O morango, que ainda integra a lista dos alimentos que mais contêm agrotóxicos em sua produção, foi alvo de duas boas notícias na semana passada. Quatro produtores de Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, receberem os primeiros atestados do Programa de Certificação de Produtos Agropecuários e Agroindustriais (Certifica Minas), criado no governo passado: Reinaldo José Pereira, Clemilson Assis de Oliveira, Márcio Pereira Tosta e Carlos Rozimir Pereira. Dois deles, Carlos Rozimir e Reinaldo José Pereira, também deverão receber em breve o selo SAT (Sem agrotóxico).
A cidade é o principal polo produtor da fruta no estado, com volume estimado em torno de 98 mil toneladas por ano. A região responde por 84% da produção mineira (116 mil toneladas), de acordo com levantamentos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). As lavouras do fruto no Sul de Minas envolvem toda a família, num atividade mantida por várias gerações.
Carlos Rozimir Pereira cultiva a fruta sem agrotóxicos há nove meses e se disse muito empolgado com a conquista do selo. “Ficamos sabendo ontem (na quinta-feira) que a análise de nosso produto foi negativa quanto à presença de agrotóxicos e estou ansioso para saber quando receberemos o SAT”.
O pai de Carlos, Rodolfo José Pereira, começou o cultivo em 1977 e toda a família de oito irmãos passou a trabalhar na agricultura familiar. Ele conta que há muito tempo se interessou pelo mercado orgânico, mas que encontrou algumas dificuldades para esse tipo de cultivo. No entanto, continuou as experiências com controle biológico de pragas.
“Passamos ao plantio suspenso e em estufas, o que facilitou esse controle”. Ele se utiliza de ácaro predador que é inimigo natural das pragas e os fungos são combatidos com produtos biológicos. A família cultiva 40 mil plantas e a expectativa é de colher 40 toneladas do fruto neste ano. Toda a produção é enviada a Curitiba, no Paraná. A propriedade no Sítio dos Pinheiros, no bairro Massaranduba, produz durante todo o ano, mas os melhores resultados ocorrem entre maio e outubro.
Reinaldo José Pereira, um dos produtores certificados pelo programa Certifica Minas, aprendeu com o pai, José Rodolfo, de 88 anos, que iniciou os plantios em 1967 e ainda está na atividade. Em meio século de atividade familiar, Reinaldo testemunhou muitas transformações: em sua propriedade, o plantio no chão foi substituído pelo modelo suspenso, dentro de estufas; a chegada de novas variedades; a mudança nas embalagens e a redução em torno de 90% do uso de agrotóxicos. “É possível produzir morango sem agrotóxico e, a partir dessa constatação, decidi investir na certificação para agregar valor à minha produção e buscar mercado diferenciado”, afirma.
Gestão
A safra de 33 toneladas anuais da família Pereira, que tem como destino Juiz de Fora, na Zona da Mata, é negociada no ano anterior, com o preço já definido. “A preocupação da gente é com a qualidade, em primeiro lugar, e depois com o volume, porque o preço a gente já fecha antecipadamente para o ano inteiro. Com o selo SAT, a gente espera agregar mais valor ainda, um acréscimo em torno de 20%, calcula”.
A safra de 33 toneladas anuais da família Pereira, que tem como destino Juiz de Fora, na Zona da Mata, é negociada no ano anterior, com o preço já definido. “A preocupação da gente é com a qualidade, em primeiro lugar, e depois com o volume, porque o preço a gente já fecha antecipadamente para o ano inteiro. Com o selo SAT, a gente espera agregar mais valor ainda, um acréscimo em torno de 20%, calcula”.
A certificação vem atraindo o interesse dos produtores, que estão de olho na mudança de perfil dos consumidores. Além de praticidade, sabor e preço, o mercado consumidor está exigindo outros parâmetros, como a rastreabilidade do produto (saber quem está produzindo e em qual região); quer transparência nas informações que garantam a segurança daquilo que ele está consumindo e quer saber se os requisitos socioambientais estão sendo respeitados em todas as fases de produção.
“O principal motivo que me fez buscar a certificação é ter um produto diferenciado e de boa procedência”, afirma Márcio Pereira Tosta, produtor de morango de Pouso Alegre que também recebeu o certificado do programa. Ele ainda destaca outros benefícios que conquistou, ao adequar a propriedade e os processos de produção aos requisitos exigidos pelo programa. “Passei a ficar mais organizado, a fazer anotações de tudo que eu faço. Não era acostumado a fazer e nunca sabia o que gastava. Hoje, consigo saber o quanto gasto na minha lavoura, se tenho prejuízo ou o quanto eu estou ganhando”, afirma.
