“Quem canta seus males espanta. Por isso é que eu vivo a cantar sem cessar”, sábia Carmen Miranda. Cibele Oliveira, cantora, professora, instrutora de ioga, pesquisadora e psicóloga, aplica o canto terapêutico para proporcionar prazer, bem-estar e alegria. “No meu método, pratico um canto que se torna terapêutico a partir de suas dinâmicas e vivências. É um estudo prático. E quando se canta, sobretudo em grupo, ele se torna um instrumento de conexão consigo mesmo, com o outro, e até mesmo com o que chamamos de divino, esse aspecto transpessoal que, muitas vezes, nem temos a palavra certa para conceituar.”
Cibele Oliveira conta que, há milênios, a música e o canto são usados de forma ritualística, curativa, sociogrupal, terapêutica e espiritual. “Todas as religiões usaram e usam a música para um contato com o ser superior, que vive dentro e fora de nós, e para atingir níveis mais elevados de consciência. Trabalho com idosos há mais de duas décadas e percebo, naqueles que são portadores de doenças degenerativas da memória, que eles, muitas vezes, nem se lembram de quem eu sou, mas logo que começo a cantar alguma canção que fez parte da história de vida deles, a memória daquelas canções está ali, totalmente presente.
O canto, conforme Cibele Oliveira, cura todos, trata de feridas. “O tratamento do som, da música e do canto abrange diversos aspectos e áreas da vida. Recebo inúmeros depoimentos, desde o aluno mais jovem, até o meu aluno mais velho, de 93 anos, de transformações que o canto proporcionou em suas vidas. Já levei dois alunos de 90 para gravar um CD para a festa de aniversário deles, e isso foi um sonho de juventude realizado. Normalmente, acompanho meus alunos mais idosos até seu último suspiro e me sinto imensamente grata quando vou me despedir deles, e cantamos juntos. São variados os benefícios de cantar.
Para Cibele Oliveira, o canto é uma expressão vocal e, no caso das músicas universais e devocionais, é um som dotado de poder psicoespiritual. “É um som que dá poder à mente e que vai além dela. É um veículo meditativo de transformação do corpo e da mente. A música também tem todos esses atributos e valores, mas, dependendo do tipo de música que escutamos, pode ocorrer o contrário: o rebaixamento da consciência e a inspiração a valores humanos mais baixos. Estamos envolvidos por som e vibração a todo momento, o fenômeno da ressonância musical afeta todas as nossas células. Os sábios indianos estudam a relação entre som e consciência há milênios, por meio do Nada Brahma ou ioga do som.
A verdade, lembra a professora, é que todos nós precisamos de música. “E já existem estudos profundos sobre a influência da música nos bebês recém-nascidos (e até dentro do ventre). As plantas e os animais também são afetados. Tenho inúmeros vasos em meu apartamento e um dia, um excelente permacultor foi nos visitar, e disse que minhas plantas escutavam meu canto e minha música, por isso estavam crescendo tão saudáveis. O som influencia os átomos e as moléculas, o ritmo da respiração, o pulso e o metabolismo. Uma boa música permite que a energia flua para integrar corpo e mente. Traz presença, libera endorfinas e outras alterações hormonais e neurológicas positivas.”
ALMA Enfim, o canto terapêutico faz bem à alma, ao corpo e à mente. “O ouvido humano é o primeiro órgão a se desenvolver no embrião e torna-se funcional depois de 18 semanas. Os sons podem ter diversos efeitos sobre as células, tecidos, órgãos e sistema endócrino.
Cibele Oliveira conta que tem alunos de 7 a 93 anos. E ela tem grupos específicos para mulheres, nos quais são feitas partilhas e vivências. “Mas é claro que os homens podem participar, para que o feminino e o masculino possam ser inteiramente trabalhados.