Em uma sociedade que exige que as pessoas sejam multitarefas, é comum se sentir estressado e desenvolver transtornos e distúrbios de ansiedade. É importante ter acompanhamento psicológico, pois problemas emocionais podem afetar a saúde física e provocar problemas, como a ansiedade cardíaca (AC).
“A ansiedade é um transtorno muito frequente e associado às doenças cardíacas. Ela se caracteriza por sintomas de preocupação excessiva ou sentimento de ansiedade desencadeadas em situações habituais do dia a dia. A presença de sintomas menores de ansiedade é comum nos dias de hoje, frente a nossa rotina, mas quando esta se torna limitante de nossas atividades, podemos estar diante de um quadro de doença”, explica Diego Gaia, coordenador de cardiologia do Hospital Santa Catarina (SP).
Aproximadamente, 5% dos adultos têm quadros de ansiedade. Porém, para as pessoas que já apresentam problemas cardíacos, os quadros de ansiedade podem ser duas vezes mais frequentes. O transtorno de ansiedade pode causar dor no peito, palpitação, sudorese e náuseas e pode ser confundido com infarto do miocárdio. O transtorno de ansiedade libera hormônios de estresse na circulação que podem causar elevação da pressão arterial, taquicardia (batimentos acelerados) e alteração das plaquetas (um dos componentes do sangue) predispondo à formação de coágulos”, avisa Diego.
Já Fábio Tófane, cardiologista e coordenador do núcleo de cardiologia do Hospital Felício Rocho, é possível identificar aluns fatores de risco. “Há muito tempo, sabemos que os distúrbios psiquiátricos são também fatores de risco para morbi e mortalidade cardiovascular, mas existem transtornos não justificados pela doença física cardiovascular. Esses transtornos são chamados de ansiedade cardíaca. A AC é o medo que a pessoa tem com estímulos e sensações de natureza cardíaca. O fator de risco é diagnosticado em pessoas com maior fragilidade emocional crônica, como a depressão, ou agudas, em certos casos de fobia por trauma ou episódios de pânico”, explica.
É bom esclarecer que esse transtorno pode ocorrer tanto em pessoa sabidamente cardiopata quanto em pessoa saudável fisicamente e, geralmente, essas pessoas assumem postura hipocondríaca. Contudo, o AC pode levar à perda da qualidade de vida pelo medo, aumenta o número de exames realizados sem indicação precisa, onerando o sistema de saúde ou o próprio paciente.”
CUIDADOS
O cardiologista Augusto Vilela explica que há formas de prevenir a ansiedade cardíaca. “Hoje, muitos locais contam com o Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC), que auxilia na investigação de sintomas do transtorno e a necessidade de encaminhamento para tratamento especializado. A avaliação com um médico e psicólogo será capaz de indicar o tratamento mais qualificado e mais adequado a cada caso. Pode variar desde algumas sessões de terapia a tratamento medicamentoso”, exemplifica.
Uma paciente de Augusto Vilela, de 56 anos, que prefere não se identificar, conta como foi sofrer da doença há quatro anos. “Nunca tive problema cardíaco e nem há casos na minha família. Estava em momento de muito estresse, até que, um dia, enquanto dirigia, senti uma dor de cabeça muito forte, depois a dor passou para o peito, braço e costas. Naquele momento decidi ir ao hospital. Lá descobri que se tratava de um infarto raro, chamado dissecção da coronária. Fiquei em coma induzido no CTI e, depois de cinco dias, tive uma ótima recuperação”, lembra.
O médico ressalta a importância de evitar situações estressantes e procurar ter uma boa qualidade de vida. A forma de evitar a ansiedade é manter uma vida com baixo estresse, boa qualidade de sono, atividade física regular. “Mas, caso tenha algum diagnóstico de problema relacionado ao coração, não ficar se concentrando no funcionamento dele, pois pode aumentar o medo e a preocupação com os sintomas cardíacos sem mesmo eles existirem”, aconselha o cardiologista.
Hoje, a paciente procura relaxar e segue os conselhos do médico à risca. “Faço exercício físico, tomo meus remédios diários, não deixo o estresse sobrepor minha vida. Além disso, realizo checapes anuais e tenho uma vida normal”, conta, motivada. Ela lembra que, na época em que sofreu com ansiedade cardíaca, teve medo, mas com o passar do tempo e ajuda médica conseguiu seguir em frente. “Infartei em janeiro de 2015, os meses subsequentes foram difíceis, ficava com medo de dormir e acordar infartando, mas meu médico me acalmou. Comecei a fazer terapia e as coisas foram se ajustando”, relembra. A mulher também conta que realizou uma mudança crucial para diminuir o estresse do dia a dia. “Mudei de emprego, trabalho com o que gosto e é um serviço mais tranquilo. Percebi que a vida é e frágil e um trabalho estressante não vale a minha saúde. Estou feliz e posso dizer que não tenho o estresse de antes”, afirma.
* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
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