Jornal Estado de Minas

Palmito ecológico volta a ser plantado em escala comercial


Por muito tempo acusada, principalmente por entidades ligadas à proteção do meio ambiente, de promover a devastação de florestas, a cultura do palmito tem dado a volta por cima e garantido produções ecologicamente sustentáveis. Isso graças a mudança da cultura da exploração nativa para a em escala comercial e em áreas destinadas ao plantio das palmeiras. Especialistas e produtores concordam que a cultura traz ganhos consideráveis, inclusive, para solos pobres ou já desgastados por manejo inadequado. Em relação à produção no país, Minas Gerais ocupa a nona posição entre os estados com volume de 1,6 mil toneladas no ano passado. Apesar disso, o palmito cultivado por aqui já experimentou melhores momentos e atualmente amarga certa retração.

A cultura do palmito em Minas começou a ser intensificada a partir de 2005. Na época houve bastante interesse e chamou a atenção dos produtores, mesmo sendo de alto investimento. Especialistas afirmam que para se começar uma cultura é necessário investimento entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, em média. As principais espécies cultivadas no estado são jussara, pupunha, além das imperial e real.
Em menor quantidade, também tem a açaí, que, além do palmito, produz o fruto que tem feito sucesso nacional e internacional pelo sabor refrescante.

QUALIDADE  Mas as qualidades do palmito vão além da culinária. Sua capacidade de regenerar terrenos é muito importante. Isso ocorre porque a palmeira deixa no local onde ela é cultivada grande quantidade de matéria orgânica. As folhas têm bastante fibras, o que faz com que sua decomposição seja lenta e o processo enriquece o terreno. “Independentemente da espécie, o palmito são das poucas culturas que são regeneradoras dos terrenos. Seu sistema de raiz radicular e a quantidade material orgânico que ela deixa para trás recupera o terreno que vai melhorando com o passar do tempo”, afirma Lúcio Passos, engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).

O produtor e engenheiro, Bruno Santana, também reforça essa ideia dos benefícios para o terreno. “A gente plantava em área degradada e a terra ia tendo boa capacidade de recuperação do solo.
Quando plantada comercialmente, além de ter a utilização mais frequente pela indústria, ainda tem esse aspecto da recuperação do terreno”, conta. Ele tem produção na região de Itabirito, na Região Central de Minas. Ainda de acordo com o engenheiro agrônomo, a opção pela cultura comercial garantiu que as plantas nativas fossem preservadas e ainda permitiu ganho na produção. “No sistema nativo, a espécie demora cerca de oito a 12 anos para ficar no ponto de colheita. Já na lavoura comercial esse prazo cai de três a quatro anos você está colhendo palmito”, diz. Duas espécies – pupunha e açaí – ainda têm outro diferencial, o de não precisar de nova muda para garantir a sequência da produção. Segundo Lúcio, elas são como bananeiras, pois já possibilitam que nova planta seja preparada, diferentemente das outras espécies que exigem novas mudas externas.

REVÉS No estado, a região com maior produção é o Triângulo Mineiro. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG), em 2015 – último ano com dados atualizados pelo órgão –, foram produzidas 737 toneladas de palmito.
Sozinha, a região é responsável por 45% do total alcançado por aqui. Na segunda posição está a Região Central, com 300 toneladas (18,4%) da colheita, seguida pela Zona da Mata e o Alto Paranaíba, com 224 toneladas, ambos respondendo por 13,7% cada. Em termos de municípios, a maior produção é de Araguari, no Triângulo: de 737 toneladas auferidas na região, 240 saíram do território araguarino. O segundo lugar ficou com Monte Alegre de Minas, com 225 toneladas, seguido de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, com 200 toneladas, e Santa Rita do Jacutinga, na Zona da Mata, com 96 toneladas.

Mas nem só de boas notícias vive o palmito mineiro. A produção, que vinha estabilizada desde 2009, sofreu um revés no ano passado. Em 2015, foram produzidos em Minas 2,4 mil toneladas; em 2016, a safra fechou o ano com apenas 1,6 mil toneladas, menor produção da série histórica iniciada em 2004. “A produção está bem estagnada. A gente começou o processo há 10 anos e a perspectiva era boa. Muita gente plantou, mas agora entramos numa inundação de produto no mercado, principalmente de pupunha. Ainda tem a crise hídrica e a queda no preço e a dificuldade com a mão de obra.
O pessoal tem deixado de vez a cultura”, contou o produtor e engenheiro Bruno Santana. De acordo com ele, aliado a isso ainda tem as dificuldades relacionadas ao parque industrial para o beneficiamento do palmito. “Em Minas são pequenos produtores isolados; aí, quando vai beneficiar, não têm força, pois a maioria das indústrias está em São Paulo. Esse é um dos gargalos da produção”, lamentou.

Para quem, apesar disso, apostar no crescimento do mercado, o engenheiro-agrônomo da Emater Lúcio Passos, dá algumas dicas: a escolha da espécie é um dos primeiros e fundamentais passos, além dos cuidados técnicos. “A palmeira não cresce muito nos 18 primeiros meses. Recomenda-se que a área seja consorciada com outras culturas, como milho, mandioca e feijão”, afirma. Ainda segundo Passos, a planta precisa de irrigação, principalmente nos períodos de seca, que na maioria das regiões em Minas vai de meados de abril a setembro. Mas ele ressalva que, a partir dos 18 meses, quando a planta se desenvolve mais, isso não é mais necessário.

Outro ponto destacado por Lúcio é quanto a verificação dos fornecedores de mudas e também com a possibilidade de como vai ocorrer o escoamento da produção. Além disso, como o tempo médio para a planta começar a produção é de quatro anos, ele aconselha não plantar tudo de uma vez, mas dividir o terreno em quatro módulos; a cada ano planta-se um, garantindo que a produção não fique paralisada. Ele ainda destaca que a planta raramente sofre com pragas e, essa, no caso do palmito, é uma preocupação a menos.

Produção por estados

1º São Paulo    34,5 mil ton.


2º Bahia    27,3 mil ton.

3º Santa Catarina    21,7 mil ton

4º Goiás     16,2 mil ton.

5º Paraná     7,3 mil ton.

6º Mato Grosso    2,5 mil ton.

7º Espírito Santo    2 mil ton.

8º Pará     1,7 mil ton.

9ª Minas Gerais     1,6 mil ton.


Regiões produtoras em Minas


1º Triângulo     737 ton.

2º Central     300 ton.

3º Zona da Mata e Alto Paranaíba    22 ton.

4º Norte de Minas     90 ton.

5º Sul de Minas    50 ton.

Fonte: IBGE.