Uma história que, como milhares de outras, começa na infância, quando a menina gorda recebe apelidos nada simpáticos. “Sempre fui atacada pelo meu peso. Na escola, principalmente, o alvo era fácil. Apelidos como baleia assassina, orca, botijão de gás, sapão e outros eram comuns, mas nunca me irritaram profundamente. Já na adolescência, a questão de ficar dentro de um padrão estético foi além. Cheguei a fazer dezenas de regimes e nunca estava satisfeita com meu corpo. Na idade adulta, após uma grave anemia por conta de dietas malucas, a ficha caiu e percebi que já era hora de parar com tanta cobrança e me aceitar como sou.”
A fala é de Sílvia Neves, de 45 anos, manequim 46, cantora lírica e uma das modelos plus size mais reconhecidas do país, além de influencer body positive – movimento que prega a aceitação do corpo para além dos padrões de beleza vigentes.
No mercado fashion há 10 anos – período em que o conceito plus size passou a fazer parte da indústria da moda nacional com mais representatividade –, Sílvia vem acompanhando passo a passo o que considera uma revolução. “Buscamos incentivar principalmente as mulheres, público que sofre mais com a pressão estética, a se aceitarem e se amarem como são. Se quiserem mudar algo, que seja por elas e não para seguir um padrão que possa vir a machucá-las física e emocionalmente.”
Polêmica
Mas a discussão ainda promete pano pra manga. Isso porque, além de envolver questões de saúde, é alvo de polêmicas e haters – pessoas que espalham ódio no ambiente da web. Exemplo recente vem da atriz e cantora Cleo Pires, musa nas telas da TV, que ganhou quilos a mais e foi duramente criticada por isso.
Afinal, o que significa ser plus size no século 21? Pessoas acima do peso podem ser saudáveis? A indústria está mesmo interessada em acolher a demanda desse público ou as campanhas inclusivas não passam de marketing? Convidamos mulheres plus size, médicos e psicólogos para falar sobre o tema, de forma franca e sem tabus.
Ok, a moda está mais inclusiva. Ainda que, muitas vezes, as campanhas publicitárias sejam amparadas em estratégias de marketing, há, sim, uma abertura real do mercado para pessoas que vestem a partir do manequim número 44. Mas já reparou que mesmo as lojas de departamento ainda segmentam esse público? E o que dizer de equipamentos públicos como assentos de avião e dos ônibus?
É nesse sentido que ativistas e modelos fazem “campanha” a cada trabalho realizado, a cada aparição pública, no dia a dia. E foi assim que Karoline Mariana Ribeiro, de 28 anos, formada em arquitetura e urbanismo, manequim 46, percebeu que poderia, sim, trabalhar no mercado fashion. “A maior parte da adolescência me senti gorda e mal com meu corpo. Principalmente, porque, na época, era difícil encontrar roupas no meu manequim. Só mais tarde, já na faculdade, descobri que existiam modelos plus size e me identifiquei. Ali percebi que o fato de não me adequar ao físico e altura da maioria das meninas da minha idade não significava ser feia. Daí surgiu a ideia de me tornar uma modelo profissional, porque, até então, isso era algo inimaginável para mim.”
Entre os primeiros passos para a profissionalização, ela se inscreveu no Miss Brasil Plus Size. “Na época, há seis anos, não existiam agências de modelo que trabalhavam com esse segmento em Belo Horizonte. Ganhei o Miss Minas Gerais Plus Size no ano seguinte, e, a partir de então, trabalho profissionalmente como modelo. Como consequência de meu trabalho, comecei a influenciar a vida de várias mulheres 'fora do padrão'”.
Karoline, que também é influenciadora da autoestima plus size e cujo perfil no Instagram conta com mais de 84 mil seguidores (@karolribeiroplus), revela as principais evoluções em relação ao conceito e ao comportamento em torno dele por parte do mercado e da sociedade em geral.
