A safra do pequi sofreu uma redução da ordem de 40%, devida à seca e ao ataque de uma praga que mata os pequizeiros. Mesmo com a queda na produção, o fruto símbolo do cerrado voltou a gerar renda e a garantir o sustento de milhares de famílias nos pequenos municípios do Norte de Minas, nos últimos três meses. A atividade extrativista virou uma espécie de salvação no sertão, tendo em vista que o sol forte do “veranico” de janeiro destruiu as plantações de milho e feijão, além de comprometer as pastagens, elevando o desemprego e a falta de renda no meio rural na região.
Japonvar, de 8,6 mil habitantes, é um dos municípios mineiros que teve a economia movimentada pela safra do pequi, que começou em novembro e terminou no fim de janeiro. De acordo com o técnico Fernando Cardoso de Oliveira, do escritório da Empresa de Assistência e Extensão Rural (Emater-MG), “mesmo com a queda de 40% na produção, o fruto (apanhado no mato pelos moradores) trouxe verdadeira bonança para a população da cidade no fim de 2018 e início de 2019, aquecendo as vendas no comércio local”.
Fernando Cardoso calcula que a safra do pequi movimentou cerca de R$ 3 milhões na economia de Japonvar, somente com a comercialização do fruto “in natura”, ou seja, com a venda do produto em casca, que sai do município transportado em caminhões. As cargas do fruto símbolo do cerrado são enviadas para Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Goiânia, além de outras regiões mineiras e estados do Nordeste, como Bahia e Paraíba.
EXTRAÇÃO Segundo ele, em torno de 4 mil pessoas, quase a metade população do município, passaram a catar pequi, atividade que envolve homens, mulheres e crianças. O fruto é apanhado no chão, debaixo dos pequizeiros, com os moradores entrando em qualquer fazenda ou sítio, independentemente de quem seja o proprietário da área, para a prática extrativista.
“Embora tenha ocorrido uma queda na safra, o preço do pequi melhorou. Antes, a caixa de pequi em casca, de 30 quilos, era vendida pelos catadores em Japonvar por preços que variavam entre R$ 5 e R$ 7. Este ano, a caixa do pequi passou a ser vendida por R$ 10 a R$ 12. Isso agregou valor ao produto e foi muito bom para os moradores”, disse o técnico. “Esses são os preços pagos pelos atravessadores aqui na cidade. Eles entregam o pequi em Belo Horizonte e outras cidades por R$ 20 ou R$ 22 a caixa”, observa Oliveira.
“Pra mim, o pequi representa tudo”, afirma a agricultora Maria dos Anjos Ferreira da Silva, a “dona Nenem”, de 40 anos, uma dos moradores de Japonvar que retira a renda do fruto símbolo do cerrado. “A produção diminiuiu, mas deu pra gente ganhar um dinheirinho. Foi uma bênção. O que ganhamos numa safra dá para (garantir) a nossa sobrevivência até a safra seguinte”, declara.
Dona Nenem já não é mais uma simples catadora de pequi, como foi desde criança. Ela também compra de outros catadores para produzir polpa e pequi em conserva. Com os rendimentos da safra 2018/2019, ela construiu uma pequena unidade de beneficiamento no local onde mora, na comunidade de Cabeceira do Mangaí, a três quilômetros da área urbana.
A agricultora disse que somente nesta safra conseguiu produzir 4 mil quilos de pequi com caroço em conserva e 500 quilos de polpa. Informou ainda que, assim que terminar a safra, vai trabalhar no beneficiamento da castanha do pequi. “O meu objetivo é vender 200 quilos de castanha de pequi este ano”, revela dona Nenem, que fornece o derivado do pequi para Brasília.
O extrativismo também garante a melhoria de vida de Teodomiro Alves de Sales, de 59, o “Duzinho”. “Para nós aqui, o pequi é mais que uma renda extra. É o nosso sustento mesmo”, assegura o pequeno agricultor, que mora na comunidade de Cabeceira de Passagem Funda, a 1,5 quilômetro da sede urbana de Japonvar.
Duzinho apanha pequi junto com a mulher, Marlene Aquino Alves, de 51, e a filha, Amanda Aquino Alves, de 26. Ele conta que se dedica à atividade extrativista desde que era muito pequeno. “Aqui é assim: quando o menino começa a andar, já vai pro mato catar pequi.”
As famílias sempre acordam cedo, por volta das 5h, para apanhar o pequi caído no chão nas áreas de cerrado. “Mas este ano, a concorrência aqui aumentou muito. Teve dia em que a gente saiu para catar pequi 10 horas da noite”, confessa o experiente agricultor.
PRAGAS Há vários anos que os pés de pequi vêm sofrendo o ataque de besouro. O inseto ataca o cerne e consome a parte lenhosa, provocando “brocas” (buracos) no caule das árvores, impedindo a passagem da seiva. As plantas começam a perder as folhas e morrem. Os prejuízos são enormes para os pequenos agricultores e comunidades extrativistas. “Existem lugares em que mais de 60% dos pequizeiros já morreram por causa do ataque da praga”, afirma Fernando Cardoso de Oliveira, técnico da Emater-MG, em Japonvar. Ele disse que o ataque ocorre também em outros pequenos municípios do Norte de Minas produtores de pequi, como Lontra, Coração de Jesus e Campo Azul. O técnico disse, ainda, que a Emater-MG já pediu a realização de um estudo sobre as mortes dos pequizeiros e o combate à praga junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), em Brasília, mas ainda não teve retorno.
