Jornal Estado de Minas

Medicina do Futuro

Robótica: mais segurança para os pacientes



Diminuição do tempo de internação, maior precisão e um resultado altamente positivo. Nos últimos anos, a inclusão da robótica nos procedimentos médicos tem contribuído cada vez mais não só para a melhora mais rápida do quadro geral dos pacientes, como também para a qualidade de vida dos médicos.




 
Embora ainda seja incipiente no Brasil – limitando-se a hospitais particulares e a alguns poucos públicos, especialmente no Rio e em São Paulo –, nos países desenvolvidos a inteligência artificial movimenta um mercado gigante – cerca de US$ 4 milhões por ano – com previsão de fechar 2020 com negócios da ordem de US$ 6,5 milhões.
 
Segundo Daniel Bonomi, coordenador do Serviço de Cirurgia Robótica da Rede Mater Dei de Saúde, professor de cirurgia do tórax da Faculdade de Medicina da UFMG e chefe do Departamento de Pneumologia e Cirurgia do Tórax do HC/UFMG (biênio 19/20), as novas tecnologias têm sido mais comumente empregadas no Brasil desde 2008.
 
Os robôs permitem agregar valor às cirurgias proctológicas, torácicas, urológicas, ginecológicas, oncológicas, entre outras - Daniel Bonomi, coordenador do Serviço de Cirurgia Robótica do Mater Dei (foto: Arquivo pessoal)
 

AGREGAM VALOR Entre os benefícios da robótica na medicina, o especialista aponta a ampliação de imagens em até 20 vezes, maior segurança do procedimento, altíssima qualidade na definição de planos anatômicos, melhor visualização dos tecidos (em 3D), redução do tempo de hospitalização, maior conforto para o cirurgião, menos dor, menos sangramentos e, consequentemente, uma melhor recuperação do paciente. “Sem dúvida, os robôs permitem agregar valor às cirurgias proctológicas, torácicas, urológicas, ginecológicas, oncológicas, entre outras”, explica.




 
“Tumores de pulmão, de intestino, próstata, estômago, útero, ovário. São inúmeras as possibilidades e as incisões não ultrapassam 8 milímetros.” Na Rede Mater Dei, o sistema robótico foi adquirido em 2017, agregando valor às cirurgias. “Outra vantagem do robô é que ele elimina os tremores das mãos do cirurgião, que porventura ocorram em determinados procedimentos, além de permitir que o especialista fique sentado, reduzindo o cansaço, comum em cirurgias mais longas.”

SUCESSO Antônio José da Matta, de 71 anos, é de Muriaé, na Zona da Mata mineira, e recorreu à cirurgia robótica depois que recebeu o diagnóstico de um tumor na traqueia. Em janeiro de 2018, logo após ter sofrido um infarto e implantado um stent e um marcapasso, ele apresentou um quadro de pneumonia. Ao fazer mais exames (tomografia), descobriu que tinha um nódulo na traqueia.
 
Bernardo Pace, do Hospital Vera Cruz, diz que a Google tenta agora construir um robô que tenha %u2018tato%u2019 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
 
 
A partir daí, no meio do ano, ele se submeteu a exames de bronquioscopia em Muriaé e foi detectado um carcinoma na carina da traqueia (espécie de saliência que acentua a bifurcação dos brônquios). Foi recomendado a ele que fizesse mais exames em BH e decidiu-se pela cirurgia por robótica.




Em novembro do ano passado, Antônio fez a cirurgia, com grande sucesso. Segundo uma de suas filhas, Micaela, ele não teve nenhum efeito colateral e sempre monitora a traqueia por meio de exames, além de continuar o tratamento pós-infarto. “A gente ficou muito feliz, porque não foi um procedimento invasivo, ele foi muito bem atendido e está ótimo.” Antônio é casado e tem três filhos.

Treinamento dos médicos exige perícia

Essa mesma tecnologia tem permitido, inclusive, o treinamento de várias equipes de médicos. Bernardo Pace é o coordenador do Serviço de Urologia e do Serviço de Robótica do Hospital Vera Cruz. Ele também é professor da disciplina de urologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e coordenador do Departamento de Urologia e Transplante Renal da FCMMG.
 
O Hospital Vera Cruz e outros dois hospitais – Felício Rocho e Vila da Serra – fazem parte de um programa da Fundação Lucas Machado (Feluma), ligada à FCMMG. No caso do Vera Cruz, a parceria, que começou este ano, é acadêmico-científica e já possibilitou quase 1.700 cirurgias, com destaque para a prostatectomia radical robótica, a nefrectomia radical ou parcial, gastrectomias e hepatectomias. “A primeira cirurgia robótica de câncer de próstata, realizada pelo SUS em Minas, foi em abril deste ano, no Vera Cruz. Os alunos de pós-graduação da faculdade, inclusive, têm acesso aos equipamentos de robótica do hospital”, acrescenta.




 
Bernardo diz que multinacionais como o Google, a Medtronic, a Johnson & Johnson, Hyundai, Honda, entre outras, têm investido maciçamente em tecnologia. Ele aponta como um dos grandes ganhos da robótica na medicina a preservação funcional do paciente. “Efeitos deletérios da cirurgia aberta, como a incontinência urinária, por exemplo, não são mais registrados. É possível preservar a ereção em pacientes com diagnóstico de câncer de próstata”, comenta.
 
“Além disso, a robótica permitiu o nivelamento de especialistas em um patamar mais alto, já que um cirurgião brasileiro opera um robô da mesma forma que um médico do Hospital Johns Hopkins, um dos mais conceituados do mundo.”

IMERSÃO O treinamento para as cirurgias de robótica é complexo, envolve 40 horas intensivas de prática, a simulação e o acompanhamento de procedimentos cirúrgicos, além de aulas presenciais em hospitais de referência, especialmente nos Estados Unidos.
 
Quanto ao futuro, Bernardo diz que ainda é difícil precisar o alcance da robótica na medicina, mas acrescenta que empresas, como o Google e outras associadas, tentam agora desenvolver o ‘tato’ nos robôs. “A partir daí, os robôs serão capazes de sentir a consistência das estruturas, dos tecidos, como acontece em uma cirurgia aberta.”