“No Brasil, o conceito plus size começou a ganhar força há pouco mais de cinco anos. Por mais que já existisse antes, tudo o que se via era muito mais conservador, senhoril e não acompanhava as tendências mundiais.” Hoje, cita ela, estamos vivendo um momento em que os padrões convencionais têm sido redefinidos. “As minorias estão ganhando maior visibilidade e voz ativa. Como consequência, marcas inteligentes têm observado a demanda crescente no mercado e vêm começando a investir em publicidade com diversidade étnica, de biotipos físicos, de gênero etc.”
Body positive
Nesse caldeirão de abertura à diversidade e quebra de padrões, Karoline afirma que as mudança também são capitaneadas por movimentos como o body positive. “Ele surgiu da necessidade de defender que o nosso corpo vai muito além de um ornamento para ser admirado, mas, sim, um instrumento do próprio uso. Portanto, há uma preocupação em emponderarmos todas as pessoas, fazer com que entendam que são bonitas sem enxergar a beleza como algo que depende do peso ou do manequim. Além disso, reforçar que o próprio corpo é bom e não que está bom somente naquele momento, como algo efêmero ou passageiro.”
Muitas vezes rotulada como plus size, o que incomoda por nem sempre ser vista com o mesmo profissionalismo em comparação a uma modelo convencional, magra, Karoline lembra que o mercado ainda engatinha em relação ao reconhecimento às diferenças. “Na moda, ainda é uma área que está caminhando e crescendo para ser mais profissional. Ainda estamos bem amadores no Brasil, em comparação a países como os EUA, por exemplo.”
E vai além. “Há dificuldade de encontrar roupas bonitas, joviais e com preços acessíveis, porque, no geral, a moda plus size ainda é bem mais cara. Também há dificuldade em acessibilidade, por exemplo. Os assentos em ônibus e aviões, na maioria das vezes, não são pensados para a pessoa gorda, e quando há assento em voos, por exemplo, o gordo tem que pagar mais caro para ter acesso a esse assento. Portanto, a regra ainda parece ser a de um público segmentado e não algo que teria que ser um direito de quem precisa do 'benefício'.”
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Mauro Jácome, médico cirurgião-geral e
gastroenterologista especialista no tratamento à obesidade
“Obesidade é o acúmulo de gordura corporal. Existem inúmeras formas de detectá-la e o ideal é combinar algumas para um resultado completo. Além do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), em que se divide o peso pela altura elevada ao quadrado e resultado acima de 30 sugere obesidade, deve-se considerar, também, qual percentual desse peso corresponde à gordura, e qual corresponde à massa magra e órgãos, entre outros dados. A negligência à obesidade é grave, pois, além de se relacionar, em muitos casos, a efeitos negativos comportamentais e psicológicos, como a insegurança e a dificuldade de socialização, ela traz uma série de riscos para a saúde global, desde aumento da incidência de doenças cardiovasculares e do colesterol, gordura hepática, aumento do risco de câncer, maior propensão ao sedentarismo... Praticamente, todos os aspectos físicos ficam negativamente alterados, e a chance de surgimento das doenças aumenta muito. Tudo bem o indivíduo estar obeso e se aceitar. No entanto, deve saber que sua saúde está sob risco, mesmo com exames gerais momentaneamente bons, e tentar mudar a situação. Nesse caso, o amor-próprio é importante para que a pessoa tenha vontade de emagrecer, tente reduzir a gordura corporal. Lembrando que movimentos como o body positive promovem o estímulo à autoestima e ao amor próprio e não à manutenção da gordura corporal. Ele fala da aceitação do corpo, independentemente de como ele está, para que isso crie amor-próprio, e vejo isso de forma muito positiva, pois os principais casos de pessoas que conseguiram criar e manter um estilo de vida mais saudável são pessoas que aprenderam a se amar e se aceitar em primeiro lugar. Isso é um estímulo para que ela passe a se cuidar e deixe de se vitimizar.”
