Jornal Estado de Minas

Agricultura do Norte de Minas e Alto Paranaíba tem tecnologia japonesa

Yuji Yamada planeja ampliar a produção de frutas - Foto: Luiz Ribeiro / EM / D.A. Press
Janaúba,Projeto Jaíba e Matias Cardoso –
Experiência e tecnologia à moda japonesa dinamizam a produção de diversas lavouras de Minas Gerais, mais de 40 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes do país do sol nascente às terras do Alto Paranaíba e do Norte do estado. Em São Gotardo, uma das maiores colônias nipônicas estabelecida em Minas impulsionou o cultivo de cenoura, alho e outros hortifrútis, enquanto o café despontou nas mãos desses parceiros da economia mineira e brasileira em Carmo do Paranaíba, além de uva e de diversas outras frutas produzidas em Pirapora.

Os nipônicos têm participação também decisiva no Projeto Jaíba, no Norte de Minas, idealizado para ser o maior perímetro irrigado da América Latina, e que hoje é um grande polo produtor de alimentos do país. Na mesma região está radicado o imigrante Yuji Yamada, o maior produtor individual de banana do Brasil, proprietário de 2 mil hectares cultivados, incluindo áreas mantidas no próprio Jaíba.

 “Os japoneses trouxeram uma nova mentalidade para a produção agrícola brasileira, especialmente de hortifrutigranjeiros”, afirma o ex-ministro da Agricultura Alisson Paulinelli. Ele lembra que o Japão investiu US$ 20 milhões, garantindo a expansão da infraestrutura necessária à chamada etapa 2 do Projeto Jaíba.


Foi graças aos imigrantes do Japão e à ajuda do país que, na década de 1970, foram implantados dois importantes projetos para o agronegócio do cerrado brasileiro. O Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – Prodecer, em 1974, começou por Minas (nos municípios de Coromandel, Iraí de Minas e Paracatu) até alcançar outros seis estados (Goias, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Tocantins), com 21 núcleos produtivos.

 O Programa de Assentamento Dirigido ao Alto Paranaíba (Padap), por sua vez, abriu áreas de colonização em 1973 nos municípios de São Gotardo, Ibiá e Campos Altos. “Os japoneses tiveram papel determinante para que o cerrado brasileiro se tornasse produtivo”, afirma Paulinelli, que foi também secretário de Agricultura de Minas.

 

 O Jaíba desponta com um dos maiores polos da produção agrícola nacional, com cerca de 27 mil hectares irrigados, de onde saem, anualmente, cerca de 252 mil toneladas de alimentos, com destaque para as frutas, tendo a banana como carro-chefe. Um dos empreendedores que prosperaram no projeto irrigado no quente Norte de Minas é Shigue Toshi, filho de japoneses. Os pais dele se mudaram para o Brasil na década de 1950 e passaram a plantar café na região de Lins, no interior paulista.

Shigie chegou ao Jaíba em 1997 e comanda área de 150 hectares irrigados de manga, onde colhe 2 mil toneladas por ano. Ele exporta a produção para a Europa (Portugal, Holanda e Espanha) e os Emirados Árabes.

 “Os japoneses, por tradição, trabalham com muita dedicação e conhecimento. Assim, ajudaram muito no aproveitamento das terras disponíveis para agricultura no Brasil”, disse Shigie. “Acho que, se não fosse a corrupção, o Brasil estaria muito melhor”, afirma o produtor.

 

 

Inovação

 Também no Norte de Minas, a contribuição nipônica deu gás novo ao projeto de irrigação Pirapora, implantado no município homônimo, que usa água do Rio São Francisco. O projeto foi instalado pela Codevasf em 1979, quando chegaram à região cerca de 20 famílias de produtores de origem japonesa, que deixaram os plantios de soja e café no interior de São Paulo e do Paraná. As parreiras foram uma grande inovação, já que, até então, a fruta só era cultivada em regiões frias, no Sul do país.

 Hoje, o Projeto Pirapora continua avançando, com cerca de 1 mil hectares irrigados. Cerca de 80% dos proprietários dos lotes dos perímetros irrigados são descendentes de japoneses, que, além da uva, plantam banana, laranja, tangerina poncã e legumes, entre outras culturas.

O produtor Rubens Shigueru Minane, cujos pais nascidos no Japão saíram do Paraná e se mudaram para as margens do Rio São Francisco em 1979, conduz a lavoura de 180 hectares da família junto do irmão Alex. Eles colhem 4,5 mil toneladas por ano de uva, banana e tangerina.

