Jornal Estado de Minas

Cafezais anunciam produção recorde em Minas Gerais


A três semanas do fim da colheita predominante do café de Minas Gerais, as lavouras confirmam produção exuberante e que deverá acrescentar, no mínimo, um segundo recorde ao histórico da safra do principal produto do agronegócio no estado. O resultado do trabalho de ‘apanha’ nos cafezais ainda em curso ou já encerrado na semana passada se aproxima da estimativa mais recente para 2018 dos técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 30,3 milhões de sacas beneficiadas de 60 quilos. Se confirmada, será desempenho excepcional, que só perde, em 18 anos, para os 30,4 milhões de sacas registrados em 2016.

A senha para entender desempenho tão bem-vindo em tempos de preço médio menos estimulante que o do ano passado é a alta produtividade, como destaca Bernardino Cangussú Guimarães, coordenador estadual da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). Outro fator importante a ser considerado está num ano positivo de frutificação da planta, em função do ciclo bienal da cultura. Frente a produção de 24,1 milhões de sacas da safra de 2017, confirmada a performance esperada para este ano, o aumento será de pelo menos 26%.

“Não estamos dormindo em berço esplêndido”, resume Bernardino Guimarães, fazendo referência à posição do estado como fornecedor de 70% da safra do café arábica, o que torna Minas um dos maiores produtores do mundo, além de principal produtor do Brasil e da melhora da qualidade do produto. “Os cafezais se desenvolveram e a gente tem observado no campo que os produtores estão investindo na cultura. O que está mudando é o comportamento do cafeicultor”, afirma.

Reflexo desses investimentos, entre outros fatores ligados ao clima e ao avanço da mecanização, a produção subiu de 25, em 2017, para 30,4 sacas por hectare, em média, neste ano. Ainda quanto à performance das lavouras, ao investir, os cafeicultores buscaram adubações completas e variedades melhor adaptadas, segundo o coordenador da Emater-MG.
Mais de 90% da colheita – iniciada em abril – deve estar concluída no fim deste mês.

Quando analisada nos últimos 15 anos, a produtividade mais que dobrou em Minas, ao sair da média de 13 sacas por hectare em 2003, lembra Niwton Castro Moraes, assessor especial de café da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Os números foram estimulados pela migração da cafeicultura das áreas montanhosas para regiões mecanizáveis, portanto, mais tecnificadas e menos dependentes de mão de obra, o que significa redução de custos.

“A safra deste ano sinaliza para os concorrentes que os produtores estão prontos e que temos tecnologia”, diz Niwton Moraes. Os bons frutos do cafezal são observados em todas as regiões produtoras do estado O Sul responde por pouco mais da metade do total produzido, seguido da Zona da Mata, com 25%; as áreas do cerrado, que contribuem com 20% a 21%, e a chamada Chapada de Minas, o polo produtor do Vale do Jequitinhonha, sob influência do município de Capelinha, 4%.



IMPACTO SOCIOECONÔMICO

O significado de um segundo recorde da safra de café vai além do marco histórico da produção e do que ele representa como alavanca para a força do estado no mercado interno e nas exportações. Minas costuma exportar 80%, do volume obtido nas lavouras, consumindo os restantes 20%. “Minas e o Brasil têm condições de participar da demanda crescente do produto (o ritmo de expansão é de 1,5% a 2% ao ano no mundo), mantendo a posição de francos fornecedores”, observa Niwton Moraes.

Debruçado sobre as estimativas da Conab, Bernardino Guimarães, coordenador da Emater-MG, chegou a um incremento de receita de R$ 2,7 bilhões em 2018, que pode ser proporcionado pela safra cafeeira no estado. Tomando-se como base o preço médio de R$ 450 por saca, a atividade deverá movimentar R$ 13,1 bilhões em 2018, ante os R$ 12 bilhões na safra 2017, quer dizer 9,6% a mais.

“O café tem sido fundamental para a segurança econômica de Minas e o aumento da safra reflete em impacto social importante do ponto de vista da geração de empregos”, afirma. Os dados preliminares do Censo Agropecuária de 2017, apresentados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram aumento de 13,9% do número de propriedades dedicadas à produção cafeeira no estado, de 120 mil.
Do campo até o momento de embarque ao exterior, a cultura responde por mais de 8,4 milhões de empregos. Minas exportou, em 2017, 83,5% dos cafés produzidos no estado, sobretudo café verde cru, com receita de US$ 3,5 bilhões. Os principais mercados compradores foram Alemanha, Estados Unidos e Itália.

Qualidade é ‘dever de casa’

O crescimento da produção nesta safra reforça, ainda, a qualidade e a oferta dos cafés especiais, na avaliação de Breno Mesquita, presidente da comissão de Café da Federação da Agricultura e pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). “Vivemos uma revolução espantosa. Antigamente, o hábito era simplesmente o de tomar café e, assim, o produto bom ia para fora do país. Isso mudou radicalmente. O brasileiro está buscando os cafés diferenciados e o produtor fez o seu dever de casa, investindo muito em tecnologia e qualidade”, afirma. Segundo Breno Mesquita, a cafeicultura brasileira se tornou a mais ‘sustentável‘ do mundo.

Bernardino Cangussu Guimarães acrescenta que esses investimentos envolvem colheita selecionada somente dos grãos maduros, fermentação controlada, uso de terreiros suspensos, o que permite secagem mais uniforme dos grãos, armazenagem em umidade adequada, permitindo conservação das propriedades da bebida e evitando o surgimento de fungos.
“São melhores práticas desenvolvidas e Minas é o primeiro e único estado a ter programa de certificação que audita as fazendas (o Certifica Minas)”, afirma. No Brasil, o consumo cresce acima de 3,5% ao ano, graças ao aumento da qualidade do grão.

Como forma de reconhecer e impulsionar a qualidade da produção, o estado chega à 15ª edição do concurso de qualidade dos cafés de Minas Gerais, com a estimativa da Emater-MG, de participação superior a 1.300 amostras. As inscrições podem ser feitas ate 6 de dezembro nos escritórios da empresa mineira. No ano passado, os vencedores ganharam viagem à Colômbia, para conhecer as técnicas adotadas na cafeicultura.

RESULTADO

De acordo com Bernardino Guimarães, a competição, considerada a maior do país, tem função educativa, ao repassar aos cafeicultores os resultados das avaliações das amostras. Produtores familiares são frequentes ganhadores da premiação, tendo em vista que o café de qualidade exige trabalho nitidamente artesanal. As amostras deverão ser entregues ate 6 de setembro. Em outubro e novembro serão feitas a análise e o julgamento, por provadores especializados.

No ano passado, participaram da competição as quatro regiões produtoras de café do estado: Sul de Minas, Chapada de Minas, Cerrado Mineiro e Matas de Minas. Segundo o governo de Minas, todos os cafés finalistas atingiram o mínimo de 84 pontos, estabelecido pelas normas da Associação Americana de Cafés Especiais (scAa). A pontuação atende à avaliação de características sensoriais da bebida, como doçura e acidez. A saca do melhor café foi vendida a US$ 2 mil.
(MV).