O sol é de rachar. A falta de chuvas – um problema histórico – se intensificou mais ainda nos últimos cinco anos na região. Mas esses fatores não enfraquecem a produção de manga no Norte de Minas, onde o cultivo irrigado da fruta virou uma alternativa para a superação da seca. Uma das vantagens da manga é que ela exige uma quantidade de água relativamente baixa, se adaptando muito bem ao clima semiárido. Nessas condições, a fruta, que antes era apenas meio de subsistência – com o “costume” das famílias da zona rural de terem um pé de manga no quintal de casa –, agora virou sinônimo de lucros para os agricultores, que, além do mercado nacional, estão exportando para a Europa, Oriente Médio e Canadá.
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Ganho certo com o limão e a mangaPlantio de pepino gera emprego e lucro no Norte de MinasNorte de Minas vive o milagre do algodoeiroNorte de Minas tem pasto renovado pela volta das chuvasFenômenos climáticos preocupam agricultoresHorta circular sobrevive à seca no Norte de MinasDe olho na onda saudável, MG investe na produção de frutos do tipo 'berry'Ele salienta que, com o uso eficiente do recurso hídrico o agricultor pode manter a cultura com água retirada do poço tubular.
Os pomares avançam em vários municípios norte-mineiros. A maior concentração está nos perímetros irrigados do Jaíba (abastecido com água do Rio São Francisco), projeto sediado no município homônimo e que também alcança a cidade de Matias Cardoso) e do Gorutuba (abastecido pela Barragem do Bico da Pedra, entre os municípios de Janaúba e Nova Porteirinha). Nos dois projetos de irrigação, os agricultores enfrentam a restrição hídrica por causa da seca. Somente o Projeto Jaíba tem uma área plantada de 1,78 mil hectares de manga em produção, de acordo com a Abanorte.
A variedade mais cultivada nos plantios irrigados do sertão norte-mineiro é a palmer (95%). Também estão começando a ser plantadas na região as variedades Kent e Keit. “São variedades voltadas exclusivamente para o mercado europeu”, explica Moacir Brito.
Conforme o consultor, atualmente, 20% da manga norte-mineira é destinada a Exportação, com o produto chegando a países europeus como Portugal (um dos maiores compradores), Inglaterra, França, Alemanha ,Espanha, Bélgica e Holanda, além do Canadá (América do Norte) e do Oriente Médio. Como a fruta é perecível, o transporte é feito de avião, com a saída pelos aeroportos de Cumbica (Guarulhos/SP) e Viracopos (Campinas/SP).
OFERTA O Norte de Minas é a região com maior regularidade na oferta de manga no Brasil em comparação com outros pólos produtores do país. É o que apontou pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba. “Isso é resultado do trabalho de indução floral, feito graças ao excelente planejamento e escalonamento por parte de técnicos, pesquisadores e produtores da região”, observa Brito, citando a eficiência da gestão da atividade pela Abanorte e o trabalho de pesquisa desenvolvido por professores e acadêmicos do curso de Agronomia do Campus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em Janaúba.
Com a técnica de indução floral, a espécie produz praticamente o ano inteiro. Com emprego de novas tecnologias, os produtores conseguiram também antecipar o início da produção da manga. Outro ponto observado foi o aumento do adensamento dos pomares, com um maior número de plantas por hectare – antes, eram 250, média. Agora, são plantadas 1.200 pés de manga por hectare.
Hoje, os pomares irrigados do Norte de Minas já começam a produzir com apenas 20 meses depois de plantados.
Agricultor satisfeito com os resultados
A satisfação com os bons resultados do cultivo da manga no clima semiárido norte-mineiro é manifestada pelo agricultor Darcy da Silveira Gloria. Ele tem 40 hectares de mangicultura no projeto Jaíba, dos quais 22 hectares em produção. Darcy da Silveira produz 500 toneladas de manga (da variedade Palmer). Ele conta que vende em torno de 35% a 40% da produção para o exterior, enviando a fruta para Portugal, Holanda e outros países europeus, por avião. “Mais do aumentar a quantidade, fizemos um trabalho de busca da qualidade para obter o certificado para exportação”, afirma o agricultor.
A cultura da manga irrigada tem um custo relativamente elevado, em torno de R$ 18 mil . Mas, a rentabilidade compensa, como atesta Darcy. “O custo é alto, mas sempre sobra alguma coisa”, diz o agricultor, que iniciou a atividade há 17 anos.
Outro que vem se dando bem com a mangicultura é Dalton Londi, que já exerceu um cargo na montadora Fiat em Betim; viveu uma experiência de trabalho na China e, depois, decidiu investir na irrigação no Projeto Jaíba. Ele começou a plantar manga há 12 anos no perímetro irrigado e conta com 60 hectares cultivados (da variedade palmer) e tem uma previsão de colher 1.200 toneladas em 2017. Cerca de 30% de sua produção é destinada para a exportação.
A atividade também entusiasma Gilberto Alves da Silva, o Nego, que começou a produzir manga no Jaíba há dois anos. Ele já tem 15 hectares em produção e uma área igual em formação. “A manga é a cultura de melhor manejo e melhor lucratividade do projeto”, afirma Gilberto.
Carlito José Ribeiro gerencia uma área de produção de manga no Projeto Jaíba, que conta com o plantio de 35 hectares e alcança uma produtividade de 25 toneladas por hectare. Ele chama atenção para o uso eficiente da irrigação, que garante a economia de água. “A manga é uma cultura que se adapta bem ao clima semiárido. Irrigamos a planta duas horas por noite, com um sistema de rotação dos talhões (lotes). Somente em outubro, quando o sol fica mais forte na região, aumentamos um pouco a irrigação”, informa Carlito. (LR).