Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Saiba porque é perigoso começar a consumir álcool desde muito cedo







A cultura do álcool está enraizada em nossa sociedade. Ela se faz presente em quase todos os eventos sociais, como festas e confraternizações, ou até quando estamos querendo simplesmente relaxar. O álcool está nas músicas, nos comerciais, na TV e dentro de nossas casas. Para muitos, a bebida alcoólica é a companheira de todas as horas. Segundo o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais da metade da população brasileira de 12 a 65 anos declarou ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida.





Legalizado e bem-aceito por boa parte dos brasileiros, o consumo de álcool entre jovens e adolescentes é uma variável que cresce a cada ano. Para se ter uma ideia, um terço dos jovens no Brasil consome bebidas alcoólicas antes dos 18 anos. O estudo divulgado pela Fiocruz revela que aproximadamente 7 milhões de brasileiros menores de 18 anos, cerca de 34,3%, relatam já ter consumido bebida alcoólica.

Esse comportamento evidencia questões a serem questionadas e analisadas de forma consciente, já que a adolescência e a juventude são fases determinantes para a vida adulta. A intensidade do uso de bebidas alcoólicas em jovens aumenta as chances de desenvolvimento de uso abusivo ou de dependência de álcool, além do aumento de comas alcoólicos, violência, acidentes e a entrada nos hospitais pela situação de perda total, o famoso PT, na linguagem atual. Lembrando que é proibida a venda de álcool para menores de idade.

Para a psicanalista, psicopedagoga e neurocientista Ângela Mathylde, a adolescência é um ciclo vital, principalmente em relação a escolhas como esta. “Isso significa que é borbulhante, os nervos à flor da pele e os hormônios também, tudo muito intensificado. Porém, além da mentalidade e de todas essas dificuldades psíquicas, falta a identidade e a maturidade. É nesse ciclo que ocorrem várias transformações num âmbito total, como uma bomba atômica de sentimentos, emoções e mudanças físicas”, explica.





O designer de experiência do usuário Ryendel Rocha, de 22 anos, começou a beber aos 12. Ele relembra que, desde pequeno, via sua mãe beber, e que, por essa condição, tinha problemas em lidar com a situação. Mas conta que a mãe não foi influência para a sua aproximação com a bebida. "Comecei a beber com pessoas na praça, inclusive já dei PT no Mangabeiras, o que foi bem ruim. Minha mãe tinha sérios problemas com álcool, então, crescer com ela foi algo complicado", conta.

Ângela Mathylde reforça que o jovem não passa por mudanças isoladas. “Há a puberdade, o bullying, então, as mudanças vêm com alterações hormonais, neuroquímicas, cognitivas, psicológicas e sociais. E não podemos esquecer que fatores ambientais também interferem: a família, a história familiar e a personalidade dos parentes”, salienta. A adolescência e a juventude, por si só, são momentos em que as pessoas buscam incansavelmente por novas experiências e, por isso, estão suscetíveis a esse tipo de comportamento. “Porém, são processos importantes que contribuem para o surgimento de tipos de comportamentos, de como a pessoa vai agir na vida”, afirma.

IMPACTOS 

Ryendel Rocha frisa que, quando começou a beber, o álcool funcionava como uma válvula de escape. “Sofria muito bullying e apanhava regularmente na escola, então, via na bebida uma forma de sair daquilo por um momento", pontua. Hoje, o jovem bebe apenas em momentos esporádicos, principalmente com sua esposa. "Bebo apenas quando saio com os amigos, em datas especiais ou quando estou com vontade mesmo, mas não chego a extrapolar meus limites nem beber demais. Hoje, acredito ser apenas algo prazeroso mesmo”, explica.





Os motivos que levam ao uso dessas substâncias são muitos e complexos. Seja por curiosidade, pressão do meio em que o jovem está inserido, condições familiares, achar que é responsável e adulto ou simplesmente a falta a identidade e de maturidade. Muitos veem a bebida alcoólica como algo 'maneiro' ou que as pessoas usam por modinha e não necessariamente porque sentem desejo em beber. O fato é que não é vantajoso demonizar a bebida ou achar que o jovem vai aprender de qualquer maneira. O diálogo dentro e fora de casa deve ser pauta nas famílias, rodas de amigos, escolas e espaços de convivência.

Nesta edição, o Bem Viver conta vivências de jovens que convivem com o álcool desde a adolescência e sobre as relações adquiridas com a bebida. Além dos impactos desse hábito e como podem implicar situações negativas ou prazeres momentâneos.

* Estagiário sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares

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