Jornal Estado de Minas

Plant based: conheça a dieta à base de plantas



"Desembalar menos e descascar mais" é o lema dos adeptos da alimentação plant based. Sim, com tradução literal que significa alimentação à base de plantas, a dieta chegou há pouco no Brasil e já caiu no gosto de gente como a empresária Carolina Rache e a publicitária Paula Armani, entre outras pessoas preocupadas principalmente com a origem e a qualidade do alimento.
 
O conceito é parecido com o das dietas vegetarianas ou veganas, mas se difere por motivos como não descartar totalmente o consumo de proteína animal (apesar de reduzi-lo bastante) e não envolver alimentos ultraprocessados (caso do açúcar refinado, por exemplo).
 
De olho na saúde, a publicitária Paula Armani aderiu à dieta e diz que seu foco não é apenas a estética - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

Mais: baseada no consumo farto de cereais, raízes, grãos, oleaginosas, frutas, verduras e legumes – e pensando sempre que quanto mais cores diferentes, mais nutrientes distintos serão consumidos –, a plant based traz em si ideais caros aos dias atuais, como sustentabilidade e valorização do produto artesanal, muitas vezes de cultivo orgânico (sem o uso de agrotóxicos e outros químicos na cadeia produtiva).

Memórias afetivas

O chef Walter Seixas privilegia ingredientes não processados em seu restaurante - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PressNo quesito saúde, também representa oportunidade e tanto. Segundo nutrólogos e nutricionistas, a dieta à base de plantas é rica em nutrientes e pode ser adotada por pessoas de todas as idades (a partir de acompanhamento especializado).
 
Ao abusar da criatividade no preparo de refeições, o público ainda tem a oportunidade de acessar conceitos novos na vida contemporânea, combatendo os famigerados green gaps (entenda mais na reportagem). Bem como de resgatar antigas tradições e memórias afetivas, a exemplo do consumo de plantas alimentícias não convencionais (Pancs), hortaliças que já foram cultivadas nos quintais do interior e servidas na mesa de nossos avós. Deu água na boca?
 




Prato convidativo


Pode parecer complicado. Restritivo até. Mas, de fato, adotar ou privilegiar uma alimentação plant based na rotina do dia a dia é mais fácil do que se imagina. Palavra de Paula Armani Martins Guedes, publicitária, de 32 anos, adepta da dieta à base de plantas há dois anos.
“Já fiz todos os tipos de dietas malucas e nada saudáveis, que tinham como objetivo a magreza. Mas depois que engravidei, passei a me preocupar com uma dieta saudável, focando na saúde e não mais apenas em estética, o que vem como consequência.”
 
Paula contratou uma consultoria especializada em alimentação saudável para implementar as dicas na rotina. “São sugestões de cardápios saudáveis para o almoço (entrada/salada, prato principal e sobremesa) e uma sugestão de lanche por dia. Não sou vegana e nem vegetariana, apenas tenho buscado uma alimentação mais balanceada e saudável”, aponta.
 
Ela tem uma funcionária responsável pela cozinha, mas mesmo para quem não conta com tal facilidade, acredita ser possível variar o cardápio. “Tudo é uma questão de planejamento. Só de vetar certos alimentos na dispensa ou geladeira já ajuda, pois processados são um atrativo para a gula e para a preguiça de preparar algo. Hoje, também existem muitos restaurantes saudáveis e empresas que fazem esse planejamento alimentar plant based, inclusive no esquema delivery”, sugere.
 
E é mesmo possível abrir mãos das caixinhas e dos enlatados com comida pronta? Sem radicalismos, a publicitária atesta que sim.
“Acho que é mais uma questão de saúde mesmo e de números listando casos de doenças relacionadas à alimentação e consumo de industrializados. Para mim, o principal benefício é a saúde e realmente houve mudanças benéficas no corpo e nos sistemas digestório e imunológico.”

Na cozinha

 

A healthy chef Bella Corrêa presta consultoria e comercializa linha de sucos e sopas plant based - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Em BH, mesmo em restaurantes convencionais (de cardápio misto entre opções com e sem proteína animal) já é possível desfrutar de refeições no conceito plant based. Exemplo vem do chef Walter Seixas, que faz questão de valorizar os pequenos produtores para criar as receitas da Osteria Cacio e Pepe, muito delas inspiradas na culinária mediterrânea, famosa pelo consumo de azeites, oleaginosas, frutas secas, legumes e frutos do mar.

Sócio de Maria e Rodrigo Alvim no negócio, aberto em fevereiro deste ano no Bairro São Pedro, ele preza a utilização de alimentos em sua forma mais natural para elaborar os pratos e os molhos servidos na casa. “A maior parte dos insumos usados na cozinha são produzidos no próprio restaurante. Para o molho vermelho, usamos tomates italianos frescos misturados a aipo, alho-poró e outros vegetais. Tudo para dar um sabor ainda mais marcante. Nenhum dos processos é feito com enlatados ou algo assim. Priorizamos o real sabor de cada alimento.
Legumes, frutas e hortaliças são cultivados por pequenos produtores locais”, detalha.



Postura pró-saúde 


Frente ao cuidado com a elaboração de pratos mais saudáveis, Seixas não se vê fazendo nada extraordinário. “A preocupação com a saúde do próximo deveria ser algo prioritário para todos. Seja com pessoas com quem temos ligação afetiva, seja aquelas que mal conhecemos. Em uma época de crise ambiental, com diversos problemas climáticos, em meio à prática cada vez mais intensa de atividades predatórias que consomem o meio ambiente e colocam em xeque o futuro da humanidade, priorizar uma alimentação saudável e focar em produtores responsáveis é uma parte do que nós, donos de restaurantes, podemos fazer. Gastronomia é cultura. Devemos apresentar uma cultura saudável, responsável e inteligente”, defende o chef.

