Qual o número do celular do seu filho? Nossa, não sei! Tá gravado no smartphone. E o endereço do tio, sabe como chegar? Não, mas é só colocar no Waze. Quanto é 39 %2b 57? Soma aí na calculadora do telefone. Você leu a reportagem sobre a reforma da Previdência? Só partes, muito grande, não tive paciência e estou sem tempo. Lembra com detalhes da sua última viagem? Nem tanto, mas as fotos estão todas lá, no Instagram. Viu a mensagem no WhatsApp? Visualizei, enorme! Desisti na metade. Você se reconhece em alguma dessas situações? É do tipo que a maioria das respostas e informações está, obrigatoriamente, atreladas às mídias eletrônicas? Se a resposta for sim, então é melhor repensar seus hábitos.
O livro The shallows: what the internet is doing to our brains (O superficial: o que a internet está fazendo com nossos cérebros), do jornalista Nicholas Carr, finalista do prêmio Pulitzer de 2011 na categoria não ficção geral, é uma obra que reverbera sobre a seguinte questão: “Estamos ficando mais burros, e a culpa é da internet”.
Há quem veja as mídias eletrônicas assumindo o papel de “novos braços e cérebros” do ser humano. Por um lado, elas contribuem para o conhecimento aumentar exponencialmente, o que faz o mundo ficar mais inteligente. Por outro, individualmente, o homem emburrece porque sabe menos do todo. Ficou impossível acompanhar.
Desde então, a grande rede só evoluiu, cresceu e inovou. Para Nicholas Carr, o modo como a informação é disseminada na internet deteriora o cérebro em um nível físico, destruindo as conexões e circuitos cerebrais responsáveis, entre outros, pela capacidade analítica de processar informações, com resultados desastrosos para a memória de longo prazo assim como afetando a criatividade. Daí a conclusão de que a rede pode estar deixando as pessoas menos inteligentes.
PENSAMENTO RASO
Levantada a questão, muitos estudos e pesquisas já foram e continuam sendo feitos. A preocupação é quanto à preservação, principalmente, da chamada memória de curto prazo ou memória de trabalho, que pode ser alterada prejudicando suas funções. Em 2007, o professor de psiquiatria da Universidade da California - Los Angeles (UCLA), Gary Small, autor do livro iBrain: Surviving the technological alteration of the modern mind (iBrain: Sobrevivendo à alteração tecnológica da mente moderna), recrutou três experientes internautas e três novatos para um estudo sobre a atividade cerebral.
Sinal de alerta ligado. Hora de pensar como a web está moldando nosso cérebro. Ainda não se sabe até que ponto é prejudicial ou não. No entanto, estudiosos apontam que, ao navegar na rede, os internautas entram em um ambiente que promove “leitura superficial, raciocínio apressado e distraído e aprendizado superficial”. Ou seja, apesar do volume de informação, o pensamento está cada vez mais raso, o que pode mudar a estrutura do cérebro. Conversamos com especialistas para clarear a discussão sobre até que ponto tudo isso é preocupante ou não.
O caminho do meio
As novas tecnologias são poderosas e revolucionárias.
É indiscutível o impacto das tecnologias sobre a mente humana. Ainda não se sabe se as mídias eletrônicas causam problemas ou apenas os potencializam. Não existe um diagnóstico fechado, por isso, é recomendável cautela no uso, principalmente entre crianças e adolescentes cujo sistema nervoso está em desenvolvimento. Sidarta Ribeiro, neurocientista do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que as mídias eletrônicas estão ao mesmo tempo nos fazendo mais inteligentes e mais burros. “Mais inteligentes porque agora qualquer pessoa carrega um computador poderoso no bolso, conectado ao mundo inteiro e capaz de dar mais respostas instantâneas do que uma enciclopédia inteira. Mais burros porque estamos terceirizando para as máquinas uma série de funções que antes nossos cérebros faziam, como o armazenamento de números de telefone, definições de conceitos, mapas de localidades etc. E também porque vivemos em constante interrupção da atenção causada por essa infinitude de possibilidades. O que vem aumentando nossa capacidade de processar informações em paralelo (multi-tasking), mas diminuindo nossa capacidade de aprofundamento e concentração.”
