A doação de órgãos e tecidos é um assunto que ainda causa certo receio em parte da população, seja medo de que sejam removidos ainda estando vivas ou, simplesmente, por serem desfavoráveis. “No caso de doadores vivos, estes têm medo da dor e de sequelas futuras, além de complicações pós-operatórias. No caso de doadores com morte encefálica, acredito que a família não doa por desconhecimento do processo de diagnóstico da morte e do processo de captação de órgãos, crenças pessoais ou falta de condições psicológicas pela perda súbita de um parente querido”, explica Cristiano Xavier, cirurgião e coordenador da unidade de transplantes do Hospital Felício Rocho.
Pensando nisso, nesta sexta-feira, 27, data em que se comemora o Dia Mundial de Doação de Órgãos, e para fazer jus à campanha Setembro Verde, o Felício Rocho realiza evento, às 10h, para conscientizar as pessoas sobre a importância de doar órgãos. “O Felício Rocho é um hospital filantrópico, com longa história na área de transplantes. Basta dizer que, neste ano, o hospital comemora o aniversário de 30 anos do primeiro transplante de fígado de Minas Gerais. Nossa equipe de transplantes oferece aos pacientes do SUS de todo o Brasil um serviço extremamente comprometido com o acolhimento dessas pessoas que buscam o transplante de órgãos e tecidos”, conta Cristiano Xavier.
Segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes, divulgados em março deste ano, pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, no primeiro trimestre foram doados 2.131 órgãos, 3.400 tecidos e 742 medulas ósseas. Porém, a quantidade de pessoas na fila é bem maior. No mesmo período, 33.984 pessoas aguardavam por um órgão, sendo 660 crianças. Para o cirurgião, a melhor forma de incentivar a doação é por meio de ações. "Por meio da educação e da divulgação da sua importância para a vida dos receptores, da sensibilização por meio de campanhas e da desmistificação do tema, com resposta a todas dúvidas. A maior força para que uma doação ocorra é o posicionamento da própria pessoa de sua intenção ainda em vida."
A campanha
Neste dia (27/9), a organização também solta balões coloridos para simbolizar diferentes órgãos, realiza entrega de panfletos e conta com o apoio da Banda do Exército. “No dia do evento, haverá uma intensa campanha de distribuição de panfletos informativos sobre doação de órgãos, testemunho de pacientes transplantados, apresentação de Banda do Exército e serão soltos balões infláveis, representando os transplantes de órgãos realizados em nossa instituição”, reforça o cirurgião.
Para o médico, a data serve também para comemorar e agradecer o crescimento do número de doadores. “Este trabalho de conscientização, coordenado pelo MG Transplantes, é contínuo e, neste ano, comemoramos um aumento de 30% no número de doadores em relação ao ano de 2018, sendo que foi possível reduzir estatisticamente o número de recusas de doação por motivos de negativa familiar, de 60% para 30%, quando comparamos 2019 com 2018.”
Luz no fim do túnel
Uma psicóloga, de 42 anos, que prefere não se identificar, foi diagnosticada, aos 13 anos, com problema renal. “Tinha nefrite (infecção nos rins) e fiz acompanhamento com nefrologista por um período de cinco anos, até que, em dezembro de 1995, com 18 anos, iniciei o processo de hemodiálise. Nessa época, soube que o transplante de rim era uma possível solução para meu caso e meu pai se dispôs a fazer a doação do órgão para mim. Foi um transplante bem sucedido, que durou 18 anos, mas, infelizmente, o rim foi parando de funcionar gradativamente. Em dezembro de 2014, retornei para a hemodiálise. Meu irmão, que morava fora na época, voltou para BH com o intuito de doar um rim para mim. Iniciei o processo de exames para o novo transplante, com checapes com vários médicos. Mas, quando fui ao ginecologista levar o resultado da mamografia (a primeira que tinha feito na vida) fui diagnosticada com câncer de mama. O tratamento durou aproximadamente nove meses", lembra. A liberação para o novo transplante foi concedida em dezembro do ano passado. “Em janeiro, fui na primeira consulta no ambulatório e iniciei a maratona de exames, só que, dessa veze, optei por entrar na fila do MG Transplantes. Em maio, terminei os últimos exames e, no dia 13/06, fui incluída na lista de receptores. Na minha cabeça já estava preparada para esperar um tempo até conseguir o transplante, embora fosse muito desejado. Mas mais uma vez, fui surpreendida, e recebi a ligação do Hospital Felício Rocho em 18 de agosto, informando que tinha um rim compatível e que iriam me operar em algumas horas."
Para a psicóloga, campanhas como a realizada pelo Felício Rocho precisam ocorrer para conscientizar a população da importância de se doar os órgãos. “Acredito muito nas campanhas. Acho que podem ajudar a informação chegar até aqueles que ainda têm dúvidas, medo, preconceito e outros sentimentos relacionados ao assunto.”
Ela também aproveitou para deixar um recado para quem ainda não é doador. “A mensagem que deixaria para as pessoas é que vençam o medo, o preconceito, acreditem na ética médica, na seriedade do trabalho dos hospitais, das equipes de abordagem de doações e que, acima de tudo, acreditem que a doação pode salvar e mudar vidas! Receptores de órgãos, como eu fui, tem uma gratidão imensa por todos, mas especialmente às famílias dos doadores e pelo doador, que nos deram a oportunidade de ter uma vida melhor e mais saudável.“
Saiba mais:
Quem pode doar?
Qualquer pessoa saudável, acima de 18 anos, pode doar um rim ou parte de seu fígado para um parente de até segundo-grau ou cônjuge
Quem não pode doar?
No caso de doadores com morte encefálica não pode ser doador aquele que tem a identidade desconhecida, morte de causa desconhecida, por várias condições clínicas que comprometam de forma significativa a função do órgão doado, algumas doenças infecciosas e no caso da não autorização pelo familiar.
Como ser doador?
Para ser um doador basta conversar com sua família sobre o seu desejo e deixar claro que eles, seus familiares, devem autorizar a doação de órgãos. No Brasil, a doação só será feita após a autorização familiar. Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamente a vontade do doador. No entanto, observa-se que, na grande maioria dos casos, quando a família tem conhecimento do desejo de doar do parente falecido, esse desejo é respeitado. Por isso, a informação e o diálogo são absolutamente fundamentais.
Mais informações sobre doações de órgãos:
MG transplantes (31) 3219-9200
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares