Num cenário de dependência das caras importações brasileiras de trigo, os produtores em Minas Gerais têm o que comemorar diante da safra 2016/2017 estimada no estado.
Quem endossa os bons números é Geraldo Pereira Alvarenga, dono da Fazenda Santa Rita, em São Gonçalo do Sapucaí, no Sul de Minas. Desde que ele começou a lançar mão do grão como alternativa para o período de entressafra, o trigo ganha espaço crescente na propriedade. Geraldo conta que nos últimos seis anos ampliou a área dedicada à cultura.
“O cultivo tem aumentado ano a ano, junto à área plantada. As pessoas começaram a dominar a tecnologia, a ver seu vizinho plantando e se motivaram”, afirmou. O produtor prevê crescimento em torno de 5% ao ano das lavouras.
A expectativa é de que a produção de 2017 no estado traga bons rendimentos para os produtores. Na safra anterior, a oferta abundante fez com o que o preço ficasse menos atrativo e, assim vários produtores perderam o estímulo para plantar.
Outro fator importante para o resultado favorável da safra atual, segundo Aline Veloso, coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), é que várias regiões do mundo estão tendo problemas no abastecimento.
No Brasil, inclusive, os estados que ocupam as primeiras posições do ranking da cultura – Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, nessa ordem – têm dificuldades com as baixas temperaturas registradas em 2017. “Esses estados enfrentaram uma onda de frio muito grande e em alguns locais até geou, pra complicar ainda mais a situação”, disse.
Aline Veloso destaca que a produção em Minas deslanchou não só porque os produtores passaram a investir na cultura como alternativa na entressafra para fazer rotação das lavouras.
“A gente tem trigo de qualidade e alta produtividade em diversas regiões produtoras.Temos localização privilegiada no Centro do Brasil, próximo dos mercados consumidores. Além disso, existe conhecimento tecnológico, disponibilidade e sementes adequadas”, afirma.
AJUSTES Outra facilidade encontrada pelos produtores do estado é que, mesmo sem ser o carro-chefe das propriedades, o plantio acaba desfrutando de algumas facilidades estruturais.
Geralmente, os produtores já têm maquinário usado para outras culturas, o que requer apenas alguns ajustes para ser utilizado na colheita do trigo“, observa. Na maioria dos casos, o trigo aparece como alternativa para quem tem terras destinadas a lavouras de soja e milho.
Quem faz coro à assessora da Faemg sobre o bom momento da produção no estado é o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Maurício Coelho. De acordo com ele, nos últimos anos, a produção deu um salto.
“Produzíamos, em meados de 2006, de 1% a 2% do que se consome em Minas. Hoje a gente consegue 30%”, destaca. Ele diz que os produtores perceberam que o trigo podia ser uma alternativa, abrindo caminhos para investimentos e o aumento da área plantada.
Aprendizado como cultura de rotação
Quem vai começar a investir no cultivo de trigo deve ficar atento a algumas características do produto. Para Geraldo Pereira Alvarenga, é necessário conversar com outros produtores da região para saber, entre outras coisas, o tipo de semente que melhor se adapta ao local.
“É preciso se informar sobre a melhor tecnologia. Há muitas sementes, mas nem todas se adaptam a todos os locais. Outro ponto importante é eliminar pragas do terreno. Com o trigo funcionando como cultura de rotação, ajuda a diminuir as pragas e isso melhora o solo”, afirma.
Dados relativos a 2015 indicam que a produção mineira alcançou 235,8 mil toneladas, representando 3,9% da oferta brasileira, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O Alto Paranaíba é a principal região produtora do estado, respondendo por 43,39% da produção mineira. Essa porcentagem corresponde a 102.303 toneladas por ano.
Na segunda posição, está o Sul de Minas, com 24,31% da produção (57.319 toneladas), seguido da Região Central, fornecedora de 19,77% da produção (46.600 toneladas).
Já em relação aos municípios, Ibiá está na liderança da cultura, com 25.554 toneladas. Na sequência estão Rio Paranaíba, 21.885 toneladas; e Perdizes, 21.111 toneladas, ambas no Alto Paranaíba. Na quarta posição aparece Três Corações, também no sul-mineiro, com 21 mil toneladas, e Madre de Deus de Minas, na porção central do estado, detém 11.620 toneladas.