Convidado a sugerir dicas para o público que deseja conhecer a alimentação plant based, o chef é taxativo. “Uma única dica já simplifica tudo: preocupe-se com o que está comendo. Pesquise por alimentos saudáveis, transforme a prática de cozinhar em algo interessante. Evite comprar enlatados ou outros alimentos processados. Dê preferência para comprar tomates e fazer seu próprio molho, dando o sabor que você deseja em vez de comprar um produto pronto.Transforme o momento da refeição em uma prática divertida e que agrega.”
 

ENTREVISTA

Erica Campbell, diretora de digital consumer experience Eletrolux Latam

 
O que é o conceito green gap?
Green gap refere-se à distância entre o conhecimento sobre hábitos e atitudes sustentáveis e de fato colocar este conhecimento em prática.
Por ocasião do aniversário de 100 anos da Electrolux e a divulgação de metas e compromissos relacionados à sustentabilidade, conduzimos uma pesquisa global com mais de 9 mil respondentes, incluindo países da América Latina onde temos operações, como Brasil, Chile e Argentina, para entender qual o nível de conhecimento e prática relativos à sustentabilidade. A partir do entendimento dos green gaps pudemos buscar uma forma de a Electrolux ajudar a reduzir essas lacunas. A pesquisa indicou, por exemplo, que, apesar de 56% dos entrevistados na América Latina terem se declarado conscientes com relação ao clima, eles se sentem menos empoderados e com maior dificuldade de ter atitudes sustentáveis do que a média global. A intenção da Electrolux é ajudar a reduzir essas lacunas entre conhecimento e prática, reduzir a dificuldade em se adotarem atitudes sustentáveis. Por isso, lançamos o Better Living Program, um programa com uma lista de 100 ações ao redor do mundo, para que, até 2030, possamos transformar a vida para o melhor e para ser mais sustentável, focadas em nossos pilares principais: sabor, cuidado e bem-estar. Entre as ações, abordaremos temas como desperdício de alimentos, durabilidade das roupas e qualidade do ar.

O que os chefs de cozinha e os consumidores têm a ver com este conceito?
Chefs de cozinha, o crescimento de reality shows e programas de culinária e gastronomia têm ajudado, no nosso ponto de vista, a popularizar o interesse pela boa cozinha, o melhor uso e aproveitamento dos ingredientes, o cultivo próprio de verduras e leguminosas, inclusive mostrando que há, sim, gastronomia na alimentação à base de plantas (e com muito sabor!). Segundo a pesquisa, o percentual de pessoas no Brasil que adota dieta à base de plantas (25%) e a redução do consumo de carne animal (30%) está em linha com a média global. Sabemos que são hábitos que vêm crescendo e que os chefs são fundamentais na ampliação das alternativas alimentares para seu público.

De que forma uma alimentação mais verde e menos processada favorece a saúde e o meio ambiente?
Existem inúmeras pesquisas científicas que indicam esses benefícios. O papel da Electrolux é dar instrumentos para que nossos consumidores possam reinventar as experiências de sabor, auxiliando no preparo e na preservação dos alimentos, permitindo ao consumidor, se essa for sua opção, uma alimentação mais caseira, por exemplo. O programa Better living – Uma vida melhor começa agora tem, entre suas metas globais, a promoção da alimentação saudável como a escolha preferencial das pessoas.
Uma das áreas-foco que a Electrolux está atuando fortemente aqui no Brasil para contribuir com essa meta é a redução do desperdício de alimentos. Com isso, ela estabeleceu um compromisso, que é investir o equivalente a 12% da verba de marketing para conscientização e instrumentalização de colaboradores e da sociedade latino-americana sobre desperdício de alimentos, entre outros temas.

Transformação

Arquiteta e engenheira, Izabella Corrêa deixou de lado projetos e obras para se dedicar a uma paixão: levar a culinária saudável para o cotidiano das pessoas. Hoje, é conhecida como healthy chef. Ela conta que tudo começou durante um estágio em engenharia, em que tinha o hábito de levar marmitas saudáveis para almoçar, o que chamou a atenção de colegas. “Foi aí que surgiu a ideia de montar um cardápio para as pessoas que trabalhavam comigo e desenvolver as refeições de acordo com as preferências de cada um. As vendas tomaram uma proporção tão grande que em pouco mais de um mês abri uma empresa de refeições saudáveis congeladas. Daí em diante, me especializei na área de culinária saudável, fiz vários cursos em cozinha funcional, vegetariana, plant based e vegana.”

Atualmente, Bella Corrêa trabalha com nutrição aliada à culinária funcional e presta consultorias e treinamentos, individuais e em grupos, ensinando receitas e criando cardápios personalizados. “É possível usar ingredientes saudáveis, transformando os nossos hábitos diários. Entre os temas de workshops há 'summer salads', 'lanches práticos', 'refeições funcionais', 'sobremesas saudáveis'. Também ministro cursos e palestras, sempre abordando este tema em eventos corporativos, feiras, seminários e congressos.”

A alimentação plant based é um dos principais ativos da healthy chef, que também desenvolveu linha de sucos e sopas funcionais na temática. “Como profissional da nutrição, acredito que a nossa consciência quanto ao que comemos influencia não apenas na nossa saúde física, mas no nosso bem-estar emocional, comportamento e percepção do modo de agir e pensar.

Com o conceito de 'desembalar menos e descascar mais', a alimentação plant based vem conscientizando as pessoas sobre a importância de priorizar cada vez mais os alimentos in natura frente aos processados e industrializados. É uma das linhas alimentares que mais nos aproxima da natureza, extraindo o melhor que ela tem para nos oferecer, nutrindo o nosso corpo com uma grande variedade de alimentos.” 

 
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