O neurocientista avisa que, sem percebermos, estamos nos transformando em ciborgues virtuais. Ele destaca que quem nasceu antes da década de 1990, quando a internet se generalizou e sofisticou, recorda-se bem de como as coisas eram diferentes: “Somos os ciborgues 1.0. Quem nasceu depois disso simplesmente considera todas essas mudanças tão naturais que nem se dão conta da maravilha e do perigo que a mudança representa.
Sidarta Ribeiro acredita que a media multi-tasking (multitarefa de mídias) provoca um impacto na mente humana sem precedentes: “Não tem volta, já que nossa espécie se caracteriza por aquilo que o psicólogo Michael Tomasello denominou de catraca cultural: quando inventamos uma novidade cultural útil, ela se dissemina e não voltamos mais atrás”. O neurocientista reforça que estamos todos com milhares de Barsa (enciclopédia) no bolso, mas, por outro lado, temos dificuldade de discernir informação útil de lixo cultural. Estamos engasgando de tanta informação...
ROBÔS
Hoje, a certeza da facilidade de acesso à informação, de não ter que pensar (tudo é automático e está gravado), tem provocado “brancos” e “lapsos” cada vez mais comuns e em todas as idades: “Exato! Estamos passando inúmeras atribuições para as máquinas sem ao menos nos darmos conta disso. No futuro, não apenas os lavradores e os operários serão substituídos por robôs, mas também os advogados, engenheiros e médicos. Se haverá lugar para gente de carne e osso nesse mundo, é difícil prever...”, alerta Sidarta Ribeiro.
Como tudo na vida, ainda que soe clichê, a única saída (e talvez a solução!) é o uso moderado da tecnologia. Para Sidarta Ribeiro, não apenas é possível, mas é a única alternativa saudável. “É típico do macaco humano se lambuzar com as novidades que inventa. E isso ocorre até com as melhores cabeças. A maravilhosa Marie Curie, primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e única pessoa a ganhar o Nobel em duas ciências diferentes (física e química), foi pioneira no desenvolvimento da teoria da radioatividade, no isolamento de isótopos radioativos e na descoberta de elementos radioativos. Apesar de toda a sua genialidade, morreu de leucemia por causa de toda a radiação que recebeu inadvertidamente. Precisamos urgentemente encontrar moderação no uso da internet, pois o excesso de exposição às telas está atrofiando cérebros (há vários estudos mostrando isso), empobrecendo relações humanas (famílias almoçando juntas no domingo, cada um em sua tela) e emburrecendo nosso debate público (vide as eleições de 2018, com sua enxurrada de fake news odiosas).”
Para Sidarta Ribeiro, é difícil dizer qual mídia eletrônica é a pior e qual é a melhor, já que depende do uso que se faça dela. Há estudiosos questionando, por exemplo, a febre do Instagram. A pós-doutora Giuliana Mazzoni, professora de psicologia e neurociência da University of Hull, no Reino Unido, alerta que a fotografia instantânea pode alterar nossa personalidade. “As selfies e poses são planejadas, não têm naturalidade. Se a gente se basear fortemente em fotos, ao nos lembrarmos do passado, poderemos criar uma identidade própria distorcida com base na imagem que desejamos promover para os outros.” Conforme levantamento da revista Superinteressante, atualmente, 1.100 fotos vão para a rede a cada segundo e 4,2 bilhões é a quantidade de curtidas que as fotos postadas na rede recebem a cada dia.
O neurocientista enfatiza que, no caso das fotos postadas no Instagram, as pessoas estão construindo personagens de si mesmas. “Isso tem um lado lindo, especialmente para as classes menos favorecidas, que antes da internet estavam condenadas a trabalhar sem parar e não ter tempo para construir a própria narrativa. Pense como mudou para melhor a vida do ascensorista, do porteiro e da cozinheira, que agora podem aproveitar todos os intervalos do trabalho para habitar seu infinito particular. Por outro lado, a glamourização da própria vida pode ser fonte de muita infelicidade e frustração, porque quando se apaga a tela a vida não é nada daquilo que foi projetado.”
