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Tratamento personalizado reduz progressão do câncer de próstata

Enviada Especial

Barcelona – Pela primeira vez, pacientes de câncer de próstata avançado poderão se beneficiar da terapia-alvo, um tratamento que foca na mutação por trás da doença, provocando menos efeitos colaterais e atingindo resultados mais favoráveis. Esse tipo de medicamento é usado em alguns tumores de mama, pulmão e ovário, por exemplo, mas, até hoje, não existia intervenções personalizadas semelhantes para um subgrupo de homens que desenvolve a forma agressiva e, geralmente, letal do câncer de próstata.

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Apresentado no Congresso Esmo 2019, da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica, o estudo Profound foi recebido com entusiasmo pela comunidade científica. A boa recepção não é apenas porque o único tratamento disponível para o câncer de próstata avançado, a terapia hormonal, tem ação limitada, mas pelo fato de a nova terapia inaugurar uma era de medicina personalizada para pacientes com mutações genéticas.

“Podemos dizer que o estudo Profound certamente é uma mudança profunda na forma como entendemos e tratamos o câncer de próstata”, afirma o oncologista Paulo Lages, do Grupo Oncoclínicas/OncoVida. O médico, especialista em cânceres geniturinários, esteve presente no congresso e afirma que os resultados apresentados significam que a terapia padrão para o tumor de próstata causado por mutação genética vai mudar. “O que a gente tinha de melhor para oferecer a esse tipo de paciente era o bloqueio hormonal, mas podemos ver claramente que o impacto é muito maior quando se usa uma droga que tem como alvo o gene de reparo do que tratar, como a gente trata, um tumor de próstata convencional. Não há dúvidas de que é uma mudança na prática clínica.”

A substância é o olaparibe, droga desenhada originalmente para o tratamento de câncer de mama e ovário em mulheres com mutações no gene BRCA. Enquanto que a maioria dos pacientes de tumores de próstata desenvolve a doença esporádica, não associada a variações genéticas, de crescimento lento e, geralmente, com prognóstico avançado, até 25% sofrem de danos em uma série de genes, incluindo o BRCA.

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No estudo, feito com 387 homens com mutações e divididos entre os que receberam o olaparibe e o tratamento padrão, o medicamento oral reduziu em 66% a progressão da doença, comparado ao grupo do bloqueio hormonal. Enquanto os primeiros ficaram, em média, 7,4 meses sem que o câncer avançasse, entre os segundos, o tempo foi de 3,6 meses.

MAIOR SOBREVIDA 


Além disso, o estudo, liderado pelo Instituto de Pesquisa de Câncer de Londres, pela Fundação Royal Marsden NHS Trust da Inglaterra e pela Universidade de Nortwestern, nos Estados Unidos, mostrou aumento da sobrevida geral dos pacientes sob regime do olaparibe. Em média, eles viveram 18,5 meses com o medicamento, contra 15 meses observados nos homens tratados com bloqueio hormonal. Os autores notam, porém, que o impacto na sobrevida só poderá ser medido mais precisamente quando forem realizados estudos de acompanhamento de longo prazo.

“O câncer de próstata ficou atrás de outros tumores sólidos comuns no uso de terapia-alvo, por isso é tão empolgante que, agora, podemos personalizar o tratamento individual baseados em alterações genômicas específicas nas células cancerosas”, disse Maha Hussain, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Northwestern, em Chicago. O Profound incluiu pacientes com 15 tipos de mutações genéticas; os mais beneficiados foram aqueles com variantes nos genes BRCA1, BRCA2 e ATM.

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“Esse trabalho não apenas provou que a droga é superior ao grupo de controle (o bloqueio hormonal), mas demonstrou que o câncer de próstata pode ser tratado com uma abordagem alvo”, comentou o oncologista Ignacio Duran, pesquisador do Hospital Universitário Virgen del Rocío, em Sevilla. “Nem todos os pacientes de câncer de próstata têm os mesmos tumores, e essa é a primeira vez que conseguimos identificar mais precisamente a biologia molecular desses tumores. Isso vai determinar como os trataremos.”

O olaparibe está disponível no Brasil para tratamento de câncer de mama e ovário. Segundo o oncologista Paulo Lages, do Grupo Oncoclínicas/OncoVida, vai demorar até que os pacientes de câncer de próstata no país tenham acesso a esse tratamento. “Nós não temos aprovação para uso em tumor de próstata ainda. Temos de mudar a bula do remédio, e existe o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em que a droga tem de estar lá com essa indicação. Vai levar algum tempo, mas não há dúvidas de que ela vai impactar enormemente a vida dos nossos doentes.”

