Jornal Estado de Minas

Saúde

O que a morte de Roberto Leal ensina sobre o câncer de pele?

Dermatologista Ana Cláudia de Brito Soares - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

A notícia da morte de Roberto Leal aos 67 anos, vítima de um melanoma que evoluiu para o fígado, causando síndrome de insuficiência hepato-renal, entristeceu o domingo dos brasileiros. 

E leva a uma questão sempre em alta entre a comunidade médica e nas campanhas de alerta contra o câncer de pele: a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais no combate à doença.  

Segundo dermatologistas, observar o corpo regularmente ajuda a detectar lesões ou áreas anormais. Pessoas diagnosticadas com o câncer de pele e médicos lembram que quanto mais cedo a doença é descoberta, melhores são as possibilidades de cura.  
 
Tipo raro 

Roberto Leal havia sido diagnosticado com um melanoma raro, no olho, há dois anos. "Ele foi vítima de um melanoma ocular, tumor maligno que pode atingir diferentes estruturas dos olhos, desde as pálpebras até estruturas internas, como a íris. Entre os tipos mais devastadores está o câncer ocular, principalmente quando diagnosticado em fases avançadas. Por isso, estar atento aos sintomas e detectar a doença precocemente pode salvar a vida”, diz o oftalmologista Hilton Medeiros, da Clínica de Olhos Dr. João Eugenio.

Segundo o médico, quanto antes detectar a doença, maiores serão as chances de cura e menor o risco de metástase. No caso do melanoma de coroide, por exemplo, 25% dos pacientes desenvolvem metástase e, destes, quase 100% não sobrevivem.

Os sintomas mais comuns são dor nos olhos, sombras na vista, pintas pretas na conjuntiva e na íris, flashes luminosos, redução da capacidade visual e pupila branca nas fotos.

O melanoma é mais frequente em adultos e ocorre tanto na úvea, porção interna do globo ocular que se compõe da íris, do corpo ciliar e da coroide, como na conjuntiva, membrana que recobre a parte branca do olho e a superfície interna das pálpebras. O diagnóstico é feito por exames que fazem o mapeamento da retina e ultrassonografia.

O tratamento mais utilizado quando o tumor é pequeno ou médio é o laser ou a braquiterapia, que consiste em aplicar radiação apenas no local do tumor.
“O problema é que a radiação prejudica os vasos sanguíneos e os nervos na parte de trás do olho, muitas vezes afetando a visão”, explica Hilton Medeiros. Para tumores grandes, geralmente é preciso remover o olho afetado e colocar uma prótese.

Nas crianças é mais comum o retinoblastoma, tumor originário das células da retina, que é a membrana do olho sensível à luz. Na maioria dos casos, acomete crianças de até cinco anos de idade. Se for hereditário, a criança corre o risco de desenvolver o tumor nos dois olhos. O não hereditário costuma ser causado pelo desenvolvimento anormal da retina na infância e, em geral, acomete apenas um olho.
 

Manifestação na pele 

 
O melanoma é tipo mais raro de câncer de pele, como explica a médica dermatologista Ana Cláudia de Brito Soares. “O melanoma é o câncer da pele menos frequente, porém o mais grave porque tende a dar metástases, isto é, se espalhar para outras partes do corpo.” 
 
 
 
A médica reforça ainda que pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol têm mais risco de desenvolver a doença, mas afirma que o melanoma, mais raramente, pode se manifestar mesmo em indivíduos negros ou em pessoas que bronzeiam mais do que se queimam quando expostas ao sol. A herediatriedade também configura fator de risco.
“Além da exposição a radiação ultravioleta, a hereditariedade desempenha um papel central no desenvolvimento do melanoma. Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com a doença devem se submeter a exames preventivos regularmente. O risco aumenta quando há casos registrados em familiares de primeiro grau”, lembra. 

Como ninguém está livre da doença, a médica atesta que a observação da pele constantemente é crucial para a detecção precoce do câncer de pele (aprenda a fazer o autoexame na página). “Caso detecte qualquer lesão suspeita, a pessoa deve procurar o médico imediatamente. Aparelhos chamados dermatoscópios auxiliam os dermatologistas no diagnóstico entre pintas suspeitas ou não. Já a confirmação do diagnóstico de melanoma é feito por biópsia, a retirada de uma amostra de tecido que vai ser analisada ao microscópio. Existem vários tipos de biópsia e a mais indicada vai depender do tamanho da lesão e de sua localização no corpo.” Ela afirma ainda que, em estágios mais avançados, cuja lesão é mais profunda e espessa, há riscos de a doença se espalhar para outros órgãos (metástase), o que diminui as possibilidades de cura. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental.

Tratamento 


Exemplo de melanoma - Foto: National Câncer Institute/reproduçãoSegundo a dermatologista, uma vez diagnosticado o tratamento para o melanoma maligno varia conforme a extensão, agressividade e localização do tumor, bem como a idade e o estado geral de saúde do paciente.
“Embora apresente o pior prognóstico entre os cânceres de pele, avanços na medicina e o recente entendimento das mutações genéticas, que levam ao desenvolvimento dos melanomas, possibilitaram que mesmo pessoas com um quadro avançado da doença tenham aumento na sobrevida e na qualidade de vida.”
 