SABEDORIA
Sidarta Ribeiro alerta que, apesar de toda a maravilha dessas mídias, “sou desconfiado delas e quase não uso nada disso, pois valorizo a fruição do tempo presente. Se estamos sempre tirando fotos para a posteridade, perdemos a vida que está ocorrendo agora. Mas, apesar de todos os meus receios, sinto-me claramente dependente do e-mail e da mídia eletrônica mais tradicional. Com exceção de algumas pessoas que não aderiram, estamos todos embarcados nessa aventura exagerada rumo a um destino desconhecido e potencialmente perigoso. Precisamos encontrar ‘o caminho do meio’”.
Mas o neurocientista se mostra preocupado com os excessos de crianças e adolescentes, sobretudo para os jovens. “Há estudos científicos sólidos mostrando que os bebês, embora se interessem por imagens de pessoas falando numa tela, não aprendem linguagem dessas interações. Somos seres profundamente sociais, foi nossa capacidade de interação com os outros que nos tirou das cavernas e trouxe até a internet. Se perdermos a capacidade do contato humano, olho no olho, pele com pele, talvez percamos nossa humanidade completamente. E, assim, abramos caminho para ciborgues 3.0: sem amor, sem compaixão, sem alma. Mas não quero ser catastrofista. As novas tecnologias são poderosas e potencialmente revolucionárias no bom sentido. O que precisamos é de sabedoria para utilizá-las em prol da espécie, e não contra ela.”
Guilherme Cunha, mestre em neurociëncia pela UFMG, membro da equipe do Hospital Mater Dei e da Santa Casa de BH
Cognição estendida
"Um marco da nossa espécie é a incrível capacidade de nos adaptar às mais variadas condições de existência. Grande parte desse fenômeno se deve à nossa cognição, um conjunto de operações mentais altamente especializadas que nos permite ter comportamentos adaptativos dos mais variados. Com o surgimento da internet há aproximadamente 30 anos, nossa cognição vem sofrendo uma espécie de ‘digitalização’, ou cognição estendida. Nossa memória não está mais sob os domínios da nossa pele, mas sim espalhada em bilhões de computadores interconectados em todo mundo. É isso mesmo! As mídias eletrônicas estão afetando nosso cérebro, e esse é um caminho sem volta. Estudos revelaram que o uso de mecanismos de busca altera a forma com que o cérebro processa informação, especialmente a ativação da porção mais anterior do lobo frontal. Além disso, mostrou-se que priorizamos o ‘como achar’ ou ‘onde está’ a informação em vez da informação propriamente dita. Em um outro estudo conduzido na universidade de Fairfield, em Connecticut, nos EUA, pesquisadores mostraram que a habilidade de se lembrar de objetos era prejudicada quando se tirava foto deles. Para onde estamos indo ainda não sabemos, mas precisamos entender que quando criamos contexto para a avalanche de informações às quais somos submetidos diariamente, tudo faz mais sentido. Crie contextos, e você poderá desfrutar de forma ainda melhor do seu cérebro digital."
Use, com moderação!
Não há dúvida sobre os benefícios da tecnologia. No entanto, ela cria uma acomodação em relação a usarmos o cérebro para resolver problemas ou armazenar conhecimento. Como agir?
Antigamente, para dirigir um carro, você precisava entender um pouco de mecânica para chegar ao fim da viagem. Hoje, basta saber ligar o motor. E, daqui a pouco, nem isso. Vai andar em carro autônomo (já existe a tecnologia, falta ainda a infraestrutura). Esse é um dos vários exemplos dentro da concepção de uma sociedade coletivamente mais inteligente e, individualmente, mais burra. Ao pensarmos no smartphone, que se torna cada vez mais uma ferramenta indispensável, Gilda Paoliello, psiquiatra, psicanalista e professora do curso de pós-graduação em psiquiatria da Faculdade Ipmed de Ciências Médicas, afirma que não é exagero dizer que os smartphones se tornaram uma extensão de nossos corpos, chegando até a fazer parte de nosso esquema corporal, além de ser um “controle remoto de nossas vidas”, pois podemos ser acionados a qualquer momento.