* A repórter viajou a convite da AstraZeneca


 
Mitos e verdades
 
Marcos Tobias Machado, professor de uro-oncologia da Faculdade de Medicina do ABC e responsável pelo setor de cirurgia robótica urológica no Hospital Brasil e rede D’Or,  responde mitos e verdades sobre o câncer de prostata:

1) Câncer de próstata não tem cura?
Mito. A maioria dos pacientes com este tipo de tumor pode ser curado ou ter uma sobrevida bastante longa. Existem três fatores importantes que definem o prognóstico do paciente:
– O estágio da doença, ou seja, se ela está localizada no órgão ou se já se espalhou pelo corpo.

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– O escore de Gleason, uma nota dada ao tumor pelo médico que examina microscopicamente a amostra da biópsia.
– Valor do PSA, que são moléculas produzidas pelas células da glândula prostática. O médico deve medir a concentração dessa partícula no sangue, para detectar câncer de próstata e até mesmo outras doenças.
Quando a doença está localizada no órgão e tem outros fatores de bom prognóstico, a chance de cura se aproxima de 90%, enquanto que uma doença que já se apresenta nos ossos, por ocasião do diagnóstico, tem menos de 5% de cura.

2) O câncer de próstata inicial não apresenta sintomas?
Verdade. O câncer de próstata não apresenta nenhum sintoma no início, o que torna a doença muito perigosa. O paciente deve sempre realizar a avaliação preventiva com exame de sangue PSA e exame de toque retal. Apenas em um estágio mais avançado pode causar sintomas de compressão da uretra, sangramento na urina e dor nos ossos.

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3) O câncer de próstata não atinge homens mais jovens?
Mito. O tumor pode atingir homens de todas as idades, embora, os que têm idade acima de 50 anos, são os mais propensos. No entanto, homens acima de 40 anos já podem iniciar a prevenção com a medição do PSA no sangue.

4) Exame de sangue não identifica se há tumor na próstata?
Verdade. O único exame capaz de identificar o tumor é a biópsia da próstata, por isso, a importância de conscientizar os homens da importância de realizar os exames.
5) Não tenho histórico familiar, não preciso fazer os exames.
Mito. Todo homem pode sofrer com o câncer de próstata. Evidentemente, homens que têm histórico na família precisam ficar sempre em alerta, mas todos, sem nenhuma exceção, devem fazer o exame uma vez por ano, principalmente a partir dos 45 anos para homens com histórico familiar ou negros, pois eles tendem a desenvolver o câncer precocemente. Para os demais, o exame é recomendado a partir dos 50 anos. Em casos especiais, o urologista pode solicitar que o paciente retorne em menos tempo para fazer o acompanhamento.

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6) Se diagnosticado terei de retirar a próstata por completo?
Mito. Antes de qualquer conduta médica, saiba que existem basicamente cinco modalidades de tratamento, sendo elas: cirurgia radical; radioterapia; observação; ablação com fontes de energia (HIFU ou crioterapia; tratamento medicamentoso: pode ser realizado com drogas que causam bloqueio hormonal ou com quimioterápicos.

7) O câncer de próstata é tabu?
Verdade. Este assunto ainda é um tabu para os homens, que normalmente se ocupam com o trabalho e não vão ao médico para prevenção. Outro fator negativo é o receio do exame de toque retal, o que com o passar dos anos e com uma boa explicação normalmente não tem sido um obstáculo à prevenção. Todo o esforço deve ser concentrado em trazer o homem para o consultório.

8) Os tratamentos para o câncer de próstata evoluíram muito nos últimos anos.
Verdade. Do ponto de vista da cirurgia, a plataforma Robótica é a maior inovação, permitindo redução da morbidade do tratamento com excelentes resultados na cura do câncer. Os aparelhos de radioterapia também evoluíram muito, sendo o tratamento planejado por tomografia, em que é possível aplicar maior energia no local da doença e da redução da dose em pontos críticos que causariam morbidade. O arsenal de medicações utilizadas também melhorou muito nos últimos anos, tanto em drogas injetáveis como em medicações orais de alta eficiência.  Todos esses fatos favoreceram um significativo aumento na sobrevida com melhora na qualidade de vida dos pacientes com CaP.

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