Jornal Estado de Minas

Mário Campos vende verduras sem agrotóxico para o mercado de BH


Cerca de 30% de todas as verduras consumidas na capital mineira e região metropolitana, principalmente alface, vêm de Mário Campos, cidade de 15 mil habitantes, localizada a cerca de 40 quilômetros de Belo Horizonte. São cerca de 1.500 produtores, a maioria agricultores familiares de pequeno e médio portes. A produção ainda é feita de maneira convencional, mas aos poucos as famílias se organizam para ter plantações cada dia mais agroecológicas.

“A maioria das propriedades aqui são pequenas, por isso é mais fácil você fazer o controle da lavoura sem o uso excessivo de defensivos. Mas nossa meta é transformar toda as lavouras em agroecológicas, cortando e eliminando aos poucos o uso de defensivos”, conta a agrônoma Shelen Mainente, que trabalha na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG).


Alguns dos produtores já adotam técnicas alternativas para evitar o uso de agrotóxicos. É o caso de seu Antônio Augusto da Silva Borges, de 70 anos, um dos pequenos produtores do município. Em um tanque de plástico cheio de água, seu Antônio coloca diariamente restos de ervas aromáticas da própria horta, cinza do fogão a lenha e borra de café. É com isso que ele pulveriza a cada dois dias sua plantação de hortaliças e verduras para evitar que ela seja contaminada por pragas.

Ele também conta com a ajuda de duas seriemas, ave típica da região, para combater os insetos indesejáveis que insistem em atacar sua horta “cem por cento ecológica”.
Ao contrário das plantações homogêneas de hortaliça que são vistas em toda a região de Mário Campos, a do de seu Antônio é bastante colorida e entremeada por muitas ervas, algumas delas bem raras e todas muito cheirosas.

Essas são algumas das técnicas usadas pelo agricultor para evitar o uso de defensivos e manter sua produção totalmente orgânica. “O cheiro das ervas aromáticas espanta as pragas, por isso uso para borrifar a horta e planto no meio das verduras tudo que é cheiroso”, conta o agricultor, que fornece seus produtos para hotéis, restaurantes e condomínios da região e também da capital.

Além disso, ele conta com um ajudante que, segundo ele, é “quase um médico”. Filho de raizeira, seu Vicente de Paula dos Santos, de 53, nascido em São Pedro do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, mas praticamente criado na cidade, é quem toma conta da plantação. “Não uso adubo, não uso nada químico. Tudo natural”, gaba-se seu Vicente, que passa o dia de olho na plantação. “Temos sempre que ficar vigiando, para assim que aparecer algum bichinho começar a combater”, conta.



>> Ervas para atacar pragas no canteiro

Dona Nair Aparecida de Jesus, de 50, e seu Weber Rômulo Agostinho, de 55, casados, também são adeptos de um cultivo mais natural na propriedade da família, que tem cerca de 42 mil metros quadrados. Segundo ela, o defensivo só é usado em casos muito raros.

A técnica do casal para manter a produção livre de pragas é semelhante à usada pelo seu Antônio. Toda a produção de folhas é cercada de ervas aromáticas de todas as espécies.

Weber foi o pioneiro na cidade no cultivo de ervas aromáticas. Hoje planta diversas espécies e tem como principais clientes restaurantes da capital mineira. Além disso, planta mudas de árvores nativas da região para ajudar no reflorestamento da mata ciliar do córrego que passa perto de sua propriedade.

Apesar da seca, a produção se mantém em alta, já que a região é rica em água, o que facilita a irrigação. O problema mesmo é a crise econômica, que derrubou as vendas, conta a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Assalariados e Agricultores de Mário Campos e Sarzedo, Simoni Damasceno de Oliveira. Segundo ela, as vendas nas feiras e as entregas diretas para os supermercados caíram pela metade. “Está todo mundo sem dinheiro”, lamenta Simoni.

Apesar da queda nas vendas, a expectativa dos produtores é boa, já que o prenúncio é de chuva. Quem garante é Geraldo Lafaiete Rosa Pereira, de 30, produtor de alface, rúcula e agrião.
Segundo ele, a produção foi boa e o preço está sustentável, apesar de ter tido uma grande safra de alface que fez cair bastante o rendimento. “Mas tem que chover, senão teremos dificuldades”, conta o agricultor, que divide seu pequeno pedaço de terra com Romualdo Rosa Pereira, de 33.

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