Entrevista:
Fabiana Cerqueira, psicóloga e psicanalistaA imagem no divã
Especialista explica porque a forma do próprio corpo e a do corpo alheio chama tanto a atenção
Por que a forma do próprio corpo e a do corpo alheio provoca tanto bafafá? Fabiana Cerqueira, psicóloga e psicanalista, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora de psicopatologia e psicanálise da Faculdade Ciências da Vida, aborda o tema na entrevista a seguir.
De que forma e quando o indivíduo começa a perceber o próprio corpo e a comparar a própria imagem aos padrões vigentes?
A percepção do nosso próprio corpo se dá desde a tenra idade. E como estamos numa época marcada pela imagem, isso se torna ainda mais acentuado. Crianças já interagem com a própria imagem desde muito cedo, uma vez que são fotografadas desde que nascem. Vemos, ainda, um material considerável de canais e páginas nas redes sociais feitos por crianças e direcionados para elas. Isso tudo as influencia. No mundo contemporâneo, há um padrão de imagem e também de comportamento que já circula como imperativo de construção subjetiva e de comportamento desde cedo.
Como essa imagem afeta a autoestima?
Os modelos e padrões estéticos interferem na nossa elaboração subjetiva. Na construção da identidade, de quem somos, do que queremos transmitir ao outro. De nossos comportamentos, na nossa maneira de pensar, vestir e até mesmo de comer. Mas essas inferências estão sempre na ordem do ideal. E ideal é algo que não alcançamos por completo. E se não tivermos uma boa cabeça para diferenciar o que é modelo-padrão, aquilo que eu gostaria de ser daquilo que tenho condições de ser, do que é satisfatório para mim, o que é do outro e o que pode ser meu, e que sempre existirá algo da não completude, da não realização completa, isso poderá nos atingir na nossa autoestima, com certeza.
Por que amar o próprio corpo/aparência costuma ser um desafio?
Porque isso significa amar não só o que satisfaz, mas também o que achamos que não está tão bom assim ou aquilo que não se encaixa no padrão vigente. É consentir com o seu corpo, aparência e estilo de vida, que inclui as mazelas, os defeitos. Nesse sentido, há um limiar que merece atenção: o que posso aceitar e o que posso melhorar dentro das minhas limitações. É aceitar também que não sou igual ao outro. É aceitar que não me encaixo num paradigma que vejo pela minha tela de celular diariamente, mas que posso beber naquela fonte da minha maneira. Isso inclui saber do seu equilíbrio.
O que é gordofobia?
É o preconceito contra as pessoas que estão acima do peso e fora do padrão vigente. Isso é despertado por um certo “asco” da imagem que se apresenta à nossa frente.
Como é possível lidar com a gordofobia?
Acredito que é uma construção que cada indivíduo, mulher ou homem, deva fazer. Muitas vezes, os plus sizes estão bem resolvidos consigo mesmos e sabem que esse preconceito está ligado a um padrão imposto pela sociedade. Mas penso ser importante se conhecer, saber de suas escolhas, de sua aceitação, da relação com sua imagem. Esses são pontos norteadores para ficar bem consigo mesmo e não se abalar com os preconceitos que vêm dos outros.
Duas histórias recentes e que merecem uma "análise": a grife Victoria Secret's, que considerou a modelo Bárbara Palvin plus size (o que parece uma tentativa frustrada de aplicar o marketing de inclusão). E o ganho de peso da atriz Cléo Pires, que foi alvo de comentários negativos na internet. O que pensa a respeito de cada caso, do ponto de vista da influência sobre o outro?