Quando estamos sem ele é como estar sem um braço ou, mais grave ainda, sem nosso cérebro. “Aí é que a coisa pega: esse aparelhinho mágico acessa a internet, toca música, tira fotos, permite a comunicação, anula tempo e distância, ouve e responde nossas dúvidas, conhece nossas preferências em todos os âmbitos de nossas vidas e faz tantas outras coisas. Mas será que todas essas facilidades proporcionadas não nos deixam sequelas? Afinal, tudo tem um preço e é importante ver pra que lado a balança pende.”
A psiquiatra e psicanalista destaca que um dos principais estudos foi conduzido pelo neuropsicólogo Anthony Wagner, da Universidade Satnford (EUA): “Ele nos mostra que essa estimulação por múltiplas mídias é altamente prejudicial à nossa saúde mental e está, sim, nos ‘emburrecendo’, pois, à medida que substituímos o estímulo de nosso raciocínio e memória, delegando isso aos mecanismos de busca virtuais, estamos ‘terceirizando nosso cérebro’, deixando de estimular nossa capacidade cognitiva, limitando nossa capacidade criativa e também deixando de filtrar informações. O que pode trazer consequências desastrosas”.
Refúgio virtual
Além disso, Gilda Paoliello chama a atenção que a permanência em redes sociais e em multimídias simultâneas em grande parte do dia, acaba gerando um desgaste intenso em nosso psiquismo, podendo levar a desgaste mental, irritabilidade e até mesmo aumento da impulsividade. Além de nos afastar do convívio pessoal com familiares e amigos, gerando solidão e angústia, que é preenchida por maior refúgio na vida virtual.
Para a psiquiatra, “a ilusão é termos o mundo nas mãos acionando esses aparelhinhos. A realidade é nos tornarmos prisioneiros, levando a uma verdadeira síndrome de abstinência na impossibilidade de usar tais recursos, o que caracteriza um transtorno que já tem nome: nomofofobia, uma abreviação, do inglês para no-mobile-phone phobia”.
Gilda Paoliello alerta que essas questões são ainda mais importantes quando o usuário tem o cérebro em formação, ou seja, para as crianças e adolescentes. “Ainda não sabe se esses problemas são causados ou potencializados pelo excesso de tecnologia, mas os danos já são comprovados. É importante discutirmos essas novas relações, suas dimensões e seus limites, lembrando que esses limites devem ser impostos por nós, usuários, pois a tecnologia não tem ética nem moral. Temos que cuidar para que a parte boa seja preservada, nos ocupando desses limites para que não sejamos controlados pelo que criamos. Então, a ordem do dia é: smartphone, use com moderação.!”
Andrea Ramal, educadora, doutora em educação e autora do livro Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem
1) Excesso de estimulação e exposição simultânea a múltiplas mídias afetam a memória?
No que se refere à educação, posso dizer que afeta ao menos a forma de estudar: decorar menos, cada vez menos, pois o conhecimento está ao alcance com um clique. E é possível que interfira, pelo menos no que se refere às intenções. Ninguém quer perder tempo decorando coisas. Isso é interessante porque reservamos a energia de nossa atenção e foco para o que realmente é necessário.
2) O fato de toda informação estar a um clique interfere no processo de aprendizagem?
Sim, pois o acesso ao conhecimento é mais rápido, e a diversidade de fontes é muito maior. Por outro lado, nem todas as fontes são seguras e confiáveis, ao contrário do que era a Barsa (enciclopédia). Então, o aprendizado precisa se focar em saber interpretar, avaliar informações, selecionar o que é válido, comparar visões… Em vez de simplesmente consultar e copiar. O uso excessivo de tecnologia provoca alguns prejuízos. Um deles é a perda de foco com relação às atividades do dia a dia, outro é o isolamento social. E há também o impacto no desenvolvimento de alguns aspectos da cognição (memorização) e na capacidade de memorizar. No entanto, o problema não é a tecnologia, mas sim a maneira como se usa.