A adesão ao programa de certificação é voluntária. O interessado deve possuir inscrição estadual em Minas Gerais, requerer ao IMA a adesão ao produto/segmento de seu interesse e assinar o contrato. O produtor deve, também, permitir o acesso dos técnicos da Emater-MG ou de profissional credenciado para orientações e dos auditores para a realização de auditorias nos empreendimentos inscritos no Certifica Minas, além do pagamento das taxas de certificação, quando aplicáveis. O selo de certificação tem a validade de um ano, podendo ser revalidado, de acordo com o interesse do produtor, após novas auditorias do órgão certificador.
Passo, agora, é buscar na produção em escala
O produtor Clemilson Assis de Oliveira optou pela certificação porque queria produzir com mais responsabilidade. Buscando se aperfeiçoar na atividade, desde quando iniciou o negócio nos anos 1990, ele também melhorou a gestão da propriedade e o gerenciamento da lavoura de 44 mil plantas, no município de Espírito Santo do Dourado. “A expectativa é de poder oferecer, cada vez mais, um produto com responsabilidade para o consumidor, além de agregar valor à nossa produção”, afirma.
Segundo o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Carlos Eduardo Oliveira Bovo, a certificação de produtores de morangos do Sul de Minas é um marco para o programa.
“A região de Pouso Alegre é o principal polo mineiro produtor de morango, cultura que é historicamente associada ao uso inadequado de defensivos agrícolas. A certificação vem ao encontro de um trabalho intenso e de muitos anos junto aos produtores, feito pela Seapa, Emater-MG, IMA e outros parceiros na redução e controle do uso de defensivos”, afirma. O próximo passo será partir para ganho de escala na produção, uma vez que a demanda para os certificados é muito maior que a oferta nas regiões metropolitanas.
“A região de Pouso Alegre é o principal polo mineiro produtor de morango, cultura que é historicamente associada ao uso inadequado de defensivos agrícolas. A certificação vem ao encontro de um trabalho intenso e de muitos anos junto aos produtores, feito pela Seapa, Emater-MG, IMA e outros parceiros na redução e controle do uso de defensivos”, afirma. O próximo passo será partir para ganho de escala na produção, uma vez que a demanda para os certificados é muito maior que a oferta nas regiões metropolitanas.
Com o objetivo de manter maior número de técnicos prestando assistência técnica e ajudando os produtores a alcançar os pré-requisitos necessários à certificação de sua produção, a Seapa regulamentou o credenciamento de instituições privadas e profissionais autônomos para a prestação desses serviços dentro do Certifica Minas. No ano passado, a equipe técnica da secretaria apresentou o programa e realizou diversos treinamentos para os grupos interessados.
A engenheira-agrônoma Míriam Xavier participou dos treinamentos e se credenciou para trabalhar no Certifica Minas, orientando os quatro produtores de morango que receberam a certificação do programa. “A gente apresentou o Certifica Minas Frutas para os produtores da região de Pouso Alegre e desenvolvemos o trabalho com grupos de produtores por cerca de nove meses. Foi uma experiência que deu muito certo, porque eles trocavam informações e as boas práticas entre eles. O valor da consultoria foi dividido entre o grupo, reduzindo os custos”, explica Míriam, que atua na empresa Compartveg, de consultoria de qualidade e segurança de alimentos.
A certificação já existe há mais de 10 anos para outras culturas e, no ano passado, foi lançada para frutas. “Treinamos produtores, promovendo toda orientação exigida para a certificação em questões ambientais, trabalhistas, segurança no trabalho e rastreabilidade”. A primeira coisa é conseguir comprovar como o alimento foi produzido. A rastreabilidade é exigida, por lei, desde ano passado para todos os hortifrutigranjeiros. Instrução Normativa Conjunta número 02 (do Ministério da Agricultura e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa) cria critérios, que, ao serem cumpridos, permitem também melhorar a gestão da propriedade, proporciona mais segurança ao produto, ajuda a identificar a origem de eventuais problemas e agiliza o combate a eles.
o que é
As ações de certificação de produtos agropecuários são desenvolvidas no estado há mais de uma década. O café é um dos produtos mais tradicionais contemplados pelo programa. Cachaça, algodão, alimentos sem agrotóxicos e orgânicos também já faziam parte da relação de produtos atendidos pelas ações. No ano passado, o governo estadual transformou em política pública todas as ações de certificação agropecuárias que já estavam sendo realizadas, incorporando novos produtos ao programa. Passaram a fazer parte das ações leite, frutas, carne bovina, queijos artesanais, azeite, mel e olerícolas (hortaliças). O Certifica Minas é coordenado pela Secretaria de Agricultura e desenvolvido em conjunto com as instituições vinculadas (Emater-MG, Epamig e o Instituto Mineiro de Agropecuária, que é o órgão certificador, responsável pelas auditorias nas propriedades), além das parcerias com a iniciativa privada.