Nos últimos anos, o pequi teve valor agregado com o beneficiamento do produto e a comercialização de polpa e do fruto em conserva. Também aumentaram as vendas do pequi in natura para os grandes centros.
''O fruto trouxe verdadeira bonança para a população da cidade no fim de 2018 e início de 2019, aquecendo as vendas no comércio local''
Fernando Cardoso de Oliveira, técnico da Emater-MG
Japonvar, de 8,6 mil habitantes, é um dos municípios mineiros que teve a economia movimentada pela safra do pequi, que começou em novembro e terminou no fim de janeiro. De acordo com o técnico Fernando Cardoso de Oliveira, do escritório da Empresa de Assistência e Extensão Rural (Emater-MG), “mesmo com a queda de 40% na produção, o fruto (apanhado no mato pelos moradores) trouxe verdadeira bonança para a população da cidade no fim de 2018 e início de 2019, aquecendo as vendas no comércio local”.
Fernando Cardoso calcula que a safra do pequi movimentou cerca de R$ 3 milhões na economia de Japonvar, somente com a comercialização do fruto “in natura”, ou seja, com a venda do produto em casca, que sai do município transportado em caminhões. As cargas do fruto símbolo do cerrado são enviadas para Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Goiânia, além de outras regiões mineiras e estados do Nordeste, como Bahia e Paraíba.
EXTRAÇÃO Segundo ele, em torno de 4 mil pessoas, quase a metade população do município, passaram a catar pequi, atividade que envolve homens, mulheres e crianças. O fruto é apanhado no chão, debaixo dos pequizeiros, com os moradores entrando em qualquer fazenda ou sítio, independentemente de quem seja o proprietário da área, para a prática extrativista.
“Embora tenha ocorrido uma queda na safra, o preço do pequi melhorou. Antes, a caixa de pequi em casca, de 30 quilos, era vendida pelos catadores em Japonvar por preços que variavam entre R$ 5 e R$ 7. Este ano, a caixa do pequi passou a ser vendida por R$ 10 a R$ 12. Isso agregou valor ao produto e foi muito bom para os moradores”, disse o técnico. “Esses são os preços pagos pelos atravessadores aqui na cidade. Eles entregam o pequi em Belo Horizonte e outras cidades por R$ 20 ou R$ 22 a caixa”, observa Oliveira.
Sobrevivência de safra em safra
“Pra mim, o pequi representa tudo”, afirma a agricultora Maria dos Anjos Ferreira da Silva, a “dona Nenem”, de 40 anos, uma dos moradores de Japonvar que retira a renda do fruto símbolo do cerrado. “A produção diminiuiu, mas deu pra gente ganhar um dinheirinho. Foi uma bênção. O que ganhamos numa safra dá para (garantir) a nossa sobrevivência até a safra seguinte”, declara.
Dona Nenem já não é mais uma simples catadora de pequi, como foi desde criança. Ela também compra de outros catadores para produzir polpa e pequi em conserva. Com os rendimentos da safra 2018/2019, ela construiu uma pequena unidade de beneficiamento no local onde mora, na comunidade de Cabeceira do Mangaí, a três quilômetros da área urbana.
A agricultora disse que somente nesta safra conseguiu produzir 4 mil quilos de pequi com caroço em conserva e 500 quilos de polpa. Informou ainda que, assim que terminar a safra, vai trabalhar no beneficiamento da castanha do pequi. “O meu objetivo é vender 200 quilos de castanha de pequi este ano”, revela dona Nenem, que fornece o derivado do pequi para Brasília.
O extrativismo também garante a melhoria de vida de Teodomiro Alves de Sales, de 59, o “Duzinho”. “Para nós aqui, o pequi é mais que uma renda extra. É o nosso sustento mesmo”, assegura o pequeno agricultor, que mora na comunidade de Cabeceira de Passagem Funda, a 1,5 quilômetro da sede urbana de Japonvar.
Duzinho apanha pequi junto com a mulher, Marlene Aquino Alves, de 51, e a filha, Amanda Aquino Alves, de 26. Ele conta que se dedica à atividade extrativista desde que era muito pequeno. “Aqui é assim: quando o menino começa a andar, já vai pro mato catar pequi.”
As famílias sempre acordam cedo, por volta das 5h, para apanhar o pequi caído no chão nas áreas de cerrado. “Mas este ano, a concorrência aqui aumentou muito. Teve dia em que a gente saiu para catar pequi 10 horas da noite”, confessa o experiente agricultor.
PRAGAS Há vários anos que os pés de pequi vêm sofrendo o ataque de besouro. O inseto ataca o cerne e consome a parte lenhosa, provocando “brocas” (buracos) no caule das árvores, impedindo a passagem da seiva. As plantas começam a perder as folhas e morrem. Os prejuízos são enormes para os pequenos agricultores e comunidades extrativistas. “Existem lugares em que mais de 60% dos pequizeiros já morreram por causa do ataque da praga”, afirma Fernando Cardoso de Oliveira, técnico da Emater-MG, em Japonvar. Ele disse que o ataque ocorre também em outros pequenos municípios do Norte de Minas produtores de pequi, como Lontra, Coração de Jesus e Campo Azul. O técnico disse, ainda, que a Emater-MG já pediu a realização de um estudo sobre as mortes dos pequizeiros e o combate à praga junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), em Brasília, mas ainda não teve retorno.