"Por exemplo, o carrinho que os leva para a sala de quimioterapia deu certo. As crianças gostam muito. Acredito que quanto mais lúdico o ambiente, mais leve a criança se sente para vencer essa etapa”, explica Eduardo Ribeiro Lima, oncologista pediátrico.
Setembro dourado
Durante este mês acontece um movimento mundial que tem como principal objetivo conscientizar a população sobre o câncer infantojuvenil. Para o oncologista, o controle médico é fundamental desde cedo. “O câncer infantojuvenil não tem causa estabelecida, ao contrário da doença em adultos, que está relacionado a fatores ambientais. Por isso, a minha orientação é que a criança tenha uma qualidade de vida saudável e faça visitas ao pediatra regularmente. “Se tiver alguma neoplasia detectado, o pequeno deve ser encaminhado para um centro de oncologia pediátrica para melhor diagnóstico e tratamento”, explica Eduardo Ribeiro.
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A empresária Maria Clara realiza um projeto voltado para escrita de livros junto com crianças na Fundação Sara, que apoia crianças e adolescentes com câncer. Ela conta que conheceu a casa que funciona no Bairro Cidade Nova, em Belo Horizonte, no início, em 2001, e participava como contribuinte.
“Vi a Fundação nascer. Fui colega de trabalho dos pais da Sara Albuquerque, na Cemig. Eu e meus colegas acompanhamos tudo, desde o início da doença da Sara, que necessitava passar por um transplante de medula e a família precisava de recursos para realizar esse procedimento. Os colegas, sensibilizados com a dor dos pais, criaram a campanha ‘Ajude a Salvar a Vida da Sara’. E eu pude participar um pouco”, lembra Maria Clara.
Após a inauguração da nova unidade em Belo Horizonte, a administradora diz que teve a ideia de produzir livros com as crianças para vendê-los e reinvestir o lucro para contribuir na manutenção do centro. “Lembrei-me de uma brincadeira despretensiosa que fiz com minha sobrinha de 9 anos, no final do ano passado. Pedi a ela que me contasse uma história qualquer. Enquanto ela ia contando, eu ia digitando. Disse a ela que eu iria criar algumas coisas diferentes, sem mudar a essência, e que enviaria pra ela depois. Comentei com o pessoal da casa. E tudo começou assim”, relata.
Maria Clara conta como funciona a produção dos livros. “Quando a história fica pronta, repasso com eles tudo novamente, e envio para gráfica. Mas, como é um custo alto, faço apenas quatro cópias: para o assistido, para mim, para a Fundação de BH e a outra para a sede em Montes Claros.”
Ela também revela que a experiência é única para os assistidos. “Concluídos esses seis primeiros livros, percebi o quanto este trabalho é terapêutico para essas crianças e adolescentes, porque dependendo do tema que escolhem é como se fosse uma forma de colocar pra fora as angústias, e contribui na melhora da autoestima.”
Sandra Regina Aparecida de Souza é irmã de Mirela Gabriela de Souza, uma adolescente de 14 anos. A mãe delas morreu de câncer aos 42 anos, e durante o tratamento dela, Mirela foi diagnosticada com a mesma doença. “Minha irmã sentia muita dor de barriga e febre por dentro. Levamos ela ao médico, ele suspeitou de apendicite, mas no momento da cirurgia do apêndice detectou o tumor, fez uma biópsia e mandou para Pouso Alegre. Graças a Deus, o gestor da nossa cidade (Jesuânia- MG) arrumou um apoio para nós em Belo Horizonte”, lembra Sandra.
Sandra largou o emprego de vendedora para cuidar da irmã. “Na primeira etapa do tratamento, ela curou, depois nossa mãe faleceu. Logo depois, Mirela teve uma recaída e descobrimos que a evolução do neuroplastoma é constante. O médico disse que, em uma escala de 1 a 4, o estágio dela é 3”, completa Sandra.
Mirela trata o tumor há cerca de quatro anos e é autora de um dos livros. Para a adolescente, escrever foi uma experiência única. “Foi muito legal mesmo, porque coloquei meu talento lá. O livro é sobre a rotina de duas irmãs, a história é baseada na luta e convivência com minha irmã Sandra”, explica.
Outro exemplo é Túlio Rodrigues, de 12 anos. O menino natural de Capelinha conheceu a casa por meio da Santa Casa de Belo Horizonte. “Meu filho foi diagnosticado com meduloblastoma, um câncer complicado, mas ele está com bons resultados” explica o pai, Pedro Ramos. Assim como Mirela, Túlio também ficou bastante animado com a ideia de escrever um livro. "Gostei, fiquei sabendo do projeto por meio da fundadora da casa. A história do meu livro é sobre um menino de rua e seu cãozinho vira-lata.”
“Ela foi diagnosticada com meduloblastoma, está em tratamento desde 2014, com recidiva em 2019 e está em avaliação para novo protocolo médico." Para a avó, a fundação é a segunda casa delas. “Temos apoio em tudo, não só no tratamento. As pessoas nos acolhem com muito cuidado e carinho, temos um grande apoio de todos os profissionais que aqui trabalham, todos têm um grande compromisso, responsabilidade e cuidado com a gente."
Duda adora a Escola Viva, que é coordenada pela pedagoga Paola Reis. A Escola Viva tem como objetivo manter o contato dela com a instituição onde ela estudava em Três Marias e dar sequência ao aprendizado.
Para a menina, escrever o livro foi mágico. “Foi uma boa experiência. Fiquei muito feliz em escrever o Doce reino de Gabriela. A Maria Clara (voluntária e coautora) já estava escrevendo o livro com outras crianças na Fundação e me convidou para escrever um livro também. O livro conta sobre uma unicórnia que tem amigos humanos e unicórnios que queriam um mundo somente de doces”, revela a menina.
Superação
Bruna Schettino Capanema tem 3 anos e, em 2017, foi diagnosticada com leucemia linfoide aguda (LLA - B). A mãe, jornalista Carolina Schettino Werneck, conta como foi lidar com a doença da pequena. “Ela estava com dois meses e meio. Tinha ido recentemente na pediatra para controle dos dois meses, e estava aparentemente normal, desenvolvendo-se dentro da curva esperada. Uns dias depois percebi palidez, ela sempre foi branquinha, mas o tom dela me causou estranheza. O segundo sintoma foi um pouco de sangue vivo na fralda. A partir daí, fomos investigar e descobrimos o diagnóstico dias depois por meio de um hemograma assustador. Em um bebê, a contagem de leucócito fica em torno de 10.000, ela tinha 1.500.000”, recorda.
Ela foi tratar a filha em São Paulo, onde fez transplante de medula óssea. Porém, em 2018, a doença havia voltado. “Para nossa sorte, a contagem de leucócitos não estava tão alta e conseguimos controlar primeiramente com corticoides. Foi então que começamos com o medicamento Blinatumomab, um anticorpo monoclonal que tinha acabado de ser aprovado nos Estados Unidos e também já estava disponível no Brasil. Como ela foi reagindo bem, conseguimos que os ciclos fossem dados em casa, por meio de uma bomba de medicação, e ela podia ter uma vida relativamente normal. Em março deste ano, retornamos definitivamente para Belo Horizonte, para seguir vida nova”,comemora.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
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