Com o passar das gerações, as famílias numerosas foram ficando cada vez mais enxutas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média atual de filhos por mulher é de 1,77, e a estimativa é que esse número diminua para 1,66 até 2060. Alguns fatores da vida moderna – e cada vez mais corrida – entram em jogo na hora de pensar em ter filhos, mas o planejamento familiar está entre os primeiros itens da listinha dos millennials.
Os preparativos para a chegada do bebê começam bem antes da própria gestação. Alimentação, rotina de exercícios e acompanhamento médico são levados a sério: tudo para ter certeza de que ambos os pais estão prontos – e saudáveis. Para isso, é estipulada até uma continha matemática: 90 dias antes da concepção %2b 280 de gravidez 730 dos primeiros dois anos de vida.
Esse conceito surgiu a partir de um programa criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010. “Batizado 1.100 dias, ele foi desenvolvido para a promoção da saúde da gestante, o estímulo ao aleitamento materno, entre outras ações no combate à desnutrição”, explica o ginecologista Eduardo Borges da Fonseca, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Novas evidências científicas colaboraram para a ampliação desse ciclo e, assim, botaram na conta os três meses que antecedem a gravidez.
O especialista indica que, ainda na fase do planejamento, uma das recomendações é estar em dia com a balança. “Nem magra demais, nem com excesso de peso”, destaca. Os extremos levam a uma maior dificuldade para engravidar porque desregulam a produção de hormônios, essenciais para a fecundação.
Assim, são três os passos primordiais para quem quer engravidar:
1. Saúde em dia – “Poucas pessoas têm a oportunidade de almoçar em casa, não sobra muito tempo para se dedicar à alimentação equilibrada, com espaço para adotar a recomendação do consumo diário, que é de 200 a 400 gramas de vegetais”, lamenta o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). É por essas e outras que os cardápios não contemplam uma quantidade satisfatória de substâncias preciosas para quem deseja engravidar. O especialista destaca alguns dos mais importantes: ácido fólico, ferro, zinco, vitamina B12, vitamina D, cálcio e ômega-3. A mulher deve ter reservas apropriadas para que o organismo não sofra depleções na gestação e para garantir que o filho cresça saudável.
2. Cuidados do pai – Quando se tem a intenção de aumentar a família, o futuro papai pode e deve ir em busca de hábitos mais saudáveis. Para começar, estudos apontam que se munir de um bom aporte de nutrientes favorece a fertilidade. O zinco é um dos principais integrantes nesse contexto – sua deficiência afeta as taxas de testosterona. Há indícios, também, de que a suplementação favoreça a contagem de espermatozoides. A sinergia com outros nutrientes, caso da vitamina E e do selênio, reforça ainda mais essa atuação.
3. Vitamina D – “Diferentemente de diversos micronutrientes essenciais, que devem vir exclusivamente por meio da alimentação, a vitamina D é fabricada no nosso organismo e obtida, em sua maior parte, via luz solar”, explica o ginecologista e obstetra Luciano de Melo Pompei, livre-docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade de Medicina do ABC. Por isso, para aumentar a imunidade e garantir a saúde da gestante e do bebê, é recomendado, antes e depois da gestação, reservar uns minutinhos diários para tomar sol.
três perguntas para...
eduardo borges da fonseca
ginecologista e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
1 Quais são os cuidados recomendados nesse período pré-gestação?
É crucial zelar para que em toda essa temporada não faltem vitaminas, sais minerais e tantas outras substâncias. Afinal, trata-se de um tempo em que as intervenções benéficas tendem a ser mais eficientes, causando maiores impactos e deixando marcas futuras.
2 Sobre a alimentação: quais são as indicações?
A ciência ressalta a importância do equilíbrio entre os nutrientes nessa fase tão especial. Ainda que aumentem as necessidades dos macronutrientes, isto é, de proteínas, carboidratos e gorduras, não há grandes acréscimos no total de calorias. Deve haver um balanço harmonioso, sem excessos ou escassez.
3 Quais são os principais benefícios do planejamento para o mãe e para o bebê?
Com bom aporte nutricional, ganha o bebê, que vai ter à sua disposição o melhor e mais especial alimento. Além disso, ele aproveita os benefícios desses nutrientes como nunca. É como se o bebê formasse uma espécie de “poupança de saúde”. Já a mamãe fica longe do risco de desnutrição e mantém o organismo protegido.