Se o agronegócio cresce, mantém o Brasil no ranking mundial dos maiores exportadores de produtos alimentícios e firma a referência do país na pesquisa em tecnologia de ponta. Como carro-chefe da economia brasileira, a agricultura familiar, por sua vez, avança no mercado interno e já responde, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por mais de 50% da comida que chega às mesas dos brasileiros. São também as pequenas áreas rurais conduzidas por famílias que respondem por 70% da mão de obra no campo. Elas agrupam aproximadamente 4,4 milhões de famílias agricultoras, o que representa 84% dos estabelecimentos rurais no país, gerando 38% do valor bruto da produção agropecuária.
De acordo com Glênio Martins de Lima Mariano, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Externsão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), a diversidade climática, de solo e biomas no estado permite uma gama de produção na agricultura “da palma forrageira ao morango de altitude”. O estado conta com mais de 350 mil propriedades onde se pratica a agricultura familiar.
Maior produtor de café e leite, essa atividade em família responde por 50% da produção do grão e 60% do leite e derivados, segundo estimativa da Emater. Os 793 escritórios da empresa estatal espalhados pelo interior de Minas atenderam 400 mil agricultores no ano passado, e deste universo, segundo Glênio, 70% eram produtores familiares que receberam em financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) cerca de R$ 635 milhões em 2017.
O Pronaf tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. Por meio do programa, agricultores beneficiados têm acesso a várias linhas de crédito de acordo como sua necessidade e o seu projeto. Podem ser projetos destinados ao custeio da safra, à atividade agroindustrial, seja para investimento em máquinas, seja para equipamentos ou infraestrutura. Para acessar o Pronaf, a renda bruta anual dos agricultores familiares deve ser de até R$ 360 mil.
Glênio Mariano atribui à agricultura familiar um importante papel social e econômico. “É lamentável que os governos não meçam separadamente o PIB (Produto Interno Bruto, o conjunto da produção de bens e serviços) agropecuário específico da agricultura familiar, setor que está na dianteira das transformações tecnológicas de sustentabilidade. É diversa, é forte, gera emprego e grande parte dos alimentos saudáveis”. Para o presidente da Emater-MG, o segmento em Minas vem se tornando uma das portas de entrada do Brasil no movimento mundial de valorização dos produtos artesanais.
A agricultura familiar tem dinâmica e características distintas em comparação à agricultura não familiar. Nela, a gestão da propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agropecuária é a principal fonte geradora de renda.
Pujança Minas Gerais é o segundo estado com o maior número de estabelecimentos familiares do país, de acordo com os primeiros dados do Censo Agropecuário, em execução pelo IBGE. Vilson Luiz da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Minas Gerais (Fetaemg), reforça a importância da Feira da Agricultura Familiar (AgriMinas) para os produtores. Neste ano, o evento completou a sua 12ª edição.
“Com a feira, conseguimos tirar a nossa agricultura familiar da invisibilidade. Outro fator importante é que resgatamos o lado social, empoderando os agricultores familiares através do lado econômico. A AgriMinas proporciona uma rica e ampla experiência entre os produtores, a criação e o fortalecimento de uma rede de contatos”, destaca.
QUEM SÃO ELES
Os números mais recentes da agricultura familiar no Brasil e como ela participa dos resultados no campo
» 50% dos alimentos consumidos no país
» 70% da geração de empregos
» 4,4 milhões de famílias agricultoras trabalham no país
» 84% dos estabelecimentos rurais
» 38% do valor bruto da produção agropecuária
Em Minas Gerais
» 50% da produção de café
» 60% do leite e derivados produzidos no estado
» 350 mil propriedades
Fonte: Mapa e Emater-MG
Novas gerações buscam a ciência
Nos últimos anos, o setor vem ganhando visibilidade e ampliando suas fronteiras em diversas frentes, tanto no que se refere à tecnologia quanto a questões educacionais, culturais, de formação e ambientais. Santinho Araújo, agricultor familiar, é um veredeiro que trabalha com frutos e derivados da produção do cerrado. “Veredeiro é guardião de nascente dos rios. Cada nascente tem uma comunidade de veredeiros que nasceram, cresceram, vivem, convivem e dependem da vereda” explica.
A família dele, constituída de 16 irmãos, vivia da produção de carvão vegetal. “Não tínhamos o entendimento da destruição que ela provocava e de que, ao mesmo tempo, dispúnhamos de uma grande riqueza de frutos que nos proporcionaram mudar essa cultura irreal.” O extrativismo do pequi, buriti, caju, mangaba, cagaita, ameixa babaçu, bananinha, buritizinho-bravo, entre outros, trouxe perspectivas à família de Santinho.
De acordo com o agricultor, no princípio havia muita dificuldade quanto à logística, mas também de comunicação. “Sou de uma geração de gente do campo que mal se formava na educação básica. Tínhamos dificuldades de conversar e, portanto, negociar com a gente da cidade.”
Os seis filhos de Santinho estudaram em escolas do campo até o ensino médio. Hoje buscam conhecimento em outras áreas, de forma a contribuir com a cultura e a economia local. “Tenho duas filhas que cursaram a universidade, uma é engenheira-agrônoma, a outra analista de sistema”. Com o suporte de energia elétrica, telefone, e internet no campo, a nova geração se apropriou da nova realidade tecnológica e compartilha conhecimento.
Lucilene Almeida é uma das 12 filiadas à Associação dos Produtores Rurais de Almenara. “No ano passado, vendemos R$ 30 mil em derivados da mandioca, o biscoito de queijo, farinha, beiju, farinha de goma, tapioca, caldo de mandioca e pirão de frango caipira e manteiga de garrafa”, diz ela, em referência à sua participação na 12ª edição da Feria da Agricultura Familiar (AgriMinas), realizada de 11 a 15 de abril na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte. Nessa edição da feira, as produtoras negociaram quatro toneladas.
Vitrine das lavouras
A pujança da produção agrofamiliar foi exibida durante a 12ª edição da Feira da Agricultura Familiar (AgriMinas), realizada de 11 a 15 de abril na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, com produtos e iniciativas que apontam uma outra revolução no campo. Durante os cinco dias de evento, mais de 65 mil pessoas visitaram os estandes de 450 expositores. Cerca de 13 mil famílias foram envolvidas direta ou indiretamente com a produção de 210 empreendimentos individuais, associações e cooperativas. Participaram 27 grupos de assentados da reforma agrária e crédito fundiário e nove grupos de quilombolas e indígenas. O grupo de expositores foi constituído por 52% de mulheres e 48% de homens.
Em mais de uma década de história o evento já recebeu em torno de 600 mil visitantes, mobilizou 45 mil agricultores e seus familiares e proporcionou negócios que chegam a superar os R$ 34 milhões. A AgriMinas amplia as redes de distribuição dos produtos, promove o contato dos agricultores familiares com as novidades tecnológicas e aumenta a rede de negócios dos produtores e dos mercados.