O ambiente escolar também pode ser propenso a fornecer modelos de comportamentos recompensados que têm ampla possibilidade de ser imitados, conta Caio Feijó. "Basta uma criança ouvir um comentário de que a fulana é linda ou está charmosa, que tenderá a imitá-la para obter os mesmos elogios", explica o mestre em psicologia, elucidando aspectos que podem ser considerados a origem desse quadro: "Pais inseguros socialmente terminam buscando o status com as aquisições de roupas de grife, joias, carros e afins, para se destacar em seu meio. Infelizmente, acabam por incentivar os filhos a acreditar que ter é mais importante que ser. Geralmente, são pessoas vazias de cultura e conteúdo", avalia.
A vaidade natural, ressalta Priscila Gasparini, é as crianças imitarem os pais em um processo saudável de identificação. É normal a menina usar sapato alto, maquiagem, querer arrumar o cabelo e as unhas, e é normal os meninos quererem fazer a barba, treinar musculação, brincar de dirigir o carro, por exemplo. "É prejudicial quando deixa de ser uma brincadeira, quando começa a estimular a sexualidade da criança e quando começa a virar um culto à beleza. Os pais devem estar bem próximos disso para avaliar essa situação e dar limites a essas vaidades. A criança pode ir arrumadinha a um casamento, com uma maquiagem leve no dia de uma festa, mas isso deve ser entendido como uma brincadeira esporádica e não inserida no dia a dia da criança, como uma atividade do cotidiano dela", opina. "Os brinquedos nunca podem perder espaço para a vaidade", defende.
Para a psicopedagoga Elisabete da Silva Duarte, o problema de uma criança considerar que a vaidade é importante é quando age e pensa como um adulto, sem ter a idade para tal. "Essa postura faz com que perca situações de descobertas do próprio mundo e não se sinta confortável com a idade que tem. E, em algumas situações mais sérias, não se enturma com facilidade", explica a especialista.
Nem a um extremo, nem ao outro. Para a psicóloga e psicanalista Luzia Machado, tudo parte do respeito e do bom senso. Afinal, tudo que é demais sobra. Crianças, geralmente, se miram nos adultos, mas a questão da vaidade, em seu ponto de vista, não é algo próprio da idade. "Às vezes, são os pais mesmo que colocam o salto alto na menina. Porém, ficar estimulando a vaidade em excesso não é adequado. Quando não é exacerbado, tudo bem. Mas tudo na base da brincadeira. Brincar é muito mais importante", pondera. Na outra ponta, o descuido completo também é negativo. Ter a noção sobre o corpo, até pelo aspecto da higiene, é fundamental.
REFERÊNCIA
Igor de Pinho Bethonico, de 9 anos, é zeloso quanto à aparência. Entre suas predileções, tênis de cano alto, bermuda e boné. Quando resolve mudar o visual, como cortar o cabelo, por exemplo, a mãe, Gabriela, pesquisa referências na internet e o garoto escolhe o que mais lhe atrai. Ele costuma decidir qual roupa usar, e Gabriela garante que tem muito bom gosto. "Arrumo-me, geralmente, quando vou sair, nos fins de semana", diz Igor, que para ir para a escola não se importa tanto com o quê vestir. "Visto-me para me sentir bonito. Não ligo para o que está ou não na moda. O importante é me sentir bem. Uso o que gosto", conta Igor. E, se tiver que optar entre ganhar um videogame ou um tanto de roupa, diz que prefere a segunda opção.
Sobre seu estilo, Gabriela cita ainda o gosto por pulseiras, cordões e boné de aba reta. Ela conta que o filho, estiloso, se preocupa com a marca do tênis, mas não se liga à etiqueta de roupas. Além da influência dos colegas da escola, ela lembra que Igor também busca exemplos em canais on-line, como sugestões de youtubers. "É difícil ele escolher algo que não combina, e tem opinião. Veste-se muito bem. É uma vaidade natural", apoia Gabriela. (JG)