3) Como usar as múltiplas mídias como ferramentas de aprendizagem?
Essa é a proposta das metodologias ativas de ensino. Graças às tecnologias digitais, está ocorrendo uma revolução nas relações da sala de aula: entre alunos e professores, entre estudantes e conhecimentos. Hoje, o estudante pode ser mais proativo e buscar o conhecimento por si mesmo, enquanto o professor pode assumir um novo papel, de orientador da aprendizagem. Não há dúvida de que mesclar o estudo por livros impressos com objetos digitais, conforme os percursos e ritmos de aprendizagem de seus alunos, é o caminho mais indicado para que escolas e universidades brasileiras melhorem o padrão de desempenho dos estudantes. Isso implica reestruturar os planos de ensino, associando de forma lógica as aulas presenciais e as atividades a distância. Mas, para dar certo, em cada área do conhecimento, há que garantir conteúdo de qualidade também nos aplicativos eletrônicos. É preciso ter cuidado com certas adaptações, improvisos e produções caseiras sem grande valor didático. Um ou outro aplicativo popular e divertido sempre pode motivar os alunos. No entanto, é mais provável que os melhores resultados de aprendizagem sejam os que derivem de conhecimento impresso e digital consistente, oriundo de autores e editoras de referência na área técnica, científica e acadêmica, estudado com a orientação de professores bem preparados. É isso que, para além de divertir e motivar, desenvolve competências para o trabalho e para a vida.
Saia da zona de conforto
Não há dúvida de que o excesso de tecnologia deixa o cérebro mais lento e afeta a memória. Por isso, é importante que ele seja sempre exercitado diariamente para que se mantenha ativo
Como o corpo, o cérebro precisa de estímulos para se manter ativo. Exercitá-lo é fundamental. O Supera - Ginástica para o cérebro é uma escola dedicada ao desenvolvimento das capacidades do cérebro e à saúde mental. Com método embasado na teoria de inteligências múltiplas de Howard Gardner, que descreve a grande diversidade de talentos e estilos de aprendizagem, ele também encontra respaldo em descobertas e conceitos científicos como a neuroplasticidade cerebral, a capacidade que o cérebro tem de se modificar quando recebe estímulos. Pedro Ivo, gestor na unidade Pampulha e com know how nas ferramentas aplicadas pela escola, afirma que, naturalmente, o cérebro já tem uma tendência a ficar na zona de conforto, ou seja, é preguiçoso mesmo. Por isso, é preciso ficar atento ao uso irrestrito da tecnologia: “Estamos na era da comodidade, na qual as facilidades de algumas mídias eletrônicas limitam a atuação do cérebro, uma vez que as informações estão disponíveis com maior facilidade e rapidez. Dessa forma, o esforço mental para a realização de qualquer tipo de tarefa simples ou complexa está quase sempre aliada ao uso de algum dispositivo além do nosso cérebro. Então, sim, as mídias eletrônicas deixam o cérebro mais lento”.
Pedro Ivo explica que o cérebro é moldado por meio da atenção. Quando estamos atentos a uma determinada atividade trabalhamos com as conexões entre nossos neurônios (as sinapses). “No momento em que estamos concentrados, melhoramos a qualidade e a quantidade dessa comunicação, deixando o cérebro mas ativo e com mais disposição para a realização das tarefas diárias. Pode-se dizer que em várias situações estamos emburrecendo por causa das mídias eletrônicas. Por exemplo, antes do acesso facilitado ao telefone celular grande parte das pessoas gravava números de telefones de parentes e amigos, chegando a ter 20 guardados na memória ou mais. Hoje, com alguns cliques identificamos o nome da pessoa que queremos ligar sem nem ao menos checar o número. Esse tipo de situação priva o cérebro de se esforçar e o mantém na zona de conforto, deixando a pessoa com menor agilidade mental. Então, é preciso ter um cuidado relacionado às atividades do dia a dia e sempre buscar oferecer desafios ao cérebro, pois com a capacidade que ele tem podemos usar e abusar.”