Primeiro caso: as marcas, de maneira geral, estão usando a diversidade social, de gênero, estética e racial como maneira de ampliar seus mercados e abrir o olhar para o que já tem aparecido de maneira espontânea nas redes sociais. Tem um movimento significativo no mundo comercial, em que o consumidor é quem está apontando o caminho. Isso é maravilhoso e, inevitavelmente, torna-se uma importante ferramenta de marketing. Porém, acredito que o consumidor entende quando isso é verdadeiro. No caso da Victoria's Secrets, fizeram uma tentativa, como você disse, frustrada, de acionar um novo jeito de apresentar o corpo da mulher. Isso só nos mostra como a diversidade, de maneira geral, está ganhando espaço necessário! Porém, neste caso, só fez aparecer a dificuldade da marca em se atualizar. Virou um bom material para eles repensarem seu posicionamento como marca para as mulheres e não para apenas um tipo de mulher. O segundo caso demonstra que esse terreno virtual, que é palco para as diversidades e também permite a manifestação, pode ser também cruel. Cléo Pires era considerada um modelo de mulher sexy, uma referência a ser seguida. E parece que frustrou esse imaginário, esse ideal vigente. Como se as pessoas pensassem: “Como o que eu quero ser passou a ser o que mais temo?” Algo assim...
Afinal, por que o corpo do outro gera tanto bafafá?
Porque o corpo é algo que nos é importante e também algo que nos faz questão. Sempre estamos às voltas com nosso corpo, é ele que “carregamos”, que nos representa, que nos é um tanto maleável, uma representação estética de nós mesmos. Difícil ficar indiferente a isso.
Há dicas para que a mulher de manequim plus size ou mesmo a mulher que está, de fato, acima do peso, dê conta de separar o que é marketing do que é realidade na questão da inclusão social e da autoestima?
Essa resposta passa por uma construção subjetiva de cada um. Essa resposta, esse jeito de lidar com o próprio corpo, com o outro, com o que vemos na internet é uma construção que vai passar pelo entendimento de cada um com sua história, seu olhar para si e para o mundo. E isso passa por um processo de conhecimento de si.
Por fim, o que é fundamental para a saúde mental diante da expectativa estética x realidade das próprias medidas, do próprio corpo e das características que, muitas vezes, não nos agradam diante do espelho?
Penso que se conhecer nesse processo com seu corpo é fundamental. Saber o que é um desejo seu e qual desejo que vem do outro; o que é importante para você e o que é um modelo transmitido pela mídia e internet. Saber de si para poder “navegar” por aí é o que pode deixar a pessoa bem orientada e não ser levada por padrões e seu estado emocional ser influenciado por isso. É entender esse limiar do que é meu, do que é do outro, do que posso mudar, do que devo aceitar. Não é fácil, mas possível.
Mercado em expansão
Um mercado que movimentou R$ 7,2 bilhões no país apenas no setor de vestuário, em 2018, e envolve um público superior a 110 milhões de pessoas (que usam manequim 46 ou maior), segundo dados da Associação Brasil Plus Size (ABPS). Como se vê, falar em realidade plus size no Brasil é sinônimo de números robustos, como destaca Marcela Elizabeth, jornalista especializada em gestão de negócios e inovação, fundadora e presidente da entidade criada em 2016 e que, hoje, reúne 38 empresas do setor entre lojistas, startups, pequenos e grandes players do mercado do vestuário e varejo.
“Temos empresas que confeccionam e comercializam tamanhos plus size há mais de 40 anos no Brasil. Afinal, sempre existiram pessoas que vestem numeraçãogrande. Mas apenas a partir de 2009 o termo vem sendo usado com mais frequência e o movimento, de fato, começou a se espalhar por meio de blogs, imprensa, eventos segmentados.”
Para além da possibilidade de incentivar e fomentar negócios no setor, Marcela afirma que a ABPS e as empresas que já investem no mercado plus size abrem caminho para a representatividade do público. E, consequentemente, para o resgate da autoestima de pessoas que, até há pouco, não eram percebidas como parte integrante do mercado. “Nosso objetivo é unir empresários, dar visibilidade ao setor, promover seu potencial gerador de emprego, renda, produto interno e de exportação. Além de promover pesquisas de mercado, hábitos de consumo e acompanhar e registrar o desenvolvimento setorial. Mas um dos mais importantes é empoderar esse público, o que passa, necessariamente, pela representatividade.”