Entre os principais avanços de tratamento, ela destaca testes genéticos capazes de determinar quais mutações o câncer apresenta. “Nomeados BRAF, cKIT, NRAS, CDKN2A e CDK4, possibilitam a escolha dos tratamentos que podem trazer melhores resultados em cada caso da doença. Mais de 90% dos pacientes com a alteração genética BRAF, por exemplo, podem se beneficiar do tratamento com terapia-alvo oral, capaz de retardar a progressão do melanoma e melhorar a qualidade a vida. Outros tratamentos podem ser recomendados, isoladamente ou em combinação, para o tratamento dos melanomas avançados, incluindo quimioterapia, radioterapia e imunoterapia”, avisa. 

Para finalizar, Ana Cláudia de Brito Soares confirma que o diagnóstico de melanoma ainda traz muita apreensão aos pacientes. Mas lembra: “As chances de cura superam os 90% quando há detecção precoce da doença e já é possível viver com qualidade, controlando o melanoma metastático por longo prazo”. 
 

Saiba mais e previna-se!

melanoma é o câncer da pele menos frequente, porém o mais grave “porque tende a dar metástases, isto é, se espalhar para outras partes do corpo”. 

O que é: Desenvolve a partir dos melanócitos, que são as células produtoras de melanina.

Aspecto: O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, pode mudar de cor, de formato ou de tamanho, e causar sangramento. 

Onde: Normalmente, surgem nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar.. Em mulheres, são mais comuns nas pernas e, em homens, nos troncos. Podem surgir também no pescoço, rosto e em áreas difíceis de serem visualizadas pelo paciente, como o couro cabeludo.

PrevençãoEvitar a exposição excessiva ao sol e proteger a pele dos efeitos da radiação UV, usando chapéus, camisetas, óculos escuros e protetores solares são as melhores estratégias para prevenir o melanoma e outros tipos de tumores cutâneos.

Outras medidas preventivas: Observar regularmente a própria pele, à procura de pintas ou manchas suspeitas e consultar um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo.

Atenção! O número de casos de melanoma ainda tem aumentado nos últimos anos. Uma das possíveis justificativas é mais casos diagnosticados, inclusive precocemente, mas outra vem do fato de que, apesar de toda a informação disponível nos dias atuais, as pessoas ainda não se protegem da radiação ultravioleta de forma adequada. Fique atento!

Fonte: Instituto Oncoguia 


Autoexame 

Entre muitas outras informações, o site do Instituto Oncoguia traz o passo a passo do autoexame preventivo contra o câncer de pele.
Além das medidas de praxe, médicos indicam a observação minuciosa do próprio corpo, um cuidado que ajuda a detectar quaisquer novas lesões ou áreas anormais que merecem ser observadas de perto por um profissional. Saiba mais a seguir. 

Recomendações: 

No primeiro exame de sua pele, tome seu tempo e observe cuidadosamente toda a superfície. Aprenda o padrão de pintas, manchas, sardas e outras marcas que você tem na sua pele para que você compare com exames futuros. 

Certifique-se de mostrar ao seu médico quaisquer áreas que tenham apresentado alguma mudança ou lhe estão preocupando.

É importante observar a sua pele, de preferência, uma vez por mês. 

O melhor momento para fazer isso é após o banho em um local bem iluminado na frente de um espelho.

O que procurar: Ferida aberta com sangramento, que permanece sem cicatrização durante várias semanas; área avermelhada, em relevo ou irritada, que pode descascar ou coçar; protuberância de cor rósea brilhante, avermelhada, branco perolado ou transparente; lesão rósea com borda elevada e parte central encrostada; cicatriz com área branca, amarela ou cerosa, e bordas mal definidas; verruga em crescimento; mancha persistente, escamosa, vermelha, com bordas irregulares, que sangram facilmente; lesão sensível ao toque


Passo 1: Diante do espelho, observe seu rosto, orelhas, pescoço, peito e barriga. As mulheres devem levantar os seios para verificar a pele sob os mesmos.

Passo 2: Ainda frente ao espelho, observe os dois lados dos braços, axilas e antebraços. Posteriormente, observe o dorso e as palmas das mãos, entre os dedos e as unhas.

Passo 3: Sentado, observe a parte anterior de suas coxas, canelas e dorso dos pés, entre os dedos e as unhas dos pés.

Passo 4: Ainda sentado, use um espelho de mão para ver as plantas dos seus pés, a parte posterior das panturrilhas e a parte posterior das suas coxas iniciando numa perna e posteriormente a outra.

Passo 5: De pé, use um espelho para observar a parte inferior das costas, as nádegas, a área genital e a parte de trás do pescoço e orelhas.

Passo 6: Ainda de pé, pode ser mais fácil ver suas costas usando um espelho de parede e um espelho de mão. Use um pente ou um secador de cabelo para que possa observar o seu couro cabeludo.

Fonte: Instituto Oncoguia
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