Jornal Estado de Minas

festa no Arraiá

Tradição junina aumenta as vendas de produtos típicos da roça

Antigo comerciante do mercado, Daniel Gonçalves Costa, de 80 nos, diz que o comércio estava um ''um pouco devagar'', mas melhorou neste mês - Foto: Luiz Ribeiro/EM/ D.A Press
“Chegô” a alegria das festas juninas. Os “arraiás” não se restringem ao forró,  às quadrilhas e às brincadeiras com o linguajar. As fogueiras de Santo Antônio, São João e São Pedro aquecem a economia, incrementando as vendas das “coisas da roça”  como milho de canjica, milho de pipoca, goma de mandioca (usada para fazer biscoitos e beiju/tapioca), coco, rapadura e amendoim, além da cachaça e do gengibre (usados para fazer o quentão). Assim, a tradição também leva mais contentamento ao campo e contribui com a elevação da renda dos produtores.


O crescimento do consumo de canjica, biscoito, doces e outros produtos caipiras fortalece a agricultura familiar no Norte de Minas. “São beneficiados não somente os pequenos produtores, mas também as pessoas que usam os produtos como ingredientes, preparam e vendem os alimentos”, enfatiza Edina Souza Ramos, coordenadora da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade Estadual de Montes Claros.


O comerciante Walter Pereira dos Santos comemora as vendas 50% maiores nesta época do ano - Foto: Luiz Ribeiro/EM/ D.A Press
O maior faturamento nesta época é comemorado por pequenos agricultores, como Maria Rosângela Ferreira Fonseca, da comunidade de Boa Vista do Pacuí, no município de Coração de Jesus, no Norte do estado.  Ela prepara delícias como mingau de milho verde, e doces como pé de moleque e paçoca. “Realmente, este é um mês muito bom para todo mundo”, diz Rosângela, que leva a seus atrativos em feiras na área urbana.


A satisfação pela chegada da temporada junina é observada também entre os feirantes e donos de bancas do Mercado Municipal de Montes Claros, ponto turístico da cidade-polo norte-mineira, que tem como principais atrativos as mercadorias produzidas pelos pequenos agricultores da região.


Os comerciantes do local salientam ainda que a tradição da fogueira de são-joão no Norte do estado “já não é mais como antigamente”, mas, nesta época,  as pessoas não abrem mão do consumo da canjica, do biscoito e da pipoca e de outras guloseimas, como a paçoca e a vaca atolada (caldo à base de mandioca e carne de sol). As comidas típicas também são consumidas nas quadrilhas realizadas pelas escolas de ensinos fundamental e médio (públicas e particulares) e nas festas juninas organizadas por empresas, colegas de trabalho, igrejas e por clubes sociais, além de entidades filantrópicas.


Mercado Municipal de Montes Claros tem como principal atrativo as mercadorias produzidas pelo pequenos agricultores da região - Foto: Luiz Ribeiro/EM/ D.A Press
“As nossas vendas aumentam 50% nesta época do ano”, afirma Walter Pereira dos Santos,  dono das barracas de produtos da roça do mercado de Montes Claros.  Ele salienta que, nesta época, mesmo fora das festas, as pessoas consomem mais iguarias como a canjica e o pé de moleque. “Isso acaba se refletindo no comércio e beneficiando todo mundo”,  observa Walter, lembrando que, nesta ocasião, também existe maior procura pelos alimentos nos supermercados e mercearias.

O comerciante revela que todos os produtos sertanejos que revende são produzidos na própria região.


Walter conta que, dos seus 67 anos de vida, 53 são de trabalho no mercado de Montes Claros. Além de milho (de canjica e de pipoca), amendoim e coco, ele tem como um dos atrativos da sua barraca a boa cachaça, com várias marcas de Salinas, cidade norte-mineira conhecida internacionalmente pela boa qualidade da aguardente que produz. “Mas, para fazer quentão, é melhor usar a cachaça ‘solta’, a ‘curraleira’ de alambique”, diz o comerciante, referindo-se à bebida produzida artesanalmente e que não passa pelo processo de engarrafamento.


A “pinga solta” é vendida a R$ 8 o litro, quantidade suficiente para preparar cinco litros de “quentão”. Além de aguardente e água (que devem ser fervidos por, no mínimo, meia hora) e do açúcar (a gosto),  a bebida tem outro ingrediente que não pode faltar: o gengibre, também vendido na banca de Walter.

INCREMENTO



Daniel Gonçalves Costa, de 80, outro antigo comerciante do mercado de Montes Claros (27 anos de trabalho no local), alega que o comércio estava “um pouco devagar”, mas melhorou neste mês, com o incremento das vendas de milho de canjica, milho de pipoca, goma e de outros ingredientes das festas juninas. “Os produtos são vendidos em supermercados. Mas o pessoal gosta de comprar no mercado porque aqui podem conferir a qualidade das mercadorias soltas, sem embalagem fechada”, comenta “seu” Daniel.


Também proprietária de uma barraca diversificada do Mercado Municipal da cidade do Norte de Minas, Ivone Gonçalves Veloso lamenta que a tradição da fogueira de são-joão não seja tão forte nas comunidades rurais da região como era no passado. “Mas as pessoas nunca deixam de consumir a canjica e outros produtos juninos.

As nossas vendas aumentam muito nesta época”, comenta


A melhoria do faturamento neste período também é comemorada por Juciene Figueiredo Fernandes. A banca dela se destaca no mercado de Montes Claros pela venda de um produto: rapadura, matéria-prima do pé de moleque. “Nesta época, as pessoas procuram muito pela rapadura e não somente para fazer o doce, mas para consumo próprio mesmo. Isso é muito bom, pois a rapadura é muito saudável”, diz Juciene. A rapadura é vendida ao consumidor a R$ 10, a unidade.

A fisioterapeuta Pedrina Magalhães confessa que, neste período, compra e consome produtos juninos como a canjica. “Isso faz parte da nossa cultura. As festas juninas acabam incentivando o consumismo e fomentam a economia”, conclui a consumidora.

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