Ao ingerir um alimento, buscamos muito mais do que simplesmente saciar uma necessidade. Comer também pode ser um momento de comunhão, compartilhamento ou até um guilty pleasure – prazer culposo, em livre tradução. Especialistas apontam que existem dois tipos de fome: a fisiológica, quando o corpo libera grelina – hormônio da fome – como aviso de que ele precisa de nutrientes; e a hedônica, que está relacionada com o prazer e também a lembranças, como aquele pudim ou o bolo que só a mãe ou a avó sabem fazer.
“É uma vontade de comer que não tem relação com o estômago vazio, mas, sim, com aspectos emocionais, com a busca pelo prazer que determinados tipos de alimentos, como os processados, podem liberar no organismo”, explica a endocrinologista Tassiane Alvarenga.
Esse tipo de fome é comum a todos os indivíduos. O problema é quando a comida passa a ser usada como válvula de escape para problemas emocionais. “O paciente começa a buscar no alimento maneiras de aliviar os problemas de estresse, cansaço, sono, e isso, a longo prazo, gera hábitos alimentares transtornados. O resultado do descontrole será ganho de peso, problemas metabólicos e, depois desse episódio, sempre vem o sentimento de culpa e uma restrição para compensar. Torna-se um ciclo”, alerta a nutricionista Annie Bello, do Instituto Nacional de Cardiologia.
No caso de Silveria Oliveira, de 29 anos, descontar sentimentos na comida sempre foi algo corriqueiro, mas o hábito tomou proporções graves quando a dona de casa começou a ter crises de ansiedade, em 2011. “Sempre que começava a me sentir mal, tinha vontade de comer. Ganhei quase 30 quilos na época.”
HÁ SOLUÇÃO
E a busca da dona de casa sempre era por produtos doces. O apetite por alimentos específicos é uma das características da vontade de comer hedônica. “A procura é por alimentos hiperpalatáveis, ricos em açúcares e carboidratos, que estimulam o hipotálamo (região do cérebro) a liberar sensações de prazer”, explica a nutricionista Annie Bello.
E a busca da dona de casa sempre era por produtos doces. O apetite por alimentos específicos é uma das características da vontade de comer hedônica. “A procura é por alimentos hiperpalatáveis, ricos em açúcares e carboidratos, que estimulam o hipotálamo (região do cérebro) a liberar sensações de prazer”, explica a nutricionista Annie Bello.
Com o ganho de peso, Silveria começou a ter problemas de circulação, o que a fez procurar por ajuda para reverter a compulsão. Além do acompanhamento psicológico, ela passou a praticar cross fit. “Vem melhorando minha saúde, disposição e, principalmente, minha ansiedade.” Segundo a endocrinologista Tassiane Alvarenga, a estratégia de unir acompanhamento psicológico com exercícios físicos é, de fato, a recomendada. “Quando a situação chega a esses extremos, é preciso acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, que conta com endocrinologista, psicólogo e nutricionista para montar um cardápio adequado e um plano de exercícios. Nos casos de compulsão grave, existem até mesmo medicamentos que podem ser usados.”
Outra alternativa é o autoconhecimento – começar a reconhecer o que, de fato, é fome. “É literalmente comer com atenção plena, estar mais atento a si, motivando o autocuidado com a prática de exercícios e frequentar ambientes saudáveis”, ensina Annie Bello.
A especialista defende, ainda, que a comida pode, sim, ser uma fonte de prazer, desde que consumida com equilíbrio. “Não existe um alimento herói ou vilão, mas deve haver equilíbrio, para que não se desenvolvam transtornos de compulsão alimentar. A comida pode ser uma fonte de alegria e comemoração, sem que assuma o controle da sua vida.”
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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