O abacate virou destaque no noticiário nacional há uma semana quando o presidente da República usou as redes sociais para comemorar a abertura do mercado argentino para a produção brasileira da fruta. Adversários de Jair Bolsonaro criticaram a sua declaração lembrando que o abacate representa apenas 0,007% das nossas exportações.
Lançado recentemente pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e o programa Hortifruti Saber & Saúde, o relatório Cenário Hortifruti Brasil apontou que Minas é destaque nacional no cultivo da fruta, produzindo 52 mil toneladas anuais, atrás apenas de São Paulo, com 104 mil toneladas por ano.
De acordo com a Abrafrutas, em 2017 o Brasil exportou 7,8 mil toneladas de abacate, gerando um montante de R$ 43 milhões na cotação atual do dólar. Já os dados mais atuais da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) revelam que Minas exportou naquele ano mais de mil toneladas de abacate, principalmente para Espanha e Holanda, com valor de vendas de R$ 7,5 milhões.
O destaque de plantio em 2017 é a região do Alto Paranaíba que, segundo a Seapa, foi responsável por gerar mais de 23 toneladas do produto, equivalente a 47% do total do estado. O Sul de Minas também teve grande relevância, gerando quase 13,5 toneladas no mesmo período.
Apesar da comemoração de Bolsonaro, o abacate não está na lista dos 400 produtos mais exportados pelo Brasil em 2017, mesmo com 213 mil toneladas produzidas naquele ano, e nem a Argentina é um dos 50 maiores compradores da fruta brasileira.
Porém, o presidente informou, através de uma publicação em uma rede social, que a demanda do país vizinho é de 360 toneladas semanais. Com estes números, seria possível igualar a quantidade de exportações do ano passado em pouco mais de cinco meses.
Para o diretor-executivo da Abrafrutas, Eduardo Brandão, a abertura do mercado argentino para o setor foi muito importante devido à grande procura pelo abacate brasileiro por conta da saudabilidade e dos benefícios da fruta, o que certamente servirá de base para abertura de outros mercados. “A questão do Mercosul certamente facilitou a tramitação do processo.
A Abrafrutas já solicitou oficialmente ao Ministério da Agricultura e já estamos também trabalhando para entrarmos no Japão e Chile e, estes, devem ser os próximos mercados a serem abertos”, disse. Depois de estabelecer relações comerciais com a Argentina, Jair Bolsonaro disse que o próximo passo do Brasil é passar a comercializar com o Chile.
Demanda
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Abacate do Brasil (ABPA), Jonas Octavio, há uma grande demanda de interesse pela produção da fruta. “Acreditamos que vamos multiplicar a produção em cerca de 500 mil toneladas até 2022, ou seja, 60% a mais do que produzimos hoje.
A abertura do mercado argentino foi muito importante para nós, por ser perto e, assim, conseguimos manter maiores relações comerciais. Da mesma forma com o mercado chileno, que já está na mira e é um grande mercado consumidor de abacate”, explicou.
O Brasil está se tornando um grande produtor da fruta não somente pelo abacate tropical, mas também pelo tipo Hass, conhecido como avocado. Segundo Jonas, exporta-se cerca de 10% da produção de abacate no Brasil, e destes 10%, nove são do tipo Hass. Com a abertura do mercado argentino, estima-se um crescimento de mais de 3% nas exportações.
Saúde Por muito tempo o abacate foi considerado inimigo da alimentação por ser uma fruta gordurosa e calórica. No entanto, sabe-se hoje que essas gorduras são responsáveis pela redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos no organismo, podendo prevenir doenças cardíacas e até o câncer.
A fruta, de origem californiana, é a preferida no mercado internacional por suas qualidades quando usada em receitas de pratos salgados, já que há menos água em sua composição. Segundo a ABPA, o consumo médio da fruta no país passou de 600 gramas por pessoa ao ano, em 2016, para 900 gramas atualmente.
Mesmo com os 37 milhões de toneladas anuais de hortifruti produzidos no Brasil, dos quais entre 3% e 5% da produção são exportadas, o compilado mostra que áreas tradicionais de cultivos do país estão perdendo força. De acordo com a coordenadora científica do programa Hortifruti Saber e Saúde, Adriana Brondani, a região Sul e os estados de São Paulo e Minas Gerais estão reduzindo suas áreas de produção.
“Isso se dá em função do elevado preço da terra, da menor disponibilidade de mão de obra e de problemas fitossanitários ocasionados pela manutenção de um único tipo de manejo por anos consecutivos em uma dada área. Enquanto isso, novas regiões expandem sua produção, especialmente no Cerrado e no Nordeste”, destacou.
Tecnologia O relatório também chama a atenção para o uso racional de insumos agrícolas e a adoção de tecnologia pelos produtores. A fertilização foi identificada como um dos manejos mais importantes, uma vez que o uso correto resulta na utilização mais racional dos defensivos.
A irrigação e as práticas culturais, a exemplo das podas, também são fatores decisivos na produtividade e no sucesso dos agricultores de frutas e hortaliças. Segundo a pesquisa feita pelo programa Hortifruti Saber & Saúde, no cultivo do abacate a maior parte dos produtores têm perfil de média a alta utilização destas e outras tecnologias.
A pesquisa mostra, ainda, a relevância de Minas Gerais no setor hortifruti, que se destaca em 15 dos 24 cultivos estudados (abacate, abacaxi, banana, goiaba, laranja de mesa, limão, mamão, manga, melancia, melão, maçã, morango, uva de mesa, batata, cebola, cenoura, feijão vagem, pepino, pimentão, tomate de mesa, alface, brócolis, couve e repolho).
A produção de frutas e hortaliças no Brasil gera cerca de 13 milhões empregos diretos e indiretos, em uma área de pouco mais de 5 milhões de hectares, superando a cadeia de soja, que tem área superior a 34 milhões de hectares de norte a sul do país.
* Estagiário sob suspervisão de Marcílio de Moraes