minas”, um dos arremates de gado elite da feira agropecuária, tendo à venda 50 animais (40 touros e 10 matrizes) voltados para o melhoramento genético. “Apesar da seca e dos problemas dos frigoríficos (JBS), a nossa expectativa é muito boa. O mercado está reagindo e as coisas vão melhorar”, afirma o produtor.
Um leilão só para elas
Na sexta-feira, na programação da Exposição Agropecuária de Montes Claros será realizado o leilão “Matrizes do Futuro”.
Ele lembra que poderão participar do evento como vendedoras mulheres que estejam de alguma forma já ligadas à atividade pecuária, que sejam donas das matrizes, mulheres de produtores ou que tenham algum outro parentesco com os proprietários das fazendas de origem dos animais levados a leilão. Os lances poderão ser apresentados por todos os participantes do leilão (homens e mulheres).
Haverá ainda o julgamento dos animais participantes do arremate, com premiações para as criadoras/vendedoras dos melhores exemplares. Uma das vendedoras do Leilão “Matrizes do Futuro” é a produtora Cristina Rebello, que há de 20 anos se dedica à seleção da raça Nelore, na fazenda São Luciano, no município de Montes Claros, onde a criação foi iniciada por sua família há mais de 40 anos. Ela disse que vai “levar” ao leilão 80 animais, entre bezerras nas idades de um ano, 18 meses e de dois anos, já com a primeira prenhes.
“A procura por fêmeas está boa muito boa. Acredito que vamos alcançar bons preços no leilão”, assegura Cristina Rebello. Ela afirma que um evento para incentivar a participação das mulheres na pecuária é sempre positivo.
O presidente da Sociedade Rural, José Luiz Veloso Maia, lembra que o Leilão Matrizes do Futuro também é uma estratatégia para “repovoar” as fazendas do Norte de Minas, pois, ao longo dos anos, devido à escassez de chuvas, muitos produtores foram obrigados a vender parte de seus criatórios, se desfazendo de fêmeas. Também houve a morte de animais, em função da falta de pasto e à falta de água. Com isso, o rebanho da região, que já foi superior a 3 milhões de cabeças, atualmente, está na faixa de 2,4 milhões de reses. “Mas, já houve uma certa melhoria da pastagem e os criadores estão “repovoando” as propriedades, adquirindo mais reses”, diz Veloso Maia.
GADO LEITEIRO
No sábado será o “Dia do Produtor de Leite” no Parque de Exposições de Montes Claros. Segundo o diretor de Pecuária Leiteira da Sociedade Rural de Montes Claros, Otaviano de Souza Pires Junior, serão promovida palestras técnicas com o objetivo de recuperar a atividade na região. Ele afirma que o Norte do estado conta com cerca de 5 mil produtores de leite, sendo a maioria de pequenos agricultores. Juntos, eles já chegaram a produzir entre 500 mil e 600 mil litros de leite por dia. No entanto, em função das sucessivas seca, hoje, a produção regional é da ordem de 250 mil litros diários. “Serão apresentadas palestras sobre técnicas e alternativas de alimentação, como a formação de capineiras, cultivo de cana em terrenos baixos e o uso de torta de caroço de algodão, que garantam a manutenção do gado e atividade leiteira mesmo diante do regime de poucas chuvas”, explica Pires Junior..