Município de pouco mais de 7.500 habitantes, Delfinópolis conta com colaboradores de cidades vizinhas para movimentar um negócio que abrange 3.850 hectares de seu território.
A produção da fruta emprega 1.300 trabalhadores diretamente na lavoura e gera outros milhares de empregos indiretos. A banana gera emprego a um funcionário para cada três hectares de lavoura.
Localizada no Sudoeste de Minas Gerais, Delfinópolis abriga em torno de 160 produtores da “banana-branca” (prata) distribuídos em propriedades rurais que variam entre 12 hectares a 530 hectares (ha), e é também o segundo maior produtor de soja da região, que, junto com as lavouras de milho, café, frutas e produção de leite formam o topo de sua economia.
“A empregabilidade é alta porque, além das pessoas que cuidam diretamente das plantações, têm os fornecedores de insumos, adubos, defensivos, transportadores, motoristas de caminhão e de coletivos (são oito ônibus diariamente no transporte de trabalhadores para as áreas de plantio), funcionários de escritórios, contabilistas, mecânicos que consertam e prestam manutenção nos tratores e no maquinário e os transportadores”, explica Sávio Marinho, agrônomo da Emater, produtor e diretor da Associação dos Produtores de Banana de Delfinópolis (Adelba).
“Temos um gargalo para escoar a produção, que poderia abastecer outras regiões do estado e do país. A travessia da usina do lago formado pela Usina Mascarenhas, do complexo da hidrelétrica de Furnas, é feita por balsa, o que pode atrasar a entrega em até três horas na fila de espera”, adverte Sávio.
Antes da usina, a travessia do Rio Grande era por meio de uma ponte que ficou submersa. A alternativa foi a aquisição de duas balsas para a travessia. Uma saída seria o asfaltamento da BR-464, no trecho de pouco mais de 100 quilômetros até a área urbana de Delfinópolis.
“A banana é muito sensível e facilmente perecível. Não pode ficar muito tempo sob o sol, aguardando a fila para embarcar na balsa e não suporta a trepidação da via de terra. Precisamos de uma contrapartida da usina, que fornece energia e gera riqueza para todo o país, mas causa um problema para nossos produtores”, reclama o agricultor.
De acordo com Fernando Haddad, pesquisador da Embrapa Fruticultura e Mandioca, em Cruz das Almas (BA), bananicultura é atividade com mão de obra sempre presente. “A pessoa tem que estar diariamente na plantação para monitoramentos, como de doenças e desfolha. São vários procedimentos de manejo a requerer mão de obra.
RECUPERAÇÃO
A vocação para a banana foi descoberta a partir de 1993. Até então, o território tinha no café sua principal fonte de riqueza. Mas uma forte crise, provocada pelo excesso de produção, fez o preço cair vertiginosamente e impulsionou os produtores a buscar na fruticultura a recuperação de suas economias.
O começo foi com nove pequenos produtores que se associaram e realizaram o primeiro plantio em apenas 20 hectares de terreno, incentivados pela cooperativa de produtores de café da vizinha São Sebastião do Paraíso, que apontou a fruticultura como saída.
Atualmente, 70% da produção é destinada às cidades de porte médio do interior de São Paulo e à capital paulistana, além de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uberaba (MG), Uberlândia (MG) e Belo Horizonte.
Juscelino Marques da Silva cultiva banana-prata em território de 35ha há três anos e colhe em média 30 toneladas anuais. “A primeira colheita é inferior no preço, porque a muda é retirada de seu hábitat e o cacho fica pequeno, deixando o preço 60% menor em relação às próximas colheitas. Um cacho na primeira colheita não passa de 10 quilos, nas demais, são 28 quilos”.
Trabalhando no ramo há cinco anos e com uma propriedade de 20ha, considerada de pequeno porte, o produtor Victor Perticarrari conseguiu superar a média habitual de 25 toneladas/ano por hectare, e colheu 39 toneladas por hectare no ano passado.
Este ano, o número deverá ser um pouco menor, devido ao ataque de algumas doenças. Entre as principais está a sigatoka-amarela, fungos que atacam e matam as folhes, grandes nutrientes do fruto, que acaba não se desenvolvendo bem.
