Jornal Estado de Minas

Olivicultura comemora primeira década de produção no Brasil


O incipiente setor da olivicultura no Brasil comemora, este ano, sua primeira década de produção de azeitonas e azeites totalmente nacionais. A expectativa para é que sejam extraídos 160 mil litros do óleo em todo país. A concentração dessa nova indústria encontra-se na Região Sudeste e no Rio Grande do Sul. Um mercado promissor para um país que importou 56 milhões de litros  entre 2016 e 2017.


De acordo com a Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), só a Região Sudeste alcançou 42 mil litros de azeite produzidos na safra de 2017. A produção é crescente, e as plantas vão atingindo a maturidade depois de 10 ou 12 anos e pode produzir frutos por até 500 anos, atravessando várias gerações, dependendo dos cuidados do produtor. A cultura da oliveira conquistou o interesse de produtores e empresários e se espalhou pela região dos contrafortes da Serra da Mantiqueira, entre de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, além da Região Sul do país.


O produtor que se interessar no plantio de oliveira deve se atentar a algumas características climáticas e do solo, recomenda Luiz Fernando de Oliveira, coordenador do programa de pesquisa em olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Maria da Fé, uma das cidades que registram as temperaturas mais baixas do país. A planta não gosta de solos encharcados e mal drenados.



A região deve ter uma temperatura abaixo de 12.8ºC por pelo menos 300 horas anuais. A topografia mais acidentada pode provocar erosões no terreno. Também deve estar atento à escolha de variedades mais indicadas para a região do plantio (são mais de mil tipos de oliveiras espalhadas mundo afora). A Epamig já selecionou sete cultivares apropriadas ao nosso clima. Entre o plantio e o início da produção, o processo pode levar quatro anos.


Trata-se de uma planta que exige cuidados como outras frutíferas em climas temperados e perenes como adubações, controles fitossanitário, podas de formação. Em Minas Gerais, para se obter um litro de azeite, são necessários entre sete e 10 quilos de azeitona.

A colheita acontece entre final de janeiro e início de abril. A produção de 10 quilos a cada planta é considerado ainda baixa, o ideal é chegar a 20 quilos por pé.

O investimento é relativamente alto e a longo prazo. O capital investido só começa a ser recuperado por volta de cinco anos. “Após o retorno do investimento, o produtor terá só lucro por várias gerações, num mesmo espaço de plantio e com as mesmas frutíferas”, disse o coordenador do programa de pesquisas da Epamig.


Na Região Sudeste, responsável pela metade da produção nacional, são em torno de 160 produtores, com 1 milhão de plantas em 2 mil hectares. “Isso movimenta a economia local, atrai turistas que utilizam hotel, restaurantes, visitam as plantações e a indústria, compra o azeite, gera emprego, movimentando toda a cadeia produtiva”, explica Luiz Fernando.

A Epamig pesquisa desde a década de 1970 a cultura da oliveira na região da Serra da Mantiqueira. Em 2008, foi realizada em Maria da Fé a primeira extração de azeite de oliva no Brasil, feita em máquina artesanal. Em 2009, a empresa adquiriu um extrator de azeite, importado da Itália, com capacidade de processar até 100 quilos de azeitonas por hora, e passou a industriar o óleo, em parceira com a Assoolive e demais produtores da região. O produto obtido alcançou índices de acidez entre 0,2% a 0,7% e foi classificado como extravirgem, com a qualidade similar aos melhores azeites do mundo.

 

MARCAS


Há cerca de 40 marcas de azeites produzidos nos Contrafortes da Mantiqueira com tecnologia desenvolvida pela Epamig, no Campo Experimental de Maria da Fé. Esses produtos são comercializados em empórios e armazéns no próprio município, em Belo Horizonte, São Paulo, Campos do Jordão e Rio de Janeiro.

São azeites frescos, artesanais, com baixa acidez, de variedades diversificadas como Arbequina, Koroneiki, Grappolo e Maria da Fé.

“De 2008 até agora a principal mudança que notamos foi no interesse dos produtores. Naquela época haviam três ou quatro produtores se dedicando à cultura, hoje são cerca de 160 aqui na região e alguns municípios do Espírito Santo”, informa Luiz Fernando de Oliveira. Os olivicultores têm investido também em lugares próprios (espaços para a extração), já são 18, segundo números da Assoolive. Luiz Fernando destaca também o avanço nas tecnologias para a obtenção de um produto de qualidade.

“Hoje nós temos uma experiência muito maior, tanto no processo quanto no conhecimento desse azeite produzido na região. Um azeite fresco, com cheiro e aroma frutado, que chega ao consumidor em um intervalo curto após sua extração e com características sensoriais de amargo e picância distintas às de outras regiões produtoras”, afirma.


As primeiras mudas de oliveira chegaram a Maria da Fé na década de 1950, trazidas por um imigrante português. O clima frio ajudou na adaptação e foram identificadas outras regiões com possibilidades de expandir o plantio, como as serras da Mantiqueira e do Mar e no Espírito Santo. Com o sucesso em Minas, o Rio Grande do Sul também começou a produzir, já que as condições climáticas desse estado são favoráveis.

Mesmo sendo cultivar nova no país, há registros de pragas na cultura, como a presença da formiga cortadeira, algumas doenças fúngicas, os fungos gostam de temperatura alta e umidade, tempo propício no verão. Mas existem maneiras de manejar essas doenças. Os produtores aguardam resposta do Ministério da Agricultura, já que os produtos utilizados em outros países ainda não estão autorizados ao manejo em solo nacional.


O azeite é um produto de alto valor financeiro agregado.

Muito apreciado tanto na parte da gastronomia quanto medicinal. O Brasil é um dos grandes consumidores do produto. Especialistas de países com tradição já comprovaram a qualidade do produto e algumas marcas já receberam prêmios em concursos internacionais.

O Certifica Minas já prepara um selo que atesta a qualidade, a ser concedido pela Secretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abastecimento (Seapa) e suas vinculadas Epamig, Emater e Ima.

.