Esforço que tem sido recompensado, frisa. “Nos últimos dois anos, temos visto, com muito mais frequência, a população plus size representada na TV, no cinema, na publicidade, em realities. Isso, além de empoderar as pessoas, também educa o olhar da sociedade para outros tipos de corpos e realidades. Quebra a estranheza em imagens que não se encaixam no que, até então, foi considerado padrão. E é esse tipo de movimento que, em um futuro que espero seja breve, vá tornar as diferenças mais aceitas, mais 'normais'.”
Expressão
Ela afirma, ainda, que em todo o mundo há um clamor pela inclusão de diversidades. E mesmo as marcas mais resistentes estão se rendendo às necessidades desse novo consumidor, que não quer mais apenas suprir sua necessidade de vestir, mas quer ter seus desejos atendidos. “Isso é maravilhoso, porque não há exclusividade da moda por ninguém. Todos somos consumidores e as empresas precisam enxergar o quanto antes essa demanda. Até porque, nós, consumidores, estamos cada vez mais exigentes e atentos.”
Provas vem de movimentos como o body positive e o body neutrality, que pregam a aceitação, independentemente de padrões. “É libertador saber que não estamos sozinhos. Aceitar seu corpo é o primeiro passo para desenvolver o autoamor, por ue a pessoa que se ama como é não está aberta a receber bullying, nem sofre pelo pensamento dos outros sobre ela.”
O que é padrão
Nutrólogo, o médico Guilherme Mattos lembra que a sociedade atual adota como padrão de beleza um corpo magro e com definição muscular. “Um corpo fora do padrão, portanto, é aquele que representa o oposto desse estereótipo, ou seja, uma pessoa gorda. Mas, é importante frisar: padrão não tem a ver com exames, nem IMC. Quando falamos de um corpo padrão, estamos falando daquele que a maior parte das pessoas considera o mais bonito, não que isso seja verdade, mas é aquele que mais aparece na TV e nas propagandas, nas revistas e desfiles de moda... Somos expostos a esse padrão mais vezes e acabamos o colocando em mente como o 'ideal', justamente porque ele nos é apresentado o tempo todo.”
Mattos afirma que a baliza para uma avaliação sobre a saúde dos pacientes vem de exames e não de padrões. Ainda que a maioria chegue ao consultório fora do padrão, com o objetivo de emagrecer ou ganhar massa muscular. No entanto, lembra que cada indivíduo é único. “É comum que a pessoa já venha com uma imagem em mente de algum artista ou influenciador digital e diz que quer ficar com o corpo daquela pessoa. É muito importante que o paciente entenda que ele pode chegar ao seu melhor, mas não virar outra pessoa. Todos podemos ter uma inspiração, mas não é saudável e nem possível que nos tornemos outra pessoa. Cada um tem suas limitações, inclusive físicas e fisiológicas, e objetivos de vida diferentes. É fundamental que cada indivíduo encontre o seu melhor.”
Nesse sentido, ele avalia com bons olhos a aceitação promovida pelos movimentos body positive e body neutrality. “A partir do momento em que a pessoa se ama e se aceita, ganha um grande estímulo para melhorar sua saúde e se cuidar. Estivemos por anos debaixo desse guarda-chuva social do padrão, até surgirem movimentos como body positive, conceito que promove o amor-próprio e um olhar positivo em relação à sua própria imagem e, também, à dos outros. A diferença está entre levar mais em consideração o que você espera do seu próprio corpo do que o que a sociedade espera de você.”
Mas, é preciso atenção. Segundo o nutrólogo, ter plena consciência das próprias características físicas e não sentir a obrigação de se encaixar em um estereótipo de beleza é libertador. Contudo, deixar que a gordura se instale no corpo de maneira indiscriminada, sem levar em consideração os limites do seu organismo para com esse processo inflamatório, pode significar perda de autocontrole, em vez de ferramenta de protesto. “É preciso, sim, aceitar seu corpo, mas colocar sempre a saúde em primeiro lugar. Portanto, se você estiver gordo demais ou magro demais e seus exames não mostrarem um equilíbrio saudável do funcionamento das células e dos órgãos, é hora de dar uma chance à ajuda médica para transformar a aceitação em processo de saúde e bem-estar.”