CLONAGEM
Presente à Terceira Feira da Banana de Delfinópolis, evento ocorrido de quarta a sábado, Gilberto da Cruz, gerente administrativo da Flora Biotecnologia, de Itajaí (SC), apresentou aos visitantes a produção da muda in vitro, uma clonagem das melhores cultivares de uma plantação.
“O produtor seleciona as melhores plantas de sua lavoura e nos encaminha. Elas são reproduzidas em laboratório e devolvidas em grande quantidade e com maior estabilidade genética, livre de doenças e pragas, o que promove maior rentabilidade ao produtor.
O material enviado pelo produtor deve vir com um certificado fitossanitário.” A empresa trabalha com qualquer cultivar e, caso o interessado não tenha um bom produto, ela adquire por meio de parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Itajaí (Epagri) ou via Embrapa. “Já estamos idealizando um banco de material genético das cultivares”, esclarece Gilberto Cruz.
Fernando Haddad conta também que a Embrapa está desenvolvendo pesquisa nacional para o cultivo da BRS princesa, variedade que agrega o sistema de produção. Parecida com a banana-maçã, ela é resistente ao mal do Panamá.
“Essa cultivar oferece um ganho de competitividade com a banana-maçã original, uma vez que ela (banana-maçã) cada vez mais se torna um produto de menor qualidade e marginal.
“Ninguém consegue manter uma mesma área produzindo banana-maçã por muito tempo. A princesa vem para suprir a necessidade desse tipo de fruta menor, mais doce.”
Mais qualidade e credibilidade
A Terceira Feira da Banana de Delfinópolis, realizada entre os dias 5 e 8, reuniu produtores compradores, pesquisadores e o que há de novidade em tecnologia no manejo e na comercialização do produto, além de maquinário. E apresentou uma novidade: o lançamento da marca “Banana de Delfinópolis – Orgulho de quem faz junto”, idealizada pelo Sebrae-Minas e a Associação dos Produtores de Banana de Delfinópolis (Adelba).
Marca coletiva é a identificação de produtos ou serviços provenientes de membros de uma determinada entidade.
De acordo com o presidente da Adelba, Marcelo Lemos Rusisca, o objetivo é garantir ao consumidor e aos produtores mais segurança e credibilidade. “O projeto tem também como objetivo capacitar os produtores e aprimorar o produto para atender aos grandes centros de consumo.”
Leonardo Mol, gerente do Sebrae Sudoeste e Centro-Oeste explica que a marca coletiva busca conectar o produtor a uma demanda do consumidor, que cobra rastreabilidade e atributos de valor.
“A marca coletiva é o primeiro passo” de um movimento que visa estruturar e organizar essas comunidades pensando no futuro.
Segundo a analista do Sebrae-Minas, Fabiana Rodrigues Rocha, Delfinópolis é hoje o segundo maior produtor de banana de Minas Gerais.
“O Sebrae apoia a bananicultura no município há cinco anos, e este momento, do lançamento da marca coletiva, é muito importante para o desenvolvimento do setor, pontua a analista.
Cláudio Castro, analista técnico da unidade do agronegócio Sebrae-Minas, explica que marcas coletivas como as indicações geográficas são novidade no Brasil, mas antiga na Europa. “Trazem o conceito de origens e contam a história dos produtores e de seu hábitat”.
CONSELHO
De acordo com Castro, a região da Canastra é um berço de diversos produtos. “É um território onde há fartura de água, condições de solo e clima favoráveis à produção de banana de qualidade, e com a vantagem de estar inserida no contexto da história de uma região muito conhecida por seus produtos e belezas naturais.
O Sebrae, dentro dessa estratégia, é responsável pelo desenvolvimento dessa construção feita a várias mãos, que tem como princípio a tentativa de identificar o DNA dessas pessoas, o que as move dentro do território.
Cláudio Castro explica que, em breve, será elaborado um protocolo de boas práticas, que norteará um conselho regulador, para avaliar a utilização da marca em produtos da região.
“Não se trata de uma certificação, mas um documento interno do conselho, desenvolvido por agrônomos e envolvendo outras entidades e o próprio produtor. Um mapeamento de processos do que podemos e do que não devemos praticar” esclarece.