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Estado de Minas

De olho no rótulo

A consciência nem sempre é a certeza de que o consumidor só vai consumir alimentos saudáveis, já que muitos dos produtos comercializados e propagados como tal têm ingredientes duvidosos


postado em 04/08/2019 04:06

(foto: Mae Mu/Unsplash )
(foto: Mae Mu/Unsplash )

 







O apelo está por toda parte. E não é fácil se manter na linha. A força da propaganda, a facilidade de acesso, o poder das redes sociais com seus influenciadores e celebridades (muitos, sem cerimônia, assumindo o papel de médicos nutrólogos e nutricionistas) são chamarizes para a população leiga, que, por mais que busque a informação correta, se vê num emaranhado de notícias apontando esse ou aquele como alimento saudável, com nutrientes na medida e uma lista sem fim de benefícios, seja para a saúde, perda de peso, pele viçosa, cabelos brilhantes, aumento do colágeno etc. e tal. Sem falar na hipnose de embalagens que vendem muitos alimentos como verdadeiros “remédios” do bem, mas que, na realidade não o são. E estão repletos de conservantes, estabilizantes, aditivos e corantes.

Assim, o mercado de produtos que só parecem saudáveis aumenta a cada temporada. Raphaella Cordeiro, nutricionista clínica e esportiva, alerta que os riscos de comer tais alimentos são inúmeros, principalmente se com frequência e em excesso. “Doenças como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto, cânceres, intolerâncias, alergias e disbiose são exemplos reais. Todas elas podendo ter origem a partir de maus hábitos alimentares e de estilo de vida.”

Raphaella Cordeiro avisa que o ideal é usar a ferramenta que temos a nosso favor: o rótulo dos alimentos!. “É preciso ficar atento aos ingredientes e qual a sua ordem de quantidade, que sempre é da maior para menor na lista que fica no verso da embalagem. A parte frontal do rótulo seria a parte vendável do produto e as maiores informações para entender o que ele contém fica, geralmente, na parte de trás. Então, ler o rótulo é uma forma de tentar entender melhor o que está sendo levado para casa e, logo, consumido.”

Nesse jogo de esconde e revela, há alimentos que parecem inocentes. Só parecem. O peito de peru é um deles. Muitos pensam que é uma opção leve e saudável. “É um embutido conhecido como alimento ultraprocessado e o consumo deve ser esporádico. Mas o ideal é substituí-lo por queijos magros, patê caseiro de frango ou de sardinha, patê de grão-de-bico, pasta de amendoim integral (sem açúcar), enfim, as ideias podem variar conforme gosto e preferência, basta ter criatividade.”

Outro alimento visto como “cordeirinho”, mas que facilmente assume o papel de vilão, é a aclamada barra de cereal. “No geral, as barras de cereal têm muito açúcar na composição. E, muitas vezes, isso não está escrito de forma clara e, sim, com outras denominações, como xarope, por exemplo. São opções industrializadas que devem ser usadas também de forma esporádica. E, mais uma vez, o rótulo vai ajudar na hora da escolha. Para ler o rótulo tem que ter paciência e atenção porque, muitas vezes, as informações que precisamos saber não são tão claras. Além de ser em tamanho reduzido, o que dificulta a leitura e também o entendimento”, avisa a nutricionista.

Para Raphaella Cordeiro, a chave do segredo de uma alimentação segura e saudável está na disponibilidade que todos deveriam ter de ler o rótulo. Deveria ser uma atitude automática, como é verificar a data de validade de todo produto. “A partir do entendimento de que o rótulo é uma ferramenta que temos em nossas mãos para escolher o que vamos levar para casa, tudo fica mais fácil. Só assim vamos escolher melhor na hora da compra. Consciência nutricional é o caminho.”

QUANTO MAIOR A “VIDA” DO ALIMENTO, MENOR A DO HOMEM 

Outra missão que pode ser obstáculo na hora de escolher o alimento saudável é a famosa desculpa da falta de tempo, aliada à praticidade. Então, que mal pode fazer um risoto de vegetais com carne? Ou mesmo uma lasanha integral de creme de espinafre? Prontas para comer, só descongelar? “Ainda que a falta de tempo seja uma realidade, é um trabalho mesmo muito difícil fazer as pessoas entenderem o que estão comendo. Acredito que tudo tem que partir do entendimento de que alimentos ultraprocessados trazem com eles inúmeros ingredientes, que podem fazer muito mal à saúde. Entender que quanto maior a “vida” de um alimento, menor pode ser a nossa. E isso vai entrando na cabeça das pessoas a partir da informação, com a ajuda da boa vontade e, assim, vamos caminhando para a consciência nutricional. Podemos pensar que a boa vontade é algo individual e que pode fazer enorme diferença a partir do momento em que entendemos que é necessário nos alimentar melhor, com comida de verdade. Do contrário, teremos que tratar doenças que virão em consequência de hábitos ruins de vida. E nutrição é, sem dúvida nenhuma, prevenção de doenças”, enfatiza Raphaella Cordeiro.

Raphaella Cordeiro lembra uma frase de autor desconhecido, de que ela gosta muito e que todos deveriam adotar: “Descasque mais e desembale menos”. A nutricionista destaca que não tem erro. Informação, conscientização, educação, reeducação... esse é o caminho para a mudança. “Caso contrário, teremos gerações doentes pelo simples, ou não, fato de se alimentar mal. Vivemos numa época em que, erroneamente, colocaram nossos alimentos saudáveis (arroz, feijão, macarrão, batata etc.) como vilões, quando não são. Houve uma inversão no entendimento do conceito da nutrição, da dieta e da alimentação saudável, o que leva as pessoas a demonizar as comidas de verdade e preferir os pós, as cápsulas, as restrições severas, o corte de grupos alimentares. E tudo isso porque o equilíbrio e a consciência nutricional, assim como sair do sedentarismo, dão trabalho. Por isso, só penso em um caminho: o da informação, como para outros tantos males da nossa sociedade.”





. Leia as letras pequenas!

Lembre-se sempre de ler a lista de ingredientes no rótulo para saber se o alimento é ultraprocessado ou não. No geral, produtos com acréscimo de conservantes, estabilizantes, corantes, edulcorantes e aromatizantes, e também com excesso de gordura vegetal hidrogenada, açúcar e sódio não são saudáveis, já que podem trazer consequências negativas à saúde. O alerta é do manual Alimentação cardioprotetora, do Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital do Coração (HCor).

»  Iogurte natural desnatado: leite pasteurizado desnatado e/ou leite reconstituído desnatado e fermento lácteo.

»  Iogurte integral de mel: leite pasteurizado integral e/ou leite reconstituído; xarope de açúcar, preparado de mel (xarope de açúcar, água, mel, amido modificado, açúcar, conservador sorbato de potássio, espessante goma xantana, acidulante ácido cítrico e aromatizante), proteína concentrada de leite; soro de leite em pó e fermento lácteo. Ou seja, ultraprocessado.


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