De acordo com Pedro Ivo, a memória está sendo afetada porque ela é uma questão de treino e estratégia, a partir do momento em que paramos de treinar e memorizar passamos a deixar de exercitar essa habilidade. Assim, ela vai enfraquecendo naturalmente. Por isso, é importante estar atento, já que, mesmo em casa, é possível estimular o cérebro e melhorar a memória com exercícios como olhar uma lista de palavras por um determinado tempo, tentar memorizá-la com alguma técnica e escrever em outro papel, jogos dos 7 erros, palavras-cruzadas, sudoku entre outros.
HABILIDADES
Por outro lado, reconhece Pedro Ivo, o uso da tecnologia agrega benefícios ao funcionamento do cérebro: “Em muitos casos, as novas tecnologias facilitam a vida. Imagine só a comunicação sem fio ou sem o acesso de informações na internet? Mas, assim como ajuda em algumas de nossas tarefas, ela está mudando a forma de pensarmos e processarmos a informação. Isso, por si só, já é um exercício para o cérebro. No entanto, podemos dizer que as pessoas estão perdendo a habilidade de se concentrar e de se manter focado em textos longos por ter se acostumado a navegar por meio de vários pedaços de informação disponíveis na rede. Agora que ele obtém a maior parte das suas informações por meio de uma tela de computador (em vez do meio impresso), isso mudou a forma de processar dados. Pode ser que estejamos ‘remapeando os circuitos neurais’”.
Mas Pedro Ivo diz que a tecnologia também é uma aliada para a vida cotidiana e pode proporcionar alternativas para exercitar o cérebro. Uma delas é o programa de treinamento para o cérebro via web. Ela é uma ferramenta que pode ajudar a potencializar o cérebro. Desde que praticado com equilíbrio, os jogos disponíveis para dispositivos móveis podem ser um grande aliado e melhorar habilidades como atenção, visão estratégica e visão espacial.
Diante de tantas ferramentas tecnológicas que só facilitam a vida, é preciso tomar uma atitude para que a aprendizagem não seja prejudicada. Pedro Ivo alerta que é necessário encontrar um equilíbrio para minimizar os efeitos negativos. “O artigo do New York Times Digital devices deprive brain of needed downtime oferece argumentos convincentes de que nosso cérebro precisa de um tempo de descanso para digerir as coisas que nós vivenciamos, enquanto estamos ativos. O que, às vezes, é difícil em virtude da tecnologia. Isso pode ser bastante nocivo, principalmente para a memória.”
Pedro Ivo conta que desestressar é uma maneira cientificamente aceita de melhorar a memória e outras habilidades cognitivas. “Entretanto, aparelhos digitais nos fornecem acesso instantâneo a informações e podem aumentar o estresse. Se um e-mail chega à nossa caixa de entrada, sentimos compelidos a reagir, que é na realidade uma forma moderada de reação ‘lutar ou correr’ geralmente associada a eventos estressantes. A tecnologia deixa de ser benéfica para o cérebro quando não sabemos equilibrar o seu uso. Ela é ótima, é a razão pela qual estamos vivendo mais, mais conectados e melhor informados do que qualquer outra sociedade na história. Entretanto, a tecnologia deve trabalhar para nós e não contra nós.”
Habilidades para preservar a memória
Sono:
Há tempos definido por cientistas como o estado em que nosso corpo otimiza e consolida novas informações e as armazenam como memória. Dormir bem faz bem para a memória
Alimentação:
Está provado que uma dieta rica em ômega-3, vitamina B e antioxidantes é importante para a saúde do cérebro
Relaxamento:
Desestressar e meditar são também formas reconhecidas de preservar a memória. Segundo estudos amplamente divulgados, a prática diária da meditação ativa as partes do córtex cerebral responsáveis pela tomada de decisão, atenção e memória
Exercícios físicos:
Estudos da Universidade da Pennsylvania, nos EUA, mostraram que pessoas que praticam atividades físicas com atenção e regularidade apresentam melhoras mensuráveis no “desempenho cerebral” .