 “Sinto-se orgulhoso pelo fato de minha família ter contribuído com a implantação e crescimento do projeto de irrigação de Pirapora”, afirma Shigueru, ressaltando a participação dos migrantes japoneses no avanço da agricultura brasileira.

 

Da chegada ao recurso próprio


Com o impulso dado pelo domínio da arte de cultivar que os japoneses desenvolveram, São Gotardo tornou-se polo da maior região produtora de cenoura do país, plantada em cerca de 5 mil hectares. A produção alcança 300 mil toneladas por ano, de acordo com dados da prefeitura do município, que também detém a maior oferta de repolho e se destaca na produção de alho, ocupando a segunda posição no ranking nacional. O produtor Jorge Kriyu, descendente de família japonesa, destaca que os agricultores do Alto Paranaíba estão na expectativa de aumentar o faturamento com a criação da marca própria “Região de São Gotardo”.

 

 O prefeito de São Gotardo, Seiji Sekita, produtor e descendente de japonês, diz que a agricultura da região começou a crescer com a chegada de 100 famílias – 90% delas de origem nipônica, que foram instaladas nos lotes do Projeto de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (Padap), na década de 1970. “Acho que a colônia japonesa não somente impulsionou e diversificou as atividades no campo, como também gerou muitos empregos em nossa região”, afirma. Sekita ressalta a participação dos imigrantes na produção leiteira da região, que passa por modernização de processos.

 A chegada dos imigrantes do país do sol nascente modificou a economia de Carmo do Paranaíba, hoje um dos principais municípios produtores de café do estado. No fim da década de 1970, chegaram ao município cerca de 30 famílias de origem japonesa. “Acho que a colônia japonesa marcou pelo pioneirismo na agricultura na região.

Os japoneses se destacaram no preparo da terra. O cerrado era visto como uma terra de pouca serventia e hoje produz o melhor café do mundo”, afirma Fabiano Yukio Otsuka.

 Os pais dele nasceram no Japão e vieram para o Brasil na década de 1950, lidando com lavouras primeiramente no interior de São Paulo, antes de se mudar para o Alto Paranaíba. Além do trabalho no plantio do café do cerrado, os japoneses diversificaram as atividades em Carmo do Paranaíba, se destacando também no comércio local.

Rei da banana quer expandir

 Uma das maiores histórias de sucesso dos imigrantes japoneses no Brasil tem como protagonista o empresário Yuji Yamada. Na década de 1950, ele deixou o país asiático aos 13 anos e se mudou com os pais e sete dos 11 irmãos. Começou a trabalhar no plantio de chá e verduras em uma pequena propriedade comprada pelo pai no município de Registro (SP). Lá, ganhou dinheiro com plantios de abobrinha, maracujá e banana.

 Em 1983, após sofrer prejuízos com enchentes nos bananais no Vale do Ribeira, vendeu os bens que tinha no interior paulista e resolveu sair pelo país em busca de “terras planas de sumir de vista”, que ouviu dizer que existiam no Brasil ainda durante a infância no Japão. Encontrou as “terras planas” em Janaúba, no Norte de Minas, onde plantou, inicialmente, 20 hectares de maxixe. Em seguida, usou a mesma área para o cultivo de banana prata anã, que era “novidade” para a região. Descobriu o “caminho da mina”.

 Atualmente, Yamada é o maior produtor individual de banana do país. Conta com 2 mil hectares plantados em 20 áreas em Minas (Projeto Jaíba e Janauba, no Norte do estado, e Delfinopolis, Centro-Oeste).

Ainda no Norte de Minas, alem dos bananais, conta com 500 hectares plantados de outras frutas (mamão, tangerina poncã, laranja, caju, seriguela, umbu e limão).

 “É preciso qualidade, quantidade, eficiência na logística e pontualidade, ou seja, entregar na hora certa”, assegura Yuji Yamada, que adota a filosofia da Kyocera (de origem japonesa), método de gestão empresarial. “Tenho a meta de todo ano aumentar um pouco a produção”, diz o empresário, que anuncia a intenção de expandir ainda mais o negócio e de fazer plantios de banana também no Mato Grosso, para eliminar as despesas com o transporte até aquele estado, já atendido por sua empresa. A produçao própria dele é de 1,2 mil toneladas (100 caminhões) de frutas, sendo 80% banana. A empresa do imigrante japonês, a Brasnica, virou uma gigante do setor de frutas, com a comercialização de 3 mil toneladas (250 caminhões) por semana.

 


 

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