No mês de fevereiro, na cidade de Congonhas, região central de Minas Gerais, a prefeitura, por meio da Secretaria de Educação, paralisou temporariamente as atividades de uma creche e remanejou alunos de uma escola municipal, devido à insegurança das famílias em relação à Barragem de Casa de Pedra, localizada próximo da cidade com, cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos, de acordo com a prefeitura. A situação gerou tensão e receio entre moradores.
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Barragens criam novo 'bicho-papão' que as crianças precisam aprender a superarComo proteger nossas crianças dos novos medosCongonhas: alunos tranquilos, mas em estado de atenção Os caminhos que levam à superaçãoCOLETIVIDADE Apesar de novas, o diretor comenta que as crianças estão tranquilas e sabem dos riscos, por causa do estado de atenção passado pelos familiares. “Eles têm consciência da situação e sentem as preocupações dos pais com o medo de terem que sair de casa”, pontua. Anivaldo Souza destaca que a tensão criou um senso de coletividade por parte da comunidade.
Entrevista: Roneida Gontijo-Psicopedagoga
Acreditar no futuro é fundamental
Acostumada a lidar com medos e traumas no atendimento a crianças e jovens, a profissional discorre sobre o assunto tragédia e aponta caminhos possíveis para evitar o trauma
De que forma tragédias como a de Brumadinho impactam crianças e adolescentes?
Definitivamente, perder a forma de viver de uma hora para a outra é assustador. De repente, ficar sem casa, animais de estimação, parentes, amigos, escola. Lugares em que brincavam, se divertiam, é um trauma muito grande. Partindo desse pressuposto, percebemos vários tipos de sentimentos, como medo, insegurança, tristeza, dor, angústia, saudade, desamparo e impotência, entre outros.
É possível auxiliar essas crianças e jovens a seguirem em frente?
Inicialmente, acolher e respeitar o turbilhão de sensações e sentimentos que surgem com a catástrofe é um ponto de partida para o auxílio. É importante ajudá-los a acreditar que tudo aquilo vai passar, e será necessário encontrar meios para acreditar no futuro, e reconstruí-lo.
Em que medida o medo e/ou trauma impactam no desenvolvimento e no equilíbrio mental de crianças e adolescentes?
Os traumas podem desenvolver doenças psiquiátricas (depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático), cardiovasculares e mortalidade na idade adulta, inclusive o suicídio. E os danos causados por elas podem gerar cicatrizes emocionais na vida adulta, que, se não tratadas, deixarão marcas profundas.
Qual é o papel das escolas nesse sentido? E dos pais?
O acolhimento e a escuta são fundamentais. Responder às perguntas sem mentira, de uma forma adequada para cada faixa etária, é muito importante. Na escola, é muito importante a criação de projetos, no intuito de acolher e trabalhar as habilidades emocionais de forma mais intensa, como o respeito, o amor, a empatia, a solidariedade, a paciência, a resiliência, projeção de futuro, prevenção ao uso de drogas e resgate da autoestima, entre outros. E um trabalho de suporte, acolhimento e orientação à família também deve ser dado. Neste momento, os pais também terão papel fundamental, como o acolhimento, a escuta e o apoio.
De que forma é possível tratar uma situação de estresse causada pelo medo?
O primeiro passo é detectar quais sintomas são apresentados pela criança ou jovem. Algumas podem apresentar insônia, irritabilidade, apatia, tristeza, medo exacerbado, desinteresse em pessoas ou coisas de que antes gostavam muito.
Há exercícios e/ou análises de comportamento que possam identificar o medo e o trauma em uma criança?
Prestar atenção no comportamento das crianças e jovens é de suma importância para identificar o momento e/ou a necessidade de buscar ajuda de especialistas. A partir daí, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e outros profissionais poderão ajudar..