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Estado de Minas

Fruticultura ganha vida nova em Minas Gerais

Cultivo típico de áreas temperadas na região de São João del-Rei amplia e diversifica ganhos em pequenas propriedades que viviam da pecuária de leite. Demanda cresce


postado em 21/01/2019 06:00 / atualizado em 21/01/2019 08:37

Região do Campo das Vertentes aproveita microclima da região para bem-sucedidos pomares de uva, figo, maçã, amora e pêssego, iniciados em unidades demonstrativas da Epamig (foto: Divulgação)
Região do Campo das Vertentes aproveita microclima da região para bem-sucedidos pomares de uva, figo, maçã, amora e pêssego, iniciados em unidades demonstrativas da Epamig (foto: Divulgação)

Pomares iniciados em 2008 por meio de projeto desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), na região de São João del- Rei, no Campo das Vertentes, têm dado bons resultados para produtores rurais de pequenas e médias propriedades. A ideia era aproveitar o microclima da região para o cultivo de frutíferas típicas de áreas temperadas, como pêssego, uva, ameixa, figo, marmelo, maçã e amora. A implantação foi feita a partir da instalação de Unidades Demonstrativas da Epamig, com base em financiamentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

As unidades demonstrativas são espaços montados em regiões onde não há fazendas experimentais da Epamig, que dão acesso aos produtores a cursos de capacitação, encontros técnicos, orientações ambientais e prestãção de assistência técnica. Segundo os pesquisadores da Epamig Paulo Norberto e Ângelo Alberico, a experiência em São João del-Rei começou no Campo Experimental da Epamig, com a avaliação do desenvolvimento produtivo de diferentes espécies e variedades frutíferas, identificando aquelas de maior potencial produtivo para a região.

As unidades demonstrativas somam, hoje, 31 empreendimentos, espalhadas por nove municípios do entorno da cidade histórica. O conhecimento de introdução e manejo dessas culturas, nos mais variados microclimas é gerado e difundido para consolidar a produção de diferentes espécies frutíferas. O objetivo é aumentar a área cultivada com frutas, bem como o número de fruticultores na região, possibilitando assim, a criação de uma atividade alternativa para geração de emprego e renda de forma sustentável para esses produtores, que têm na pecuária de leite de pequeno porte sua principal atividade.

"Esperamos que, este ano, a produção seja muito boa, e pretendemos vender em mercados locais como sacolões, feiras e supermercados de Carandaí, além de mandar uvas para a Ceasa, em Contagem"

Vando Geraldo da Silva, produtor em Carandaí



Vando Geraldo(foto: Arquivo Pessoal)
Vando Geraldo (foto: Arquivo Pessoal)

A Epamig realiza a geração de tecnologias, capacitação de produtores e técnicos, bem como o fornecimento de mudas, junto ao trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater-MG). Paulo Norberto conta que já há demandas para a implantação do projeto em novos municípios. “O conhecimento das técnicas de cultivo e do mercado de frutas é conseguido, à medida que o produtor trabalha na área e vai adquirindo experiência, aprendendo com os erros e os acertos,” afirma o pesquisador.

O interesse pela fruticultura de clima temperado tem crescido tanto devido à produção bem-sucedida da uva, entre outras frutas. quanto em razão da possibilidade de processamento, a exemplo do figo, na fabricação de doces. Há cinco anos no comando de uma unidade demonstrativa da Epamig, o produtor Vando Geraldo da Silva, do município de Carandaí, começou na atividade com 200 mudas de videira, da variedade Niágara Rosada, doadas pela empresa de pesquisa. Atualmente, são mais de 1 mil mudas produzindo dentro de sua propriedade.

“Enfrentamos problemas como doenças e pragas, mas estamos muito satisfeitos com o resultado. Esperamos que, este ano, a produção seja muito boa, e pretendemos vender em mercados locais como sacolões, feiras e supermercados de Carandaí, além de mandar uvas para a Ceasa, em Contagem”, afirma o produtor, que também destaca o auxilio de técnicos da Emater-MG durante todo o processo.

Metabolismo Paulo Norberto conta que a principal característica das frutíferas de clima temperado é a perda das folhas no inverno. “Quando se começa a registrar o abaixamento das temperaturas e o inicio do período de estiagem, a planta adota esta estratégia a fim de reduzir seu metabolismo, economizando suas reservas para atravessar esse período de estresse”, explica o pesquisador da Epamig.

Para conhecer e escolher corretamente as variedades, além de adotar as práticas ideais ao desenvolvimento da planta, produtores recebem orientação e assistência técnica(foto: Divulgação)
Para conhecer e escolher corretamente as variedades, além de adotar as práticas ideais ao desenvolvimento da planta, produtores recebem orientação e assistência técnica (foto: Divulgação)
Contudo, o frio é um fator determinante para o bom desenvolvimento dessas espécies, que, ao longo do seu ciclo de crescimento, precisam de um determinado número de horas de baixas temperaturas, para que possam brotar, florescer e render bons frutos. Por esse motivo, o conhecimento e a escolha correta de qual variedade se adapta melhor ao clima é muito importante.

A maça Eva, por exemplo, depende de cerca de 200 horas de frio, durante o inverno, a uma temperatura na casa dos 7,2 graus, para se desenvolver e produzir a contento, enquanto, por exemplo, outras variedades de maça precisam de cerca de 1.000 a 1.200 horas, não sendo recomendadas para a região,

Como a atividade não demanda grandes áreas e muitas vezes a mão de obra é familiar, a fruticultura de clima temperado tem se tornado uma boa opção para a pequena e média propriedade rural. Normalmente, a colheita inicia-se no fim de novembro e vai até fevereiro ou março, quando, com o passar do tempo, as plantas já começam a entrar em dormência, para realizar novo ciclo produtivo.

Doçaria dá mais valor à produção

A maioria das unidades demonstrativas da Epamig implantadas na região do Campo das Vertentes exploram as culturas da figueira e da videira, além de mais algumas espécies, porém em menor escala. De acordo com o pesquisador da Epamig Paulo Norberto, o trabalho foi iniciado com a cultura da figueira, fácil de ser cultivada, e que oferece a possibilidade de agregação de valor ao produto, com a doçaria. Os produtores não haviam trabalhado comercialmente com fruticultura, o que levou à escolha de uma fruta que pudesse promover o aprendizado deles atividade, para que, posteriormente, eles enfrentassem novos desafios, com árvores mais exigentes, como o pessegueiro, videira e goiabeira.

“Em Minas Gerais não temos o costume de comer o figo maduro. Aqui a fruta verde é transformada em doce, o que é um bom negócio. Enquanto o quilo do figo verde pode ser vendido por R$ 7, o quilo do doce chega a custar R$ 25, sendo que sua produção geralmente utiliza mão de obra familiar”, relata o pesquisador.

A demanda pela fruticultura tem sido crescente entre os produtores, principalmente por ser uma atividade de alta remuneração, quando bem conduzida no campo e na fase de comercialização da produção. Como exemplo, Norberto cita a amora preta, que chega a valer R$ 10 a cada 100 gramas comercializadas.

Ainda segundo o pesquisador da Epamig, à medida em que as unidades demonstrativas vão obtendo bons resultados, os produtores vizinhos dessas propriedades passam a se interessar pela cultura e pela fruticultura. A partir desse momento, é iniciado trabalho de difusão e de transferência de tecnologia com a promoção de eventos como o Dia de Campo e as visitas técnicas, oportunidades em que todos os produtores da comunidade rural e do município são convidados a conhecer o trabalho e a atividade da fruticultura de clima temperado.


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