Ao perceber as preocupações e inseguranças de pais, que verbalizavam o medo de não se tornarem pessoas suficientemente boas e competentes na lida com crianças e adolescentes, Padre Alexandre Fernandes, pároco da Igreja Bom Jesus do Vale, no Vale do Sereno, em Nova Lima, idealizou o Seminário de Formação para Pais e Educadores. Assim, no próximo domingo, dia 3 de novembro, com o intuito falar sobre a educação dos jovens, necessidade dos pais imporem limites aos filhos, aumento de casos de depressão e suicídio na infância e na adolescência e a relação mundo real x mundo virtual, especialistas de diversas áreas se reunirão para um momento de orientação e partilha de conhecimentos, na Sala Minas Gerais, localizada na sede da Orquestra Filarmônica.
Também professor, Padre Alexandre ressalta que a discussão de temas que envolvem crianças e adolescentes, principalmente a relação deles com os pais, é fundamental no mundo de hoje. Para ele, é imprescindível que os pais sejam participativos no dia a dia dos filhos. “A presença na vida do filho pode fazer toda a diferença e, para muitos, isso depende da escolha efetiva de querer desempenhar esse papel e de realmente se desenvolver como ser humano. Portanto, a melhor forma de um pai ser mais presente na vida do filho é participando ativamente do seu crescimento, conhecendo sua rotina, aprendendo junto, descobrindo hábitos, virtudes, estímulos e sentimentos”, afirma.
Padre Alexandre ainda pontua a importância da parceria dos pais com a escola. “O papel de educar deve ser iniciado na família e se estender na escola, uma vez que os conceitos e valores que norteiam a criança durante a vida são transmitidos pelos pais. Se uma criança chega à escola, por exemplo, sem o discernimento entre o bem e o mal que proporciona o bom convívio, a atuação dos professores pode ficar comprometida, no sentido de precisar desenvolver a educação que deveria começar na família.”
O seminário, que será conduzido pelo padre, contará com as participações de Moninha Quintero, coordenadora estadual do Movimento Mães Que Oram Pelos Filhos, da teóloga e filósofa Milene Costa, do psiquiatra da infância e adolescência Felipe Guimarães, da psicológa Patricia Quaresma Ragone, da pediatra Filomena Camilo do Vale – carinhosamente conhecida como Dra. Filó – e do médico Rodrigo Carneiro de Campos, neuropediatra, membro do Departamento Científico (DC) de Neurologia Infantil da SMP e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (Abenepi).
Parceria entre pais e escola
Patrícia Ragone, fundadora da PQR Clínica de Psicologia e autora do livro “Laços – contribuições da terapia cognitiva para as relações familiares”, há muito se dedica ao treinamento de pais e educadores e defende que a comunicação clara entre pais e escola ajuda a resolver conflitos e viver em harmonia. “Construir uma ponte entre família e escola pode criar uma dinâmica gratificante com professores, pais e alunos. Realizar workshops regulares com os pais e professores, baseados na disciplina positiva, pode criar um impacto positivo. Não é a única solução, mas é o que acredito chegar mais próximo do ponto fundamental da crise educacional”, revela.
A psicóloga acredita que a parceria entre família e escola ajuda a criança a se preparar para a vida adulta. “Torna-se necessário, família e escola, para além de objetivos específicos, terem um objetivo comum: incentivar a autonomia do ser, para que possa saber pensar, inovar, criar, colaborar e agir de forma responsável”, finaliza.
Tecnologia x educação
Pediatra do CTI Infantil da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Filó é conhecida nacionalmente por suas pregações no Grupo de Oração da Bom Jesus do Vale, que são exibidas ao vivo, todas as terças-feiras, à partir das 20h00, no canal do YouTube do Padre Alexandre Fernandes.
A médica fala um pouco sobre como a tecnologia pode influenciar no convívio do adolescente com os pais. “A tecnologia é como uma faca : descasca uma laranja, mas pode matar. Hoje, diminuiu-se o tempo de convívio familiar, porque pai e mãe trabalham fora. Então os pais, com medo da violência urbana, acham que o filho está seguro em casa, no quarto dele, às vezes sob a responsabilidade de uma babá, e se esquecem que o filho está com o mundo em suas mãos”, diz. E completa: “nunca o ser humano foi tão isolado, tão só. Amigo virtual é muito bom porque, se ele é chato, é só deletar.”
Para Filó, a educação e o diálogo com as crianças devem começar cedo. “Pai e mãe são pai e mãe, não amigos dos filhos. A gente vai aprendendo a ser pai. A educação de um filho começa desde que ele nasce. Na infância e adolescência precisam mais dos pais, mas a educação é para a vida toda. A ação dos pais é decisiva. Pai tem que ser referência para seu filho, não o youtuber. Mãe tem um instinto que não falha. Autoridade não é autoritarismo, os pais precisam ter coragem, por exemplo, de dizer ao filho que pede privacidade que ele só vai ter privacidade quando for dono dele mesmo”, finaliza.
Equilíbrio e limites
Já o neuropediatra Rodrigo Carneiro revela que é essencial o uso consciente das novas tecnologias. "Vamos abordar de forma bastante objetiva como hábitos saudáveis de vida e uso racional das tecnologias, impactam positivamente no comportamento e desenvolvimento dos nossos filhos", afirma.
O médico afirma que o cérebro humano foi formatado para a aprendizagem no mundo real e que o uso desregrado das telas tem-se traduzido na impaciência, dificuldade de socialização, no aumento dos transtornos comportamentais, da depressão e de casos de suicídio.
Rodrigo Carneiro entende que a transparência na relação pais e filhos é fundamental nos dias de hoje, em que as facilidades da realidade virtual se instalou na vida das crianças e adolescentes. "A família é a base do crescimento, educação e desenvolvimento humano. Quando os pais têm segurança e confiança nas condutas e na promoção de hábitos saudáveis de vida, a convivência familiar passa a ser mais produtiva, prazerosa e feliz. O pertencimento faz parte da essência humana."
O médico arremata sua fala com um dado de extrema importância: “Criança vive de exemplo!”. Para ele, o equilíbrio no uso das novas tecnologias deve começar pelos pais, sendo de grande valia para a construção de um indivíduo sadio e feliz que a limitação da exposição às tecnologias tenha como contrapartida a valorização das atividades em família, priorizando a convivência familiar, além da prática de esportes de forma regular, leitura e atividades ao ar livre.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares
Serviço
Seminário para pais e educadores
3 de novembro, domingo, das 13h às 20h30
Sala Minas Gerais – Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto
Inscrições : https://bit.ly/2ouaqhs ou na Secretaria da Igreja Bom Jesus do Vale (Rua Dimas Henrique de Freitas, 378, Vale do Sereno – Nova Lima)
Informações: (31) 3441-5942