Confira referências de estilo
no mundo plus size!
Influenciadoras
» Ashley Graham
» Jú Romano
» Rita Carreira
» Aline Zattar
» Thais Carla
» Alexandra Gurgel
» Isabella Trad
Propagandas
» Calvin Klein, modelo plus size negra
» O Boticário, modelo plus size (@kamilacfaria) com Giselle Bundchen
» Adidas, modelo plus size @murielsegovia
» Campanha Arezzo, com @fluvialacerda, modelo plus mais famosa do Brasil
» Campanha Ana Capri, com @todebells.
A imagem do outro
A forma física da atriz Cléo Pires, que ganhou peso nos últimos meses, chamou a atenção de haters na internet. A postura foi rechaçada por ela, e também por fãs. Veja o que a modelo plus size Karoline Ribeiro pensa a respeito do episódio.
“Os ataques a Cléo Pires reforçam a ideia de que as pessoas não gostam de mudança. Quando você está magra sempre vai ter quem critique, da mesma maneira, quando você engorda. Nunca estarão 100% satisfeitos em como você está. Por isso, é importante adquirir consciência corporal e amor-próprio para não se importar com a opinião alheia.”
TRÊS PERGUNTAS PARA
Sílvia Neves, cantora lírica e modelo plus siz
1 - Quando você começou a atuar como modelo plus size? O que vê de positivo e de ainda negativo nesse "rótulo"?
Comecei como modelo há 10 anos e peguei bem o início de tudo aqui no país. Foi uma conquista construída aos poucos e enfrentando muitas barreiras e preconceitos. A parte positiva é que realmente criamos uma revolução a favor do corpo livre e real. Aceitação e incentivo a todos
para se aceitarem, independentemente do seu manequim, veio para ficar. O corpo gordo virou uma plataforma política e ninguém mais tira isso de nós. A parte negativa ou que ainda sonhamos é que não mais exista o termo "plus size" para segregar as pessoas e que cada um entre em qualquer loja e tenha suas numerações sem ter um departamento "exclusivo" ou separado. Afinal, não somos todos iguais? Pelo menos é por isso que lutamos.
2 - Além da segmentação na hora de comprar roupas, por exemplo, o que mais incomoda uma plus size? E o que já conquistaram?
Acredito que o que mais incomoda uma pessoa gorda é o prejulgamento quanto à sua saúde. Ela é taxada visivelmente pela sociedade, não importando se a pessoa é superativa em termos de exercícios físicos, tenha uma alimentação saudável ou exames em dia. Há muitos casos de gordofobia até entre médicos, que julgam que qualquer problema de saúde de uma pessoa gorda vem do seu excesso de peso. As conquistas vêm em cima da diversidade de corpos que já encontramos em toda mídia e também no reconhecimento da capacidade em qualquer setor de que o gordo pode fazer o que quiser.
3 - O que os movimentos body positive e body neutrality têm a ver com a realidade da plus size brasileira?
Tudo. Foi por meio de movimentos como esses que percebemos que podemos ser o que quisermos, e termos o corpo que quisermos. Na verdade, é mostrar que o corpo pode fazer tudo e não o que apenas ele aparenta. As brasileiras andam se aceitando mais, vejo isso em toda trajetória da minha carreira. Vale ressaltar que, nessa trajetória, quebrei outro padrão: fui eleita a primeira Miss Brasil Plus Size acima de 35 anos, num país em que ainda somos muito cobradas para que tenhamos uma juventude 'eterna'. O que também faz parte dos movimentos body positive e neutrality. Que sejamos felizes como somos